Figueira seca
JORGE LEITE DE OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
De Brasília-DF
Narra-nos Marcos que Jesus e seus apóstolos saíam de Betânia,
pequena vila nas cercanias de Jerusalém, quando o Senhor teve fome. Ao avistar
a distância uma figueira coberta de folhas, dirigiu-se para ela, desejoso de
colher figos para seu alimento. Ao se aproximar e ver que a figueira só tinha
folhas, amaldiçoou-a com as seguintes palavras:
"— Ninguém jamais coma do teu fruto"(Marcos,
11:14).
Chegando a Jerusalém, Jesus entrou no templo e viu que
diversos comerciantes de pombos e cambistas ali estavam exercendo seus
negócios. Imediatamente, o Senhor derrubou mesas e cadeiras dos comerciantes,
expulsou-os do templo e disse-lhes:
"— Não está escrito: 'Minha casa será chamada casa de
oração para todos os povos?' Vós, porém, fizestes dela um covil de
ladrões!" (op. cit., 11:17).
Na tarde desse dia, afastaram-se de Jerusalém e voltaram a
passar pela figueira, que agora estava completamente seca. Observado por Pedro
que a árvore amaldiçoada estava morta, Jesus disse aos discípulos que o
acompanhavam o que parafraseio abaixo:
— Se tiverdes fé em Deus, tudo o que pedirdes vos será
concedido (id., 11:22, 24).
Nas coisas mais simples, se temos fé em Deus, Ele nos
atende. Dois exemplos: Há algumas semanas, amigo meu, que gosta de correr, saiu
de casa, acompanhado da esposa, para realizar sua corrida semanal. Ainda no carro,
viram que começara a chover, quando ele brincou com a esposa, que já tentava
dissuadi-lo do exercício:
— Fique tranquila, o sol brilhará novamente. E, intimamente,
rogou a Deus uma pausa da chuva, para que seu exercício pudesse ocorrer sem
prejuízo de sua saúde.
Quando chegaram ao local, já não chovia. A luz solar voltara
suave, e meu amigo fez sua corrida tranquilo e feliz.
Por favor, não riam, leitores amigos. Antes, leiam até o
fim...
Na semana seguinte, o tempo estava bom...
Duas semanas após a primeira, voltaram a sair de casa, com
destino àquele lugar, no final da tarde. O dia estava frio, e já chovera
bastante. Após algum tempo, o sol voltara, e a esposa do amigo já combinara com
este a ida ao local, às 16h. Mas ambos se envolveram em suas atividades diárias
e só puderam sair de casa às 17h, então, com o céu nublado.
O local é espaçoso, com cerca de 12.000 m² murados. Ali
existem um centro espírita, aos fundos, e diversas edificações
socioassistenciais à frente. No caminho para lá, começou a cair uma chuva fina.
Preocupada, Maria, sua esposa, disse a meu amigo:
— Veja, já está chovendo. Não vai dar para você correr.
Ele nada lhe respondeu.
Chegando ao local, desceram do carro, mas a chuva fina ia e voltava.
Preocupada com a saúde do esposo, Maria pediu-lhe que não corresse. Ele olhou
para cima e viu algumas nuvens negras exatamente onde estavam, embora voltasse
o chuvisco. Maria entrara para o primeiro bloco, onde coordena trabalhos de
assistência social, e agora, durante a pandemia do coronavírus, só vai lá,
principalmente, nos fins de semana, quando não há ninguém ali.
Antes de entrar, a mulher reforçou o apelo ao marido para
não correr no pátio, pois não demoraria a chover fortemente. Ele olhou para o
céu de nuvens escuras, mas lembrou-se das palavras de Jesus:
"— Se tiverdes fé como um grão de mostarda, direis a
esta montanha: transporta-te
daqui para lá, e ela se transportará. E nada vos será impossível" (Mateus,
17:20).
Após essa recordação, o amigo olhou para as nuvens negras,
que já derramavam seu choro sobre a terra, e propôs aos Espíritos
encarregados dos fenômenos da Natureza:
— Eu preciso dar dez voltas aqui, que é o mínimo que corro
para atingir pouco mais de 6 km. Até lá, por favor, em nome de Deus, suspendam
a chuva forte. Depois disso, podem mandar chuva à vontade. E começou sua
corrida abaixo da garoa que caía suavemente, refrescando seu corpo. Alguns
espaços locais permaneciam secos.
Terminado o exercício, 40 minutos após, sem que o chuvisco
aumentasse, chamou Maria, que já concluíra seu trabalho. Ao entrarem no carro,
ele mentalizou:
— Agora, sim, pode chover fortemente. Então, atendendo ao seu pedido, a chuva veio com força.
O leitor e a leitora que têm fé, ao lerem isto, dirão:
— Foi Deus que atendeu
ao pedido de Jó...
O leitor que diz ter fé, mas também tem muita dúvida, dirá
que este sonhador é um pretensioso. O ateu rirá e dirá que tudo isso não passa
de coincidência.
Por minha vez, eu fico com Deus e seu Filho unigênito, Jesus
Cristo, que coloca a fé como conditio sine qua non para alcançar uma
graça, por menor que esta seja.
Apenas uma condição precisa ser atendida: não ser figueira
seca.
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