Os
pronomes nossos e o amor de theós
JORGE
LEITE DE OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
De
Brasília, DF
Amigo
leitor, há algum tempo penso nas questões linguísticas, como a que ocorre
atualmente, em que algumas pessoas, indo na contramão da linguística e da
gramática, tentam impor a troca de letras em nomes, para caracterizar “gênero”
neutro, que não existe na língua portuguesa. Isso é confirmado pelos professores
mais abalizados do que eu. Parece que aquelas pessoas não estudaram processo de
formação de palavras, diacronia, sincronia etc. Por que, então, não trocam o
português pelo esperanto (língua internacional)? Com certeza, por ser essa uma
língua inventada por Luís Lázaro Zamenhof, seu problema estaria resolvido. Nesse
idioma artificial, existe o gênero neutro. Além disso, ele resolveria o
problema de toda a humanidade, pois todos falaríamos uma só língua.
Recebi
um texto interessante, com o qual concordo, em que seu autor, entre outras
coisas, com muita sensatez, diz o seguinte:
A linguagem do “todes” e do “iles” [...]
é antes de tudo um erro de português [...] usar o feminino e o masculino é um
requisito fundamental do português, idioma oficial do Brasil e, mais do que
tudo, a língua que o povo brasileiro fala no seu dia a dia, de maneira livre,
natural e sem nenhuma imposição vinda de cima ou de fora (GUZZO, J. R. A farsa
da linguagem “neutra”. In: Gazeta do povo. Disponível em: https://www.gazetadopovo.com.br/vozes/jr-guzzo/a-farsa-da-linguagem-neutra/?#success=true.
Acesso em 2 jun. 2022).
Nem neologismo aguenta essa imposição à
língua, que evolui naturalmente. Do que também não gosto, mas respeito os que
pensam diferente, é de destaques propostos pela Igreja a termos referentes à
divindade, que adquiriram cidadania na língua portuguesa. Maria, Jesus e Deus,
com certeza, não se sentiriam diminuídos se lhes escrevêssemos os pronomes,
advérbios e adjetivos como estão previstos nas regras gerais da nova
ortografia portuguesa. Vejamos, por exemplo, a origem da palavra Deus, em
português, após citar seu elemento de composição derivado do grego theós, oû,
que em português originou te(o)- e formou diversas palavras, como teologia:
“Estudo das questões referentes ao conhecimento da divindade, de seus atributos
e relações com o mundo e com os homens, e à verdade religiosa”; teosofia:
“Conjunto de doutrinas religioso-filosóficas que têm por objeto a união do
homem com a divindade, mediante a elevação progressiva do espírito até a iluminação”
(Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa) etc.
Excetuadas as palavra Pai e Senhor, Mãe e
Senhora, que, por tradição, são escritas com maiúsculas iniciais, ao se referirem
as primeiras a Jesus e a Deus, e as segundas a Maria, será que Deus, nosso Pai,
ficará bravo comigo por eu dizer que ele é bom, é a inteligência
suprema, Pai amoroso que, com seu amor divino,
tudo prevê e provê? Esse mesmo caso de referências pronominais, adverbiais e
adjetivais aplica-se a Jesus e Maria.
Àqueles
que discordam de mim, cito duas bíblias que, na língua portuguesa, não destacam
pronomes, advérbios e adjetivos relativos à divindade. Uma é a Bíblia
Sagrada traduzida por João Ferreira de Almeida, 4. ed. revista e corrigida.
Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 2011; a outra é a Bíblia de
Jerusalém, 3. ed. São Paulo: Paulus, 2004. Daquele a quem Jesus nos
ensinou ser nosso Pai só emana amor e luz.
Senhor,
de ti me despeço, tu que és o todo-poderoso criador do céu
e do universo. De ti, tudo deriva, inclusive estas palavras, que
também se aplicam a Cristo e a Maria, santíssima mãe de Jesus. É
profanação o que escrevo? Espero que não. Sendo tu o amor maior,
Senhor meu Deus, dedico-te o poema abaixo, certo de que nenhuma palavra
é suficiente para exaltar-te a grandeza divina. Por fim, peço-te
me abençoe e ilumine na colheita dos frutos provindas de ações maiúsculas. E
que este teu filho insignificante possa um dia resplandecer na tua
sublime luz como nos recomendou o Cristo.
O T DE THEÓS
O t
de Deus não deve ser maiúsculo,
ele é
t simplesmente, mas não T
que esteja
destacado ao se escrever
pronomes
te, ti, todo, tudo e tu.
Entretanto
o seu t está em tudo:
tanto
ele é totalmente senciente,
quanto
ele é plenamente onisciente;
tanto
sou deus, como também és tu...
Pois
Deus está também no próprio átomo:
tem t
nos prótons e tem t nos nêutrons,
tem t
na eletrosfera e, entre os elétrons,
o
Espírito Divino está no vácuo.
Ali,
do microscópico finito,
nada
é vazio ao t de nosso Pai,
porque
o criador em tudo está,
sua
vontade vai ao infinito.
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