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sexta-feira, 22 de maio de 2020



O Espiritismo perante a Ciência

Gabriel Delanne

Parte 10

Continuamos o estudo do clássico O Espiritismo perante a Ciência, de Gabriel Delanne, conforme tradução da obra francesa Le Spiritisme devant la Science.
Nosso objetivo é que este estudo possa servir para o leitor como uma forma de iniciação aos chamados Clássicos do Espiritismo.
Cada parte do estudo compõe-se de:
a) questões preliminares;
b) texto para leitura.
As respostas às questões propostas encontram-se no final do texto abaixo. 

Questões preliminares

A. Que disse Charles Richet a respeito do sonambulismo?
B. Quem primeiro se ocupou da doutrina que seria mais tarde chamada de hipnotismo?
C. Em seus primeiros anos, que é que os cientistas procuravam por meio do hipnotismo?

Texto para leitura

251. Chegamos, agora, ao relatório de Husson, sobre as experiências magnéticas feitas pela comissão da Academia de Medicina, durante três anos, e lido nas sessões de 21 a 28 de junho de 1831. Nele descobriremos um terceiro caráter do sonambulismo: a previsão do futuro.
252. A comissão se reuniu no Gabinete de Bourdois no dia 6 de outubro, ao meio-dia, hora em que chegou Cazot. Foissac, o magnetizador, tinha sido convidado a vir às doze e trinta; ele ficou no salão, sem Cazot o saber e sem nenhuma comunicação conosco. Delanne descreve, na sequência, como se desenvolveu a experiência e, no final, diz que a previsão de Cazot não foi rigorosa, absoluta, mas condicional.
253. O Doutor Husson define perfeitamente o papel do sonâmbulo na previsão. É o de um espectador que examina o jogo dos órgãos de uma máquina e percebe que, em dado momento, produzir-se-á um acidente. Neste exemplo, a alma afirma-se independente do corpo, pois que julga, calcula, raciocina, e indica exatamente as crises que se realizarão em um tempo muito afastado.
254. Deve-se convir que o preconceito está profundamente enraizado no coração humano, porque esses fatos se produzem há um século, claramente, não isolados, mas na Europa inteira, e ainda se encontram sábios, pouco ciosos do seu nome, que ridicularizam tais práticas e lhes chamam simples imposturas charlatanescas.
255. Os casos que relatamos têm, entretanto, tanta autenticidade como qualquer fenômeno físico ou químico. Sábios de primeira ordem, uma comissão da Academia, proclamaram a verdade e o caráter científico desses estudos; eis por que nos assiste o direito de afirmar que temos em mãos a prova experimental da existência da alma.
256. Quando se vê um homem ou uma mulher em sonambulismo, isto é, em um estado tal que as mais violentas ações físicas são incapazes de lhe produzir a menor impressão; quando se verifica que este ser, que se acreditaria morto, vê, ouve o magnetizador, designa os objetos colocados atrás de si; indica o que se passa, não só na casa, mas também a grande distância, como duvidar que reside nele um agente que não obedece às leis da matéria, como recusar a evidência?
257. Esse indivíduo, no qual os órgãos sensoriais são inativos, tem uma percepção mais viva, mais nítida que em estado ordinário; prevê os acidentes que hão de sobreviver no curso de sua doença; enfim, dá todos os sinais de uma atividade intelectual mais intensa, mais penetrante que a dos assistentes. Francamente, perante esse conjunto esmagador de provas, diremos que é impossível negar a alma.
258. Bersot entende de modo diverso e pretende explicar os fatos maravilhosos que verificamos, mas não nega o sono sonambúlico: “No magnetismo animal o que parece incontestável é o sono, a insensibilidade e a obediência ao magnetizador. Não falemos da insensibilidade, que é um fato comum; o sono é artificial e não é menos real por isso; só há que discutir o artifício.”
259. Declara ele não acreditar na vista através dos corpos, mas não tem repugnância em admitir a comunicação de espírito a espírito, embora não creia que ela se estabeleça entre magnetizador e sonâmbulo, porque, diz ele, quando a alma está no corpo, só se pode comunicar sob certas condições físicas, que não se desprezam à vontade.
260. Com efeito, se quisermos, no estado normal, ler o pensamento de outrem, haveria alguma dificuldade na operação, apesar de ter Cumberland dado provas de que isso não é impraticável. Mas, no caso em foco, o sonâmbulo se acha em estado especial, com a alma desprendida, ou menos ligada ao corpo, o que lhe permite a radiação à distância, a clarividência.
261, As objeções aos fatos do sonambulismo são, como as de Bersot, muito frágeis. Entretanto, de duas uma: ou o fato existe ou não existe. Se existe, cabe ao investigador imparcial o trabalho de o verificar cuidadosamente e trazer argumentos plausíveis, em vez de meras negações que sobre nada repousam; se ele não existe, é inútil, então, discutir.
262. A despeito de todas as críticas, fiquemos, porém, com Charles Richet: – “Desde 1875, os numerosos autores que se deram ao estudo do magnetismo tiraram todos, sem exceção nenhuma, a conclusão de que o sonambulismo é um fato indiscutível.”
263. Há alguns anos fala-se muito, nos hospitais e no mundo médico, de um novo estado nervoso chamado hipnotismo. Definamos primeiro o que se entende por esta palavra. Se um paciente fixa durante algum tempo um objeto brilhante, de vidro ou metal, colocado acima da fronte, a fadiga nervosa que resulta dessa tensão do olhar produz, insensivelmente, um sono particular, caracterizado pela insensibilidade total ou parcial que se manifesta em todo o corpo, pela tendência a conservar a posição que se dá aos membros, e por uma dupla vista análoga à que determina o magnetismo.
264. Quem primeiro se ocupou desta doutrina foi o abade Faria, que teve como continuadores o General Noizet e o Dr. Bertrand. Em 1841, Jenner Braid, cirurgião em Manchester, a princípio muito cético, acabou por descobrir, na fixidez prolongada do olhar, a causa dos fenômenos que tinha visto produzidos por um magnetizador francês, o Sr. Lafontaine.
265. Ele tentou demonstrar que nem um fluido nem a vontade eram comunicados pelo operador ao paciente, e que tudo se passava no cérebro deste. Em 1843, publicou uma obra intitulada A Neuripnologia, onde expunha suas vistas sobre o estado produzido pelo esgotamento nervoso. Essas pesquisas tiveram pouca repercussão; o trabalho de Braid é, entretanto, assinalado pela primeira vez por Carpenter, em 1849, na Enciclopédia de Tood. Em França, só em 1855 é que o dicionário de Robin e Littré o mencionaram, e a obra do médico inglês só foi traduzida para a língua francesa em 1883, pelo Doutor Jules Simon. (1)
266. Azam, professor na Escola de medicina de Bordéus, tinha, contudo, em 1859, reproduzido com êxito algumas experiências descritas por Braid, e o doutor Broca comunicou o resultado delas à Academia de Medicina, nesse mesmo ano. Desde então, foi lançada a nova ciência e dela começaram a ocupar-se.
267. Como não se procurava nessa época, no hipnotismo, senão um meio de provocar a anestesia, reconheceu-se, desde logo, que era difícil mergulhar os doentes no sono nervoso, por causa da emoção que causa sempre a expectativa de uma operação grave.
268. Foi em vão que, em 1866, o Doutor Durand de Gros publicou, sob o pseudônimo de Philips, um curso teórico e prático do Braidismo. Essa obra, as conferências públicas e as conferencias interessantes feitas pelo autor em Paris e em algumas grandes cidades deixaram o mundo médico hostil ou indiferente.
269. É preciso chegar-se ao ano de 1875, para se encontrarem novas pesquisas na matéria. Foram elas empreendidas por Charcot, Bourneville, Regnard e Paul Richer, seus discípulos. Eles operaram em histéricas, na Salpêtrière.
270. Eis, sucintamente, os resultados a que chegaram:
1º - O doente é colocado diante do foco de uma lâmpada de Drummond ou em face de um arco voltaico; pede-se-lhe que fixe os olhos nessa luz viva e, ao fim de algum tempo, que pode variar de alguns segundos a alguns minutos, ele entra em estado cataléptico, caracterizado pelos seguintes sintomas: o olhar fixo e muito aberto, o corpo em insensibilidade completa, os membros na postura que se lhes queira dar. A comunicação com o Mundo exterior é interceptada; ele não vê e não ouve mais nada. Circunstância notável a assinalar é que a fisionomia reproduz, fielmente, a expressão do gesto. Se dá ao corpo uma atitude trágica, imediatamente o rosto toma uma expressão dura; se, ao contrário, se lhe aproximam as mãos dos lábios, como para enviar um beijo, logo o paciente apresenta um ar sorridente. Podem-se variar ao infinito as causas que constituem o que se chamam sugestões. Esse estado cataléptico dura o tempo em que a retina estiver influenciada pelos raios luminosos.
2º - Se suprimir bruscamente o foco de luz, apagando-o, velando-o, ou fechando as pálpebras do doente, verifica-se, instantaneamente, uma alteração no estado do hipnotizado. A catalepsia cessa; se o doente estiver de pé, cai de costas, com o pescoço para frente. Fica ele, então, numa espécie de sonolência particular, que Charcot chama letargia, e que não passa do verdadeiro sonambulismo. A rigidez dos membros desaparece, os olhos se fecham. Salvo a anestesia, que continua completa, nenhum dos antigos caracteres subsiste. Se o chamam, o paciente dirige-se para o observador, apesar de ter os olhos fechados. Podem fazê-lo ler, escrever, coser... Nesse estado, responde, com mais precisão que de comum, às perguntas que se lhe fazem; a inteligência parece mais desenvolvida que na vida habitual.
271. É útil lembrar que Braid fez experiências sobre esse estado particular, e que, em 1860, aditou a seu livro um curioso relato. O médico inglês não crê nos fluidos magnetizadores; atribui tudo que descreve à grande sensibilidade dos sentidos. Diz que os hipnotizados, não doentes, de forma alguma histéricos, podem, tendo os olhos fechados, escrever, desenhar, descobrir objetos ocultos, designar os indivíduos a quem esses objetos pertencem, ouvir uma conversa em voz baixa, num aposento vizinho, enfim, predizer o futuro.
272. Esses fatos se assemelham aos do sonambulismo magnético, tanto mais quanto o paciente não conserva a menor lembrança do que disse ou fez durante o sono hipnótico.

(1) Neuripnologia, segundo o Dicionário Aulete, significa: s. f., estudo dos estados hipnóticos; teoria nervosa do hipnotismo.

Respostas às questões preliminares

A. Que disse Charles Richet a respeito do sonambulismo?
Richet, com toda a sua autoridade de cientista, autenticou esse fenômeno e é dele a seguinte declaração: “Desde 1875, os numerosos autores que se deram ao estudo do magnetismo tiraram todos, sem exceção nenhuma, a conclusão de que o sonambulismo é um fato indiscutível”. (O Espiritismo perante a Ciência, Segunda Parte, Cap. III – O sonambulismo magnético.)
B. Quem primeiro se ocupou da doutrina que seria mais tarde chamada de hipnotismo?
Foi o abade Faria, que teve como continuadores o General Noizet e o Dr. Bertrand. Em 1841, Jenner Braid, cirurgião em Manchester, a princípio muito cético, acabou por descobrir, na fixidez prolongada do olhar, a causa dos fenômenos que tinha visto produzidos por um magnetizador francês, o Sr. Lafontaine. Foi assim que tudo começou. (Obra citada, Segunda Parte, Cap. IV – O hipnotismo.)
C. Em seus primeiros anos, que é que os cientistas procuravam por meio do hipnotismo?
Procurava-se então um meio de provocar a anestesia, mas logo se viu que era difícil mergulhar os doentes no sono nervoso, por causa da emoção que causa sempre a expectativa de uma operação grave. (Obra citada, Segunda Parte, Cap. IV – O hipnotismo.)

Observação:
Para acessar a parte 9 deste estudo, publicada na semana passada, clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2020/05/o-espiritismo-perante-ciencia-gabriel_15.html




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