Revista Espírita de 1866
Allan Kardec
Parte 3
Prosseguimos nesta edição o estudo metódico e sequencial da Revista Espírita do ano de 1866, periódico editado e dirigido por Allan Kardec. O estudo será baseado na tradução feita por Júlio Abreu Filho publicada pela EDICEL.
A coleção do
ano de 1866 pertence a uma série iniciada em janeiro de 1858 por Allan Kardec,
que a dirigiu até 31 de março de 1869, quando desencarnou.
Cada parte do
estudo, que é apresentado às quartas-feiras, compõe-se de:
a) questões
preliminares;
b) texto para
leitura.
As respostas às
questões propostas encontram-se no final do texto abaixo.
Questões preliminares
A. Qual é,
segundo Kardec, a causa da loucura obsessional?
B. É fácil
afastar os obsessores desencarnados?
C. Por que
existem antropófagos?
Texto para leitura
27. A Revista
relata novo caso de obsessão levado a bom termo em julho de 1865, na localidade
de Cazères. A jovem obsidiada tinha 22 anos e, embora gozasse de saúde
perfeita, fora de repente acometida de um acesso de loucura. Como os médicos
não haviam conseguido curá-la, mesmo após sua internação num hospício de
alienados mentais, os pais recorreram ao Espiritismo. Evocando o Espírito
obsessor durante oito dias seguidos, o grupo espírita conseguiu mudar suas más
disposições e, feito isto, a doente ficou curada. (Págs. 38 e 39.)
28. Analisando
o fato, Kardec diz que o episódio constituía uma nova prova da existência da
loucura obsessional, cuja causa difere da loucura patológica e ante a qual a
ciência falhará sempre enquanto se obstinar em negar o elemento espiritual e
sua influência sobre o homem. (Pág. 39.)
29. Em seguida,
Kardec refere um fato semelhante relatado pelo grupo espírita de Marmande, que
também obteve êxito ao tratar um camponês que, atingido por uma loucura
furiosa, perseguia as pessoas a golpes de forcado, para as matar. Ele era, no
entanto, apenas uma vítima de uma obsessão grave e em oito dias, sem nenhum
tratamento físico, voltou ao estado normal, graças à terapia espírita (Págs. 39
e 40.)
30. Os casos de
obsessão eram tão frequentes que não seria exagero dizer que nos hospitais de
alienados mais da metade têm apenas a aparência da loucura, mas não são loucos.
Essa observação é de Kardec, que adverte não ser fácil afastar os obsessores
desencarnados. “O único meio de os dominar – diz o Codificador – é o ascendente
moral”, com cuja ajuda, pelo raciocínio e com sábios conselhos, é possível
torná-los melhores. Esse é o segredo da cura: conversa-se com o Espírito,
buscando moralizá-lo e educá-lo, como faríamos se ele estivesse encarnado, e
dirigindo com tato as instruções que lhe são dadas. (Págs. 40 a 42.)
31. Não nos
devemos admirar mais das obsessões do que das enfermidades e outros males que
afligem a humanidade, porque elas fazem parte das provas e das misérias devidas
à inferioridade do meio em que vivemos. Os homens sofrem então neste mundo as
consequências de suas imperfeições, porque, se fossem mais perfeitos, aqui não
estariam. (Pág. 42.)
32. O
depoimento de um passageiro que escapou com vida ao naufrágio do Borysthène,
ocorrido nas costas da Argélia a 15 de dezembro de 1865, é transcrito pela Revista
e comentado por Kardec, que explica por que, em casos assim, há pessoas que se
desesperam e se matam, sem esperar o desfecho do desastre. (Págs. 42 a 44.)
33. Duas
comunicações sobre o assunto foram, então, recebidas na Sociedade Espírita de
Paris no dia 12 de janeiro. Eis, de forma resumida, o que elas revelaram: I – A
prece é o veículo dos fluidos espirituais mais poderosos e são como um bálsamo
salutar para as feridas da alma e do corpo. Atrai todos os seres para Deus e
faz a alma sair da espécie de letargia em que se acha mergulhada, quando
esquece seus deveres para com o Criador. II – Dita com fé, provoca nos que a
ouvem o desejo de imitar os que oram, porque o exemplo e a palavra também levam
fluidos magnéticos de grande força. III – Quanto ao homem que quis suicidar-se
em face da morte certa, a ideia lhe veio de uma instintiva repulsa pela água,
visto que era a terceira vez que morreria dessa maneira. IV – Devemos orar
pelos infelizes, porque a prece de várias pessoas forma um feixe que sustenta e
fortifica a alma pela qual é feita, dando-lhe força e resignação. V – Aos que
julgam não ter necessidade de Deus, o Pai permite sejam expostos a um fim
terrível, sem esperança de qualquer ajuda. Então eles se lembram de que outrora
rezaram e que a prece dissipa as tristezas, faz suportar os sofrimentos com
coragem e suaviza os últimos momentos do agonizante. VI – É que a prece é uma
necessidade da alma e tem para todos uma imensa utilidade. (Págs. 44 a 46.)
34. Segundo o Siècle
de dezembro de 1865, o almirantado inglês advertiu os capitães de navios
mercantes que se dirigiam à Oceania para tomarem todas as precauções com vistas
a evitar que sua tripulação fosse vítima dos antropófagos das Novas-Hébridas,
da baía de Jervis ou da Nova-Caledônia, onde recrudescera a prática da
antropofagia. (Págs. 46 a 49.)
35. Comentando
a notícia, Kardec explica por que existem no mundo antropófagos, que são
pessoas como nós mesmos. As almas dos que mantêm esse hábito – diz Kardec –
estão ainda próximas de sua origem e suas faculdades intelectuais e morais são
pouco desenvolvidas; mas elas progredirão também, graças às vidas sucessivas.
(Págs. 48 e 49.)
36. O fato de
haver aumentado naquela região do planeta a prática da antropofagia explica-se
pela circunstância de ter, provavelmente, ocorrido ali uma chegada em massa de
almas bastante atrasadas, com vistas ao seu adiantamento, porque só
reencarnando é que elas poderão libertar-se desses e de outros hábitos cuja
erradicação é sinal inconteste de progresso. (Pág. 49.)
37. A Revista
informa que, desde a interessante história que envolveu o Sr. Bach e a espineta
de Henrique III, o citado músico tornou-se médium escrevente. Outro curioso
episódio relacionado com aquele instrumento musical é relatado, então, por
Kardec, no número de fevereiro de 1866. (Págs. 49 a 55.)
38. O próprio
Henrique III, presente à sessão realizada em janeiro na Sociedade Espírita de
Paris, de que participava também o Sr. Bach, confirmou ser o autor do
pergaminho que o músico encontrara na espineta, à esquerda do teclado, entre
duas tabuinhas. A caligrafia, comparada com a utilizada em outros manuscritos
encontrados na Biblioteca Imperial, correspondia realmente à do monarca. (Págs.
51 a 55.)
39. Novos
episódios de pancadas e outras manifestações físicas espontâneas agitaram a
casa de um fazendeiro muito rico, em Équihen, perto de Boulogne. Chamados a
intervir, quatro curas, seguidos depois de cinco redentoristas e três ou quatro
religiosas foram até a casa e praticaram o exorcismo, sem nenhum resultado.
Como a família desconfiasse de que os fenômenos poderiam estar sendo causados
por um irmão do fazendeiro, morto dois anos antes na Argélia, os clérigos
aconselharam-no a partir para a Argélia à busca do corpo do irmão, cumprindo o
que lhe havia sido prometido. (Págs. 56 e 57.)
Respostas às questões propostas
A. Qual é,
segundo Kardec, a causa da loucura obsessional?
Os inúmeros
casos de obsessão que estavam se tornando frequentes na França provavam,
segundo Kardec, a existência do que ele chamou de loucura obsessional, cuja
causa difere da loucura patológica e ante a qual a ciência falhará sempre
enquanto se obstinar em negar o elemento espiritual e sua influência sobre o
homem. A terapia espírita era, em casos assim, o procedimento indicado, que se
tornava, então, bastante conhecido. (Revista Espírita de 1866, pp. 38 a
40.)
B.
É fácil afastar os obsessores desencarnados?
Não; não é fácil tal tarefa. “O único meio de os
dominar – diz o Codificador – é o ascendente moral”, com cuja ajuda, por meio
do raciocínio e de sábios conselhos, é possível torná-los melhores. Este é o
segredo da cura: conversa-se com o Espírito, buscando moralizá-lo e educá-lo, como faríamos
se ele estivesse encarnado, e dirigindo com tato as instruções que lhe são
dadas. As obsessões fazem parte das provas e das misérias devidas à
inferioridade do meio em que vivemos. Os homens sofrem, então, neste mundo as
consequências de suas imperfeições, porque, se fossem perfeitos, aqui não
estariam. (Obra citada, pp. 40 a 42.)
C. Por que
existem antropófagos?
Antropófago [do
gr. anthropophágos, pelo lat. anthropophagu] diz respeito a
alguém que come carne humana. De acordo com o Siècle de dezembro de
1865, o almirantado inglês advertiu os capitães de navios mercantes que se
dirigiam à Oceania para tomarem todas as precauções com vistas a evitar que sua
tripulação fosse vítima dos antropófagos das Novas-Hébridas, da baía de Jervis
ou da Nova-Caledônia, onde recrudescera a prática da antropofagia. Comentando a
notícia, Kardec explica por que existem no mundo antropófagos, que são pessoas
como nós mesmos. As almas dos que mantêm esse hábito – diz Kardec – estão ainda
próximas de sua origem e suas faculdades intelectuais e morais são pouco
desenvolvidas; mas elas progredirão também, graças às vidas sucessivas. O fato
de haver aumentado naquela região do planeta a prática da antropofagia
explica-se pela circunstância de ter, provavelmente, ocorrido ali uma chegada
em massa de almas bastante atrasadas, com vistas ao seu adiantamento, porque só
reencarnando é que elas poderão libertar-se desses e de outros hábitos cuja
erradicação é sinal inconteste de progresso. (Obra citada, pp. 46 a 49.)
Observação:
Para
acessar a 2ª Parte deste estudo, publicada na semana passada, clique
aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2024/08/revista-espirita-de-1866-allan-kardec.html
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