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quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Um anjo de perto



CÍNTHIA CORTEGOSO
cinthiacortegoso@hotmail.com
De Londrina-PR


– Bom dia, D. Raquel. Tudo bem? – cumprimentei minha vizinha de há muito tempo.
– Bom dia, minha menina. Estou bem – respondeu-me com a elegância que sempre a compusera.
D. Raquel sabia meu nome, pois me conhecia desde a infância. Um dia me confidenciou que quando me chamava de “minha menina”, sentia em seu coração como se eu fosse um pouquinho mais dela – talvez por seus filhos e netos não estarem tão presentes. Toda família era da Espanha e uma ou duas vezes ao ano os parentes a visitavam. Ela viera para o Brasil ainda jovem.
Então, como me aproximei da grade do quintal, ela, com a “performance” permitida por suas quase oito décadas e meia, “correu” para prolongar a conversa.
– E você, tudo bem? – perguntou-me ternamente.
– Sim, estou sim – respondi-lhe com carinho.
– Quero lhe dar um presente – falou-me tão generosa.
– Outro, D. Raquel? – surpreendi-me. –  A senhora me presenteou terça passada –  procurei lembrá-la do último “regalo”.
– Eu sei. Mas se podemos e queremos, por que não fazer? – explicou-me com a sabedoria que lhe era própria. – Tenho aqui um livro que muitas vezes li e sempre me encantou –  ela o passou pelo vão da grade.
– Ah, D. Raquel. Quanta gentileza! – agradeci-lhe.
– Não é só gentileza... é sintonia... é carinho – falou-me com sua simplicidade peculiar.
O livro estava embrulhado e, sutilmente, retirei o papel, continuando a conversa. Ela estava no quintal; eu, na calçada da rua. Quando olhei para a capa do livro, lá estava o famoso clássico “Encontros e reencontros a céu aberto”, de um conceituado escritor francês.
– Este é um livro que traz a história de incontáveis pessoas que se (re)encontraram e se melhoraram, e trouxeram também à luz os que as prejudicaram –  falou-me com autoridade da conhecedora que era.
– Que interessante! – extasiada, apenas essas duas palavrinhas consegui pronunciar.
Olhando aquela tão querida senhora, percebi que há pessoas com grande sabedoria e desenvolvimento que muito se dedicam a ajudar os outros a também se aprimorarem. Essas pessoas podem ser chamadas de anjos e estão muito próximas de nós. Podem ser o vizinho de infância ou qualquer outro companheiro de jornada que tenha nos olhos o brilho do amor.


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