CINCO-MARIAS
Infância e consumo
EUGÊNIA PICKINA
eugeniapickina@gmail.com
Falseando a verdade,
a maioria dos homens prefere antes parecer a ser. Ésquilo
Os pais contemporâneos têm uma missão: proteger os filhos do consumismo
desenfreado.
A criança aprende pela observação, pelo exemplo. O que esperar de uma
menina que presencia, desde os primeiros anos, os pais passarem as noites
hipnotizados pela televisão, os sábados dedicados ao shopping, ao mercado, a praga do consumismo a dirigir o destino da
família?
Quando ensinamos as crianças a associarem felicidade a promessas
consumistas, infelicidade será inevitável na vida delas quando forem adultas.
Mães nas escolas me perguntam o que devem fazer para a criança parar de
pedir o tempo inteiro “mãe, você compra?” Simplesmente explico a elas que os
pais precisam assumir, através de atitudes e exemplos, que brincar e não
comprar deve preponderar na infância. Brincar, por isso, demanda a criança
deixar de lado TV, tablets, smartphones, videogames…
Hoje a comunicação mercadológica dirigida às crianças está nos mais
diversos espaços de convivência, e a infância vem sendo cada vez mais
adulterada para tornar-se hedonista, destituída de sua inocência.
Choca-me o fato dos adultos indiferentes à criança maquiada, a infância
encurtada pelo batom vermelho, botas metalizadas, sandália de salto; o pobre
menino de sete anos adicto à tecnologia…
Causa-me terror pais exibirem suas filhas em concurso de beleza,
pavimentando, na infância, e por arbítrio, a via que sulcará o vazio do
coração. Para o adolescente, mais atraente a compensação no consumo de drogas…
Pais, avós, escola, todos têm que estimular na criança, além do amor,
noções claras sobre o consumo, abrindo-lhe de modo progressivo, repetido, as
texturas das diversas ações, simples e cotidianas, implicadas com a
responsabilidade social e a cidadania.
Algum tempo atrás vi crianças, juntamente com seus pais, limpando uma
praça de bairro em Campinas, recolhendo o lixo, atendendo as plantas. Os pais
estavam a exemplificar aos filhos uma atitude ambiental muito importante, o
tipo de ação que evitará no futuro os excessos do egoísmo, da competição, da
ganância…
Sempre digo aos pais: se você adora passear com seu filho em shoppings, não lhe cause espanto no
futuro ele se tornar um adulto invejoso, ressentido por não possuir mais e mais
bens materiais. No entanto, se você se ocupar em apresentar a seu filho, desde
o prelúdio da vida, outros tipos de bens – os valores imperecíveis – e somar
isso com exemplos diários embasados na responsabilidade social, na preservação
ambiental, sem negligenciar a dimensão espiritual, ele certamente terá mais
chance de se tornar um adulto resiliente, feliz, consciente de que a vida,
deste lado de cá, exige consciência, respeito e cuidados, como a luz de cada
dia.
Notinha
Infância e consumo exigem atenção por parte dos pais. Sexualidade
precoce e desajustes familiares são efeitos da excessiva exposição à
publicidade, e também distúrbios comportamentais e nutricionais, como a
obesidade, a anorexia. Em palavras simples, o atual ambiente obesogênico se
caracteriza pelo crescimento mundial de alimentos ultraprocessados, motivado
por estratégias de marketing desenvolvidas por indústrias multinacionais, que
investem fortemente na divulgação desses produtos para crianças e adolescentes.
Segundo o Instituto Euromonitor, o Brasil ocupa o segundo lugar entre os
países com maior consumo de produtos infantis até 10 anos. Uma pesquisa do
Instituto Alana mostra que as crianças brasileiras já influenciam 80% das
decisões de compra de uma casa. E não apenas em relação a brinquedos, mas
também na lista do supermercado e até em modelos de carros.
Pais responsáveis necessitam iniciar a regulação dentro de casa,
investindo na educação dos filhos estruturada na responsabilidade social, na
preservação ambiental (economia de água, reciclagem etc.) e no protagonismo
político, sem negligenciar a parte espiritual. Principalmente dar às crianças a
certeza de que são amadas por Deus, que Deus vive nelas, que Jesus está dia a
dia conosco, inspirando nossas (boas) lutas e esperanças.
*
Esta seção, cuja estreia neste blog ocorreu no dia 6 de janeiro deste
ano, traz sempre textos dedicados à infância, seus cuidados, sua educação. O
título – Cinco-marias – é uma alusão a um conhecido brinquedo
que integra um conjunto de brincadeiras e
atividades lúdicas conceituadas como Patrimônio Cultural da Humanidade.
Eugênia Pickina é educadora ambiental e terapeuta
floral e membro da Asociación Terapia Floral Integrativa (ATFI), situada em
Madri, Espanha. Escritora, tem livros infantis publicados pelo Instituto
Plantarum, colaborando com o despertar da consciência ambiental junto ao Jardim
Botânico Plantarum (Nova Odessa-SP).
Especialista em Filosofia (UEL-PR) e mestre em
Direito Político e Econômico (Mackenzie-SP), está concluindo em São Paulo a
formação em Psicanálise.
Ministra cursos e palestras sobre educação ambiental
em empresas e escolas no estado de São Paulo e no Paraná, onde vive.
Seu contato no Instagram é @eugeniapickina
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