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sábado, 8 de agosto de 2020



Esmola e julgamento

JORGE LEITE DE OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
De Brasília-DF

Assisti, no último domingo, à palestra on-line de Carlos Campetti, que teve a iniciativa de interagir com o público assistente, como vem ocorrendo nas palestras do seu irmão e nosso amigo Geraldo. As perguntas populares nem sempre foram feitas com base no tema que estava sendo desenvolvido, mas nosso confrade espírita a todas respondeu com grande sabedoria e no tempo previsto.
Um assunto muito bem explanado pelo expositor foi o da esmola. Ele disse que não devemos julgar o que o pedinte vai fazer das moedas que lhe dermos. Deixemos isso por conta de Deus.
Em seguida, explicou-nos que o ideal seria que ninguém precisasse esmolar para sobreviver. Se pudéssemos oferecer oportunidade de emprego com remuneração razoável, isso seria o ideal. Infelizmente, porém, não é o que, em geral, acontece.
Passou então a contar um caso ocorrido com Cecília Rocha, então vice-presidente da Federação Espírita Brasileira (FEB), desencarnada há poucos anos, aos 93 anos de idade. Numa de suas viagens de ônibus, com alguns confrades, a serviço da Doutrina Espírita, por um bom tempo, a conversa entre eles versou sobre o tema esmola. Era consenso entre os confrades que não se deveria dar esmola e, sim, trabalho remunerado às pessoas. Pois há quem faça do pedido uma forma de alimentar seu vício...
Quando chegaram ao fim da viagem e desembarcaram, depararam-se com um menino pobremente vestido que lhes estendia as mãos e pedia dinheiro para comprar alimento. Cecília não teve dúvida, abriu sua bolsa, retirou dali alguns trocados e os deu à criança, que se retirou feliz e agradecida. Ante o espanto de todos, explicou:
— Devemos atender quem pede ajuda sem nosso pré-julgamento. Pois uma coisa é oferecermos trabalho remunerado a um necessitado que estamos sempre encontrando; outra coisa é socorrermos quem nos pede esmola na rua que, provavelmente, nunca mais veremos. Não nos cabe julgar ninguém. Auxiliar sempre.
A lição estava dada. Ajudar primeiro. Deixar a Deus o julgamento.
N'O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. 16, intitulado "Não se pode servir a Deus e a Mamom", o Espírito Fénelon termina com esta frase: "A todos os que podem dar, pouco ou muito, direi: dai esmola quando for preciso, mas, tanto quanto possível, convertei-a em salário, a fim de que aquele que a receba não se envergonhe dela".
Infelizmente, em nosso egoísmo, esquecemos a primeira parte da recomendação do elevado Espírito Fénelon e, presos às conveniências, por vezes, alegamos que não devemos dar esmolas a ninguém, sob as mais descaridosas alegações:
— Estou vendo que o pedinte é um "bebum". Se eu lhe der uns trocados, ele vai para o bar se embriagar.
— Soube que muita gente faz da esmola uma profissão, então não vou alimentar a preguiça.
— Os Espíritos superiores nos aconselham a dar trabalho, não esmola. Não quero humilhar ninguém...
— Jesus recomendou-nos não dar esmolas diante de outras pessoas, por isso, outra hora, quando ninguém estiver vendo... — E nunca mais socorre o necessitado.
Tudo isso não passa de pretexto para tentar justificar nossa omissão de socorro aos nossos irmãos que nos rogam auxílio. Pior ainda é quando, tendo a palavra, numa reunião pública, utilizamos essas tristes deduções para aconselhar os ouvintes a não darem esmolas.
Em primeiro lugar, se sabemos que a pessoa é alcoólatra, por que então não tentamos libertá-la do vício? Depois, o que a pessoa faz do auxílio recebido é entre ela e Deus e não entre nós e ela. Quanto ao oferecimento de emprego, quem de nós tem essa condição? Pouquíssimos. Sobre a recomendação do Cristo, o que Ele condena é o exibicionismo e a hipocrisia...
Em Santo Antônio do Descoberto, GO, levávamos, mensalmente, uma cesta básica a um rapaz, ainda jovem, chamado Daniel, que, segundo soubemos, vendia a cesta básica para comprar cachaça. Tempos depois, deitou-se sobre mesa de bar e não mais se levantou. Entretanto, já estava frequentando e participando de nossas orações.
Era doente da alma e, como tal, o grupo o socorria sem prejulgamentos. Lembro-me de que, ao fim da última reunião em que participou conosco, na atual existência, pedimos a alguém que encerrasse o encontro com uma oração. E o Daniel, em prece comovida do Pai Nosso, acompanhada por todos, em voz alta, elevou seus pensamentos a Deus e nos emocionou.
Nos casos citados, lembramos o conselho de Jesus: "Não julgueis, porque com a mesma medida que julgardes sereis julgados".  Se pudermos, ofereçamos a oportunidade de trabalho remunerado a quem nos pede auxílio. Mas como isso ainda é utópico, na sociedade atual, auxiliemos primeiro e jamais julguemos.
Concluímos com a frase abaixo, atribuída a Chico Xavier:
— "Uma das mais belas lições que tenho aprendido com o sofrimento: Não julgar, definitivamente, não julgar a quem quer que seja".





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