Cabe a nós resolver nossos problemas
ASTOLFO
O. DE OLIVEIRA FILHO
aoofilho@gmail.com
De
Londrina-PR
Das
histórias que Hilário Silva reuniu para compor seus dois livros – A vida escreve e Almas em desfile – psicografados pelos médiuns Waldo Vieira e
Francisco Cândido Xavier, há uma que expressa bem o que muitas pessoas buscam
encontrar valendo-se do Espiritismo.
Trata-se
do caso José Cardoso, o confrade que insistia, nas sessões mediúnicas de que
participava, em buscar ajuda dos mentores espirituais para a descoberta de
tesouros ocultos.
A
região em que morava fora sede de mineração. Ali haviam sido descobertas arcas
antigas e caldeirões recheados de pepitas e moedas. Devia haver, portanto,
segundo pensava Cardoso, muito ouro escondido.
A
cobiça era disfarçada com o uso de um argumento conhecido: com o tesouro
encontrado seria possível realizar muitas obras caritativas.
Segundo
o relato de Hilário, o amigo José Cardoso era persistente e não perdia ocasião
de propor ao mentor do grupo questões voltadas para aquela ideia, que se lhe
tornara obcecante.
O
leitor pode imaginar a dificuldade dos mentores espirituais em tratar com
semelhantes pessoas. Como responder ao confrade sem causar constrangimento,
desapontamento e decepção?
Evidentemente,
alguém mais sensato poderia ter lembrado a Cardoso e aos componentes do grupo o
que nos ensina a questão 533 d´O Livro
dos Espíritos, adiante reproduzida:
533. Podem os
Espíritos fazer que obtenham riquezas os que lhes pedem que assim aconteça?
“Algumas vezes, como prova. Quase sempre, porém,
recusam, como se recusa à criança a satisfação de um pedido inconsiderado.”
A
iniciativa não foi, porém, tomada, o que motivou o mentor do grupo, quando o
assunto veio novamente à baila, a dizer-lhe:
–
Meu irmão, fique tranquilo. Sua petição é bem inspirada. Sua intenção é
construtiva. Indicaremos caminho para um tesouro no chão.
Ao
ouvir semelhantes palavras, a pequena assembleia se assustou, receando
estivesse ocorrendo uma mistificação. José Cardoso estava, porém, contente.
O
mentor então explicou:
–
Cardoso, busque o seu quintal. Além do pátio empedrado, depois da cozinha, você
vê todos os dias grande mancha de terra escura, que a tiririca está envolvendo.
Cave lá, meu amigo.
José
Cardoso anotou cuidadosamente a orientação e no outro dia, pela manhã, começou
a cavar, e cavou até ficar exausto. Para seu desapontamento, não encontrou
sinal nenhum de tesouro escondido.
Na
reunião mediúnica seguinte, ele interpelou o mentor espiritual, que lhe
explicou que ele cavara muito bem e que o caminho da riqueza estava pronto. E,
diante da curiosidade geral, acrescentou:
–
Plante na cova rasgada um pé taludo de laranjeira, regue-a e trate-a com amor
e, em breve, você terá o tesouro que procura, porque uma laranjeira, Cardoso, é
princípio de um laranjal...
*
A
lição contida na história relatada por Hilário Silva é bem sutil, mas serve de
advertência para todos os que esperam encontrar no Espiritismo a solução para
os seus problemas de ordem material ou espiritual.
Nos
casos de obsessão, é muito comum a família depositar
a pessoa perturbada na Casa Espírita e aguardar, de braços cruzados, sua cura.
Os
mentores espirituais inspiram-nos, ajudam-nos, estimulam-nos, mas é bom que
lembremos que nós é que estamos encarnados e, portanto, a nós compete resolver
os problemas advindos de nossa presença neste plano.
Transferir
aos protetores espirituais a tarefa que nos pertence é um equívoco lamentável
que não se sustenta em nenhum dos ensinamentos contidos na doutrina codificada
por Kardec e desenvolvida, entre outros, por Léon Denis, Gabriel Delanne,
Emmanuel, Joanna de Ângelis e André Luiz.
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