A fatalidade e suas nuanças
ASTOLFO
O. DE OLIVEIRA FILHO
aoofilho@gmail.com
De
Londrina-PR
O
tema fatalidade continua sendo uma incógnita para muitas pessoas, mesmo no seio
dos espiritistas.
Afinal,
há ou não fatalidade nos acontecimentos da vida? Os fatos de nossa existência
estão ou não previamente marcados?
Ambas
as perguntas foram objeto de explicações dadas com clareza na primeira obra de
Allan Kardec, considerada por muitos como a mais importante do Espiritismo, ou
seja, O Livro dos Espíritos.
No
tocante à fatalidade, dois aspectos devem ser considerados.
Se
a imaginarmos como sendo a decisão prévia e irrevogável dos sucessos da vida, a
resposta é não. Essa decisão prévia – que as pessoas associam à palavra
fatalidade – não existe. Com efeito, se tal fosse a ordem das coisas, os homens
não passariam de máquinas, que, como sabemos, não têm vontade própria. De que
lhes serviria a inteligência, desde que houvessem de estar invariavelmente
presos, em todos os seus atos, à força do destino?
Semelhante
doutrina, se verdadeira, equivaleria à destruição de toda liberdade moral. Não
haveria para o homem responsabilidade e, por conseguinte, nem mérito ou
demérito naquilo que fizesse.
Se,
contudo, entendermos a fatalidade como sendo um plano geral definido pela
própria pessoa antes de reencarnar, uma resultante do gênero de vida que
escolheu, como prova, expiação ou missão, aí então pode-se dizer que a
fatalidade não é uma palavra vã, porquanto a pessoa sofrerá, no decurso da
existência corporal, todas as vicissitudes que ela mesma escolheu e todas as
tendências boas ou más que lhe são inerentes.
Cessam,
porém, aí os efeitos da fatalidade, como fruto da chamada programação
reencarnatória, porque depende do indivíduo – e somente dele – ceder ou
resistir às mencionadas tendências e influências. Quanto aos pormenores dos
acontecimentos, ficam eles subordinados às circunstâncias que a própria pessoa
cria por meio de seus atos. Só para exemplificar: - Se o indivíduo opta pela
via do crime, terá de sofrer todos os percalços decorrentes disso; se se
entrega à bebida e se torna um alcoólatra, enfrentará os dissabores e as
enfermidades decorrentes desse vício.
Resumidamente,
podemos então afirmar que há fatalidade, sim, nos acontecimentos que se
apresentam, por serem estes consequência da escolha que o Espírito fez de sua
existência como homem, mas pode deixar de haver fatalidade no resultado de tais
acontecimentos, visto ser possível a ele, por sua prudência, modificar-lhes o
curso. Jamais, contudo, haverá fatalidade nos atos da vida moral, ou seja, o
crime, o suicídio, o abandono da prole, a traição, o adultério e tudo o que diz
respeito à conduta da pessoa não têm nada que ver com a escolha feita por ela
antes da imersão na carne.
Finalizando,
lembremos que, segundo o Espiritismo, fatal, no verdadeiro sentido da palavra,
só o instante da morte o é. Chegado esse momento, de uma forma ou doutra, a ele
não podemos furtar-nos. É, portanto, aí que o homem se acha submetido, em
absoluto, à inexorável lei da fatalidade, uma vez que não pode escapar à
sentença que lhe marca o termo da existência nem ao gênero de morte que haja de
cortar a esta o fio. Os casos de moratória constituem, é fácil compreender,
meras exceções a essa regra.
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