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sábado, 23 de janeiro de 2021

 



O Homem Reformador

 

JORGE LEITE DE OLIVEIRA

jojorgeleite@gmail.com

De Brasília-DF

 

Encontrei, dia desses, à noite, um senhor com uma máquina fotográfica antiga nas mãos, que me perguntou se eu não gostaria de ser fotografado por ele. Respondi-lhe que, atualmente, qualquer celular moderno é capaz de tirar fotos incríveis. Por esse motivo, agradeci-lhe a proposta e já me afastava sorrindo, quando ele me pediu mais um minuto de atenção. Estávamos em frente à Federação Espírita Brasileira.

Como não gosto de ser mal-educado com ninguém, prontamente, voltei-me e disse-lhe que ficasse à vontade para dizer-me algo mais que desejasse. Ele se apresentou dizendo simplesmente chamar-se Augusto e quis saber meu nome. Tão logo me identifiquei, ele cumprimentou-me pelo meu esforço em divulgar o Espiritismo, à luz dos ensinamentos do Cristo, mas que eu tivesse prudência, pois não faltam aqueles que se dizem espíritas, porém não têm qualquer escrúpulo em atacar seus irmãos de ideal e a Casa de Ismael, fundada há 137 anos.

— É verdade, respondi-lhe, mas se os ataques forem pessoais, não me incomodo. Devo satisfação à minha consciência apenas, pois é nela que está inscrita a Lei de Deus. Só não admito que ataquem uma instituição que há tantos anos divulga o Consolador prometido por Jesus. Mas... como me conhece? perguntei-lhe.

— Leio, toda a semana, suas crônicas e todos os seus artigos publicados na revista Reformador, respondeu-me ele. Em seguida, contou-me sua história.

— Eu — disse-me o até então estranho homem da máquina fotográfica — era totalmente indiferente às questões religiosas. Ateu, não acreditava no que diziam as religiões, que, para mim, não passavam de criações humanas que tinham o objetivo de explorar a ignorância do povo. Até o dia em que fui convidado a assistir a uma palestra espírita, na Sociedade Acadêmica Deus, Cristo e Caridade, situada na rua da Alfândega, nº 120, no Rio de Janeiro. O que ouvi do expositor deixou-me curioso. Então, o amigo que me levara lá aconselhou-me a ler as obras de Allan Kardec, cujo estudo despertou-me a curiosidade de experimentar as teorias, que me deslumbraram. Passei a frequentar todas as reuniões, li sofregamente as obras da codificação, então traduzidas, assisti às sessões mediúnicas, e comprovei as grandes verdades que ignorava: a imortalidade da alma, sua manifestação após a morte do corpo físico, o corpo espiritual, chamado perispírito, a existência de Deus e a felicidade como meta de cada ser humano, criado para o aperfeiçoamento eterno.

Algum tempo depois, com os próprios recursos, no dia 21 de janeiro de 1883, lancei o primeiro número de uma das mais antigas revistas espíritas do mundo, à qual dei o nome de Reformador. Tornei-me membro da Comissão Confraternizadora da Sociedade Acadêmica Deus, Cristo e Caridade e, em 2 de janeiro de 1884, com o apoio e incentivo de minha sogra, dona Maria Baldina da Conceição Batista, e minha esposa, dona Matilde Elias da Silva, também espíritas, reunimo-nos com os Srs. Francisco Raimundo Ewerton Quadros, Manoel Fernandes Figueira, Francisco Antônio Xavier Pinheiro, João Francisco da Silveira Pinto, Romualdo Nunes Vitório, Pedro da Nóbrega, José Agostinho Marques Porto e inauguramos, definitivamente, a Federação Espírita Brasileira, que, nos primeiros anos, tanto quanto o periódico Reformador, tinham por endereço minha residência e local de trabalho, situada no segundo andar da rua da Carioca nº 120, no Rio de Janeiro.

Então, percebi que falava com o Espírito Augusto Elias da Silva, nascido em Portugal e desencarnado no Brasil, na então capital do país. E, tanto quanto aquelas pessoas abnegadas que a ele se uniram, para dar início à monumental obra de difusão do Espiritismo, sofreria calado os mais fanáticos ataques que a nova Revelação prometida por Jesus teria de suportar.

Foi ele que buscou Bezerra de Menezes para exercer sua missão de união dos espíritas, segundo o Espírito Humberto de Campos (cap. 23 de Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho). Foi ele que, com os recursos modestos de sua profissão de fotógrafo, sem ambições de destaque, sem títulos acadêmicos, mas profundo estudioso do Espiritismo, pôs em prática a máxima "Fora da caridade, não há salvação", proposta por Allan Kardec no cap. 15 d'O Evangelho Segundo o Espiritismo.

Antes que Augusto Elias da Silva se despedisse de mim, deixou-me este recado:

— Jorge, não se preocupe com os que atacam a FEB, muitas das vezes escrevendo meia dúzia de laudas com mais erros do que em quaisquer das obras com centenas de páginas, publicadas pela casa que tem por divisa: "Deus, Cristo e Caridade". Eles passarão, como tantos outros já se foram, mas a Federação Espírita Brasileira, cuja direção suprema está nas mãos do Cristo, continuará sua missão sem revidar aos ataques daqueles que não sabem o que fazem, como disse Jesus em relação aos seus algozes. Oremos também por eles.

Agradeci-lhe o conselho e prometi-lhe que continuarei firme e humilde em meu posto, até quando Deus e Jesus o permitirem. E, a mim mesmo, fiz a promessa de jamais responder a qualquer ofensa pessoal e muito menos à nossa Casa querida, pois sua direção está muito acima de nós, os seus pequeninos colaboradores.

  

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