Revista Espírita de 1865
Allan Kardec
Parte 16
Prosseguimos nesta edição o estudo metódico e sequencial da Revista Espírita do ano de 1865, periódico editado e dirigido por Allan Kardec. O estudo é baseado na tradução feita por Júlio Abreu Filho publicada pela EDICEL.
A coleção do
ano de 1865 pertence a uma série iniciada em janeiro de 1858 por Allan Kardec,
que a dirigiu até 31 de março de 1869, quando desencarnou.
Cada parte do
estudo, que é apresentado às quartas-feiras, compõe-se de:
a) questões
preliminares;
b) texto para
leitura.
As respostas às
questões propostas encontram-se no final do texto abaixo.
Questões preliminares
A. Benjamin
Franklin era reencarnacionista?
B. Deus fornece
aos homens as provisões materiais de que eles carecem?
C. Todos
detemos a possibilidade de suavizar certos sofrimentos por meio da imposição das
mãos?
Texto para leitura
182. A Revista
reproduz do jornal Indépendant de Douai de 6 e 8 de julho de 1865
reportagem a respeito de manifestações de efeitos físicos ocorridas em Fives,
perto de Lille, segundo a qual uma chuva de projéteis que caíam a certos
intervalos quebravam vidraças de casas e atingiam até mesmo pessoas, sem que se
pudesse determinar sua causa. Depois de alguns dias, em vez de pedras e pedaços
de tijolos, passaram a cair moedas belgas, enquanto os móveis de uma das casas
se moviam. (Págs. 230 a 233.)
183. Comentando
o fato, Kardec lembra sua analogia com os fenômenos verificados em Poitiers,
Marselha, Noyers e uma porção de outras localidades, observando que em presença
de fatos tão contundentes e vistos por numerosas testemunhas a negação já não é
mais possível. Os Espíritos disseram que manifestações de toda natureza iriam
produzir-se em todos os pontos, e é o que fazem. Os incrédulos não pedem fatos?
Ei-los! E têm a vantagem de não serem provocados. Se apesar disso não creem,
que é que se pode fazer? (Pág. 233.)
184. A Revista
focaliza o caso de duas crianças nascidas numa família de operários de Paris e
atingidas, após o nascimento, de idiotia. Alfredo, o mais velho, então com 17
anos, fora normal até os três anos de idade. Após uma ligeira doença, perdeu o
dom da palavra e as faculdades mentais. Paulino, de 15 anos, conservou a razão
até os seis anos, quando adoeceu e passou pelas mesmas fases do irmão mais
velho. (Págs. 234 e 235.)
185. Em julho
de 1865, reportando-se ao caso, Moki (Espírito) disse que os dois irmãos
cumpriam juntos aquela expiação porque juntos estavam quando dos fatos que a
motivaram. “Não esqueçais também – disse Moki – que os pais têm sua parte no
que aqui se passa.” Mas eles deveriam ser felicitados por não haverem falido,
porque essa compensação que não encontram neste mundo eles a encontrarão mais
tarde. Os cuidados e a afeição que prodigalizam aos dois filhos bem poderiam
ser uma reparação feita a eles, reparação que o estado de constrangimento da
família tornava ainda mais meritória. (Pág. 236.)
186. Após
transcrever o epitáfio que Benjamin Franklin redigiu e pediu fosse colocado em
seu túmulo, Kardec destaca o fato de que Franklin, um dos principais vultos dos
EUA, era reencarnacionista e não só acreditava em seu renascimento na Terra,
como cria voltar ao mundo melhorado por seu trabalho. Eis o teor do epitáfio:
“Aqui jaz, entregue aos vermes, o corpo de Benjamin Franklin, tipógrafo, como a
capa de um velho livro cujas folhas foram arrancadas e cujo título e dourado se
apagaram. Mas nem por isso a obra ficará perdida, porque há de reaparecer, como
ele acreditava, em nova e melhor edição, revista e corrigida pelo autor.” (P.
237.)
187. Na seção
de livros, a Revista alude ao livro O Manual de Xéfolius, obra atribuída
a Félix de Wimpfen, guilhotinado em 1793, a qual se presume publicada em 1788.
Embora seja anterior à codificação do Espiritismo, a obra traz inúmeras
passagens concordantes com a doutrina espírita, como as referências à lei de
causa e efeito, à reencarnação e à importância do amor na felicidade humana.
(Págs. 237 a 241.)
188. Evocado na
Sociedade Espírita de Paris, o autor do Manual de Xéfolius diz ter sido,
em sua existência terrena, um médium inconsciente, como muitos que existem no
mundo e não o sabem. A obra, portanto, não lhe podia ser atribuída com
exclusividade, porque, ao escrevê-la, ele o fez na condição de instrumento, em
parte passivo, do Espírito que então o dirigia. (Págs. 241 a 243.)
189. Duas
dissertações mediúnicas encerram o número de agosto de 1865. Na primeira,
intitulada “A chave do céu” e assinada pelo Espírito de Lacordaire, o instrutor
trata de forma admirável do tema caridade, para ele “o sinal de nossa grandeza
moral”, “a chave do céu”. Consolar aflições, por boas palavras ou por sábios
conselhos, vale infinitamente mais que consolar por socorros materiais; mas a
fome, o frio, a doença não se curam apenas com palavras: requerem algo mais
daquele que presta o socorro. (Págs. 244 e 245.)
190. Lembrando
que Deus, ao colocar o homem no mundo, fornece-lhe também as provisões
materiais, de que carece, Lacordaire exalta a importância da caridade e o dever
que temos de praticá-la. Se algo nos detém, não há dúvida: é o egoísmo, e Deus
o descobre facilmente sob os falaciosos pretextos com que procuramos
desculpar-nos. Despojados de nossa opulência, reapareceremos então outra vez na
Terra, curvados ao peso da indigência e sofrendo do rico o desdém e a
indiferença que no passado mostramos pelo pobre. (Págs. 245 e 246.)
191. Na parte
final da mensagem, Lacordaire assinala os deveres que – independentemente da
ajuda prestada aos pobres – temos para com os nossos familiares, a quem devemos
ensinar que ninguém pode viver egoisticamente no mundo, mas, sim, sob a égide
da solidariedade. “A justiça, diz Lamennais, é a vida; a caridade também é a
vida, mais bela e mais doce.” A caridade é a vida dos santos, é a chave do céu.
(Págs. 246 e 247.)
192. Dr.
Demeure assina a segunda dissertação, intitulada “A fé”. Dizendo que a fé cega
teve, durante muito tempo, sua utilidade e sua razão de ser, ele entende que
hoje a fé se alia à razão, e ambas, juntas, impedirão que o homem se perca de
novo nos caminhos da vida. “É a vossa época, meus amigos – diz o conhecido
médico –; segui o caminho, Deus está no fim.” (Págs. 247 e 248.)
193. Um
confrade de Lyon pediu a Kardec orientação a respeito da prática da mediunidade
curadora pela imposição das mãos. Dizendo que o assunto fora esboçado no Livro
dos Médiuns e em muitos artigos da Revista, e resumido no Evangelho
segundo o Espiritismo, na parte que trata das preces pelos enfermos e dos
médiuns curadores, Kardec lembra que o conhecimento da mediunidade curadora é
uma das conquistas que devemos ao Espiritismo, mas que se liga ao magnetismo e
abarca não apenas as doenças propriamente ditas, como também as numerosas
variedades de obsessões. (Págs. 249 a 251.)
194. Eis de
forma sintética os princípios fundamentais que, segundo Kardec, a experiência
consagrou relativamente à mediunidade curadora: I – Os médiuns que recebem
indicações de remédios da parte dos Espíritos não são médiuns curadores; são
simples médiuns escreventes ou médiuns consultores. A mediunidade curadora é
exercida pela ação direta do médium sobre o doente, com o auxílio de uma
espécie de magnetização de fato ou pelo pensamento. II – O médium curador
magnetiza com o fluido dos Espíritos, ao qual serve de condutor. O magnetismo
produzido pelo fluido do homem é o magnetismo humano. O que provém do fluido
dos Espíritos chama-se magnetismo espiritual. III – O fluido humano está sempre
mais ou menos impregnado de impurezas físicas e morais do encarnado; o fluido
dos bons Espíritos é necessariamente mais puro e por isso tem propriedades mais
ativas, que acarretam uma cura mais pronta. Daí a necessidade absoluta que tem
o médium curador de trabalhar a sua depuração moral, segundo o princípio
vulgar: “limpai o vaso antes de vos servirdes dele”. IV – O fluido espiritual
será tanto mais depurado e benfazejo quanto mais o Espírito que o fornece for
puro e desprendido da matéria. O fluido emanado de um corpo malsão pode
inocular princípios mórbidos no magnetizado. As qualidades morais do
magnetizador, isto é, a pureza de intenção e de sentimento, o desejo ardente e
desinteressado de aliviar, aliados à saúde do corpo, dão ao fluido um poder
reparador que pode, em certos indivíduos, aproximar-se das qualidades do fluido
espiritual. V – Gastando o seu próprio fluido, o magnetizador se esgota e se
fatiga, pois dá de seu próprio elemento vital. O fluido espiritual, mais
poderoso, em razão de sua pureza, produz efeitos mais rápidos. Não sendo esse
fluido do magnetizador, resulta que a fadiga é quase nula. VI – O Espírito pode
agir diretamente sem intermediário sobre as pessoas. Caso aja por um
intermediário, trata-se da mediunidade curadora. VII – O médium curador recebe
o influxo fluídico do Espírito, ao passo que o magnetizador tudo tira de si
mesmo. Os médiuns curadores, na estrita acepção da palavra, isto é, aqueles
cuja personalidade se apaga completamente ante a ação espiritual, são
extremamente raros, porque essa faculdade, elevada ao mais alto grau, requer um
conjunto de qualidades morais raramente encontradas na Terra. Só esses podem
obter, pela imposição das mãos, essas curas instantâneas que nos parecem
prodigiosas. Essa faculdade é o privilégio exclusivo da modéstia, da humildade,
do devotamento e do desinteresse. VIII – Sendo a mediunidade curadora uma
exceção aqui na Terra, resulta daí que, nessas tarefas, existe quase sempre
ação simultânea do fluido espiritual e do fluido humano. Todo magnetizador pode
tornar-se médium curador, se souber fazer-se assistir por bons Espíritos. Neste
caso os Espíritos lhe vêm em ajuda, derramando sobre ele seu próprio fluido,
que pode decuplicar ou centuplicar a ação do fluido puramente humano. IX –
Nenhuma vontade pode constranger os Espíritos a participar dessa tarefa. Eles se
rendem à prece, se fervorosa, sincera, mas nunca por injunção. X – Reconhece-se
o médium curador pelos resultados que obtém e não por sua pretensão de o ser.
XI – A vontade, embora ineficaz quanto ao concurso dos Espíritos, é onipotente
para imprimir ao fluido uma boa direção e uma energia maior. No homem mole e
distraído, a corrente é mole, a emissão é fraca. No homem de vontade enérgica,
a corrente produz o efeito de uma ducha. XII – A prece, quando fervorosa,
ardente, feita com fé, produz o efeito de uma magnetização, que dirige ao
doente uma salutar corrente fluídica. XIII – Embora a mediunidade curadora pura
seja privilégio das almas de escol, a possibilidade de suavizar certos
sofrimentos, e mesmo de os curar, é dada a todos, sem que haja necessidade de
ser magnetizador. O conhecimento dos processos magnéticos é útil em casos
complicados, mas não indispensável. Como a todos é dado apelar aos bons
Espíritos, orar e querer o bem, basta muitas vezes impor as mãos sobre a dor
para a acalmar. É o que pode fazer qualquer pessoa, se tiver fé, fervor,
vontade e confiança em Deus. Apenas a ignorância de alguns lhes faz crer na
influência desta ou daquela fórmula. XIV – Não há médiuns curadores universais.
Este terá restituído a saúde a um doente e nada fará ao outro. XV – A
mediunidade curadora é uma aptidão, como todos os gêneros de mediunidade,
inerente ao indivíduo. Ela se desenvolve pelo exercício, mas sobretudo pela
prática do bem e da caridade. XVI – A mediunidade curadora racional está
intimamente ligada ao Espiritismo, visto que repousa essencialmente no concurso
dos Espíritos. Os que não creem nos Espíritos, nem na alma e, ainda menos, na
eficácia da prece, não se colocam nas condições requeridas para essa tarefa.
(Págs. 251 a 255.)
Respostas às questões propostas
A. Benjamin
Franklin era reencarnacionista?
Franklin, um
dos principais vultos da história dos Estados Unidos, era reencarnacionista e
não só acreditava em seu renascimento na Terra, como acreditava que voltaria ao
mundo melhorado por seu trabalho. A prova disso é seu próprio epitáfio que
pediu fosse posto em seu túmulo: “Aqui jaz, entregue aos vermes, o corpo de
Benjamin Franklin, tipógrafo, como a capa de um velho livro cujas folhas foram
arrancadas e cujo título e dourado se apagaram. Mas nem por isso a obra ficará
perdida, porque há de reaparecer, como ele acreditava, em nova e melhor edição,
revista e corrigida pelo autor.” (Revista Espírita de 1865, pág. 237.)
B. Deus fornece
aos homens as provisões materiais de que eles carecem?
Lacordaire diz
em mensagem publicada na Revista que Deus, ao colocar o homem no mundo,
fornece-lhe as provisões materiais de que carece. Na mensagem, ele exalta
também a importância da caridade e o dever que temos de praticá-la. Se algo nos
detém, não há dúvida: é o egoísmo, e Deus o descobre facilmente sob os
falaciosos pretextos com que procuramos desculpar-nos. Despojados de nossa
opulência, reapareceremos então outra vez na Terra, curvados ao peso da
indigência e sofrendo do rico o desdém e a indiferença que no passado mostramos
pelo pobre. (Obra citada, pp. 245 e 246.)
C. Todos
detemos a possibilidade de suavizar certos sofrimentos por meio da imposição
das mãos?
Sim. Diz Kardec
que, embora a mediunidade curadora pura seja privilégio das almas de escol, a
possibilidade de suavizar certos sofrimentos, e mesmo de os curar, é dada a
todos, sem que haja necessidade de ser magnetizador. O conhecimento dos
processos magnéticos é útil em casos complicados, mas não indispensável. Como a
todos é dado apelar aos bons Espíritos, orar e querer o bem, basta muitas vezes
impor as mãos sobre a dor para a acalmar. É o que pode fazer qualquer pessoa,
se tiver fé, fervor, vontade e confiança em Deus. (Obra citada, pp. 251 a 255.)
Observação:
Para
acessar a Parte 15 deste estudo, publicada na semana passada, clique
aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2024/06/revista-espirita-de-1865-allan-kardec_0545495125.html
To read in English, click here: ENGLISH |
Nenhum comentário:
Postar um comentário