O porteiro e o Almirante
Homem de muitas atribuições,
compadecia-se daqueles companheiros aos quais não podia ceder maior atenção.
Pensando
sanar o problema, tomou a cooperação de um confrade desempregado que lhe pedira
auxílio. Até que lhe arranjasse colocação, o moço ficaria junto à instituição,
atendendo às visitas inesperadas.
Conversaria
pacientemente. Trataria a todos com caridade. Indicaria o horário certo em que
ele pudesse ser encontrado, sem prejuízo do trabalho. E ele, o Almirante,
pagaria modesta remuneração do próprio bolso.
O
amigo aceitou, contente.
No
vigésimo dia de serviço, porém, Paim Pamplona teve responsabilidades mais
graves e por lá ficou, até muito tarde, sem que o homem soubesse de sua
presença, em sala próxima.
Em certa
hora, ouviu altas vozes. Aguçou o ouvido e escutou. O moço gritava para pobre
mulher:
–
Safe-se daqui! “Sua” velhaca! A senhora acha que pode pedir ao Almirante uma
coisa dessas? Espiritismo não é feitiçaria. Se a senhora voltar aqui com este
assunto de homem fugido, bato a porta em sua cara! Compreendeu? Rua! Vá para a
rua! O Almirante não esteve, não está e nem estará. Suma de minha vista!
–
Desculpe! desculpe! – rogava a pobre.
Mas
o improvisado porteiro gritava:
–
Rua, antes que eu chame a polícia! Rua, antes que eu chame a polícia!
A
senhora saiu correndo.
O
Almirante chegou calmo e ainda encontrou o moço fulo de cólera.
–
Há quantos dias você está trabalhando? – falou Paim Pamplona, sem alterar-se.
–
Vinte dias, Almirante.
O
distinto oficial da Marinha Brasileira enfiou a mão no bolso, retirou a
carteira, contou a importância e estendeu as cédulas ao moço, dizendo-lhe:
–
Bem, meu filho, de hoje em diante não se considere mais a meu serviço.
–
Mas, por quê? – indagou o amigo desapontado.
E o
Almirante, sereno:
– A
cena que você acabou de representar não condiz com o programa espírita desta
Casa.
Do
livro Almas em desfile, obra psicografada pelo médium Francisco Cândido
Xavier.
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