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domingo, 19 de maio de 2024

 




Kardec e a ortodoxia espírita

 

ASTOLFO O. DE OLIVEIRA FILHO

aoofilho@gmail.com

 

Certa vez um colega espírita perguntou-nos o que entendíamos pela expressão “ortodoxia espírita” utilizada por Allan Kardec no texto abaixo:

 

“Não será à opinião de um homem que se aliarão os outros, mas à voz unânime dos Espíritos; não será um homem, nem nós, nem qualquer outro que fundará a ortodoxia espírita; tampouco será um Espírito que se venha impor a quem quer que seja: será a universalidade dos Espíritos que se comunicam em toda a Terra, por ordem de Deus.

Esse o caráter essencial da Doutrina Espírita; essa a sua força, a sua autoridade. Quis Deus que a sua lei assentasse em base inamovível e por isso não lhe deu por fundamento a cabeça frágil de um só.” (O Evangelho segundo o Espiritismo, Introdução, item II.)

 

O trecho transcrito mostra com notável clareza que a doutrina espírita é obra coletiva, não emana de um único Espírito, por mais sábio que ele possa ser, o que nos sugere que devemos ter todo o cuidado com as chamadas revelações singulares, provenientes de uma única fonte, seja qual for essa fonte.

As revelações singulares podem até ser verídicas, mas é preciso deixar que o tempo concorra para validá-las, atentos ao seguinte princípio, implícito no pensamento do codificador da doutrina espírita: Quando uma nova informação deve ser transmitida do plano espiritual ao plano terráqueo, isso se verifica em todos os pontos do globo, por intermédio de muitos Espíritos e de um grande número de médiuns desconhecidos uns dos outros.

Segundo pensamos, Kardec utilizou a palavra “ortodoxia” com o sentido que os gregos lhe davam. A palavra nos veio da Grécia e significa "opinião certa", fidelidade, conformidade com um determinado pensamento ou doutrina.

Como a doutrina espírita se fundamenta nos ensinamentos dados pelos Espíritos superiores, é claro que a definição relativamente ao seu conteúdo correto é atribuição dos Espíritos, não dos encarnados.

Allan Kardec, que foi, como sabemos, a pessoa incumbida de codificar esses ensinamentos, deixou muito claro em seus escritos que a revelação espírita seria ampliada gradualmente e transmitida a nós, seres encarnados, no momento adequado, de conformidade com nossa capacidade de entendimento e assimilação. A iniciativa seria, portanto, dos reveladores espirituais, cabendo a nós, encarnados, um papel importante, mas secundário, se comparado ao papel dos imortais incumbidos dessa revelação.

É importante, contudo, lembrar que a palavra “ortodoxia” tem sido, às vezes, utilizada de forma depreciativa, para designar a intransigência de uma pessoa em relação a tudo quanto é novo, ou a não aceitação de novos princípios ou ideias.

É nesse último sentido que alguns médiuns e outros autores da atualidade, não aceitando as críticas que se fazem a determinados equívocos presentes em seus livros, gostam de aplicar a pecha de “ortodoxos” naqueles que têm a coragem e o dever moral de apontar seus deslizes de ordem doutrinária, ocorrência que, infelizmente, tem sido mais frequente do que supomos.

 

 

 

 

 

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