CINCO-MARIAS
Agressão verbal na infância deixa marcas
EUGÊNIA PICKINA
eugeniapickina@gmail.com
O filósofo Kierkegaard me ensinou que cultura é o caminho que o homem percorre
para se conhecer. Manoel de Barros
Se somos pais, é muito importante que tenhamos cuidado com o que dizemos
aos nossos filhos. Examinar, no dia a dia, nossa comunicação com as crianças e,
especialmente, a maneira como apontamos suas falhas e erros.
É sabido que a infância é um momento muito crítico da etapa evolutiva. O
sistema nervoso e o cérebro são muito vulneráveis a qualquer estímulo oriundo do ambiente, ou seja, tudo o que acontece no exterior
influencia a criança de um modo ou de outro.
O abuso verbal na infância afeta duramente a autoestima das crianças.
Ataque direto ao sentimento de mais-valia, a agressão por meio das palavras é,
sem dúvida, a forma mais frequente de violência (ou de abuso psicológico)
sofrido pela maioria das pessoas na infância.
Comparar uma criança à outra ou dizer a ela “você é burra” pode não
parecer grave, principalmente quando os pais se justificam usando o
infeliz argumento da perda de paciência. Ora. Essa “pedagogia violenta” deixa
marcas na criança, sobretudo porque normalmente é dita de maneira recorrente.
Além disso, quando rotulamos uma criança de “burra”, ela facilmente
acreditará que é incapaz ou pior que outras crianças – sejam os irmãos em casa
ou os colegas na escola.
Os pais, ou quem educa a criança, precisam no dia a dia gerenciar
adequadamente as próprias emoções, procurar atuar com empatia e, com esforço,
aprender a se comunicar de forma positiva com as crianças, considerando com
atenção e respeito sua autoestima. Desse modo, através de uma comunicação
baseada em um amor generoso, as crianças crescerão nesse ambiente e, de maneira
natural, aprenderão a amar, entender e fazer felizes uns aos outros.
Notinhas
Em geral, abuso verbal é definido pelo “uso excessivo da linguagem para
minar a dignidade e a segurança de alguém através de insultos ou humilhações,
de forma súbita ou repetida”. Pode ocorrer de muitas formas, seja por insulto
direto, comentários grosseiros, palavrões, insinuações negativas repetidas ou
coisa semelhante. É certo que categorizar algo como abuso verbal pode ser mais
difícil do que com outros tipos de abuso. Mas a chave para reconhecer o abuso
verbal reside nos conceitos de “debilitar a dignidade”.
Anos atrás, atendi uma mãe e um de seus filhos, que estava tendo
dificuldades de sociabilidade na escola. Descobri que a própria mãe sofrera
abuso verbal quando criança. Ela estava tomando medidas proativas com seus
filhos para garantir que isso não fosse transmitido para as gerações vindouras.
Ela procurava criar crianças que entendessem o que significa tratar o outro com
dignidade e respeito.
*
Eugênia Pickina é educadora ambiental e terapeuta
floral e membro da Asociación Terapia Floral Integrativa (ATFI), situada em
Madri, Espanha. Escritora, tem livros infantis publicados pelo Instituto Plantarum,
colaborando com o despertar da consciência ambiental junto ao Jardim Botânico
Plantarum (Nova Odessa-SP).
Especialista em Filosofia (UEL-PR) e mestre em
Direito Político e Econômico (Mackenzie-SP), está concluindo em São Paulo a
formação em Psicanálise. Ministra cursos e palestras sobre educação ambiental
em empresas e escolas no estado de São Paulo e no Paraná, onde vive.
Seu contato no Instagram é @eugeniapickina
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