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quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Simplesmente sintonia


Cínthia Cortegoso
De Londrina-PR

Aproximando-se das seis da tarde, numa das calçadas centrais de uma antiga cidade francesa, desciam menina e mulher, com laços de mãe e filha. A garotinha aparentava uns oito anos, poderia ter mais, no entanto, a aparência franzina era próxima disso.
Vinham em silêncio, de mãos dadas, com penúria de tudo o que fosse material. Roupas gastas e poucas para o frio temeroso. Os sapatos apenas isolavam do chão a sola do pé, e ainda um pouco além de seus números. O sentimento carinhoso era recíproco.
Após a caminhada de uma quadra em total silêncio de palavras, mas com a harmonia latente, e sabe-se lá quanto mais já haviam andado, chegaram quase ao final deste quarteirão.
 Um senhor, com carrinho de doces, estava parado na calçada; decerto havia permanecido lá o dia todo, satisfazendo quem pudesse pagar pelas guloseimas e aguçando ainda mais a vontade de quem não possuía uma moeda sequer em qualquer esconderijo da roupa. Assim eram as duas jovens que desciam – jovem, pois, mesmo aparentando ser mãe, a maior era bastante nova para o posto.
Quando passaram bem rente ao carrinho de doces - esses conhecidos no Brasil como os famosos pés-de-moleque ou ainda quebra-queixos - foi nítido o engolir de saliva com sabor de vontade e fome da menina. O vendedor, apoiando o pé direito em uma das rodas, presenciou e compreendeu o que ocorrera.
– Não estou com vontade não, mamãe – a pequenina frágil disse rápido, pois nos olhos da mãe estava visível a insatisfação de nem ao menos o doce poder oferecer à filha.
– Além disso, mamãe, não são desses que eu gosto – a garotinha reforçou o aperto na mão materna e estreitou o sentimento.
O sino da matriz anunciou seis em ponto. Prosseguiram a jornada, mas, na verdade, não sabiam de onde vinham nem para onde iriam, simplesmente, com amor, continuaram.


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