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sábado, 19 de janeiro de 2013

Pérolas literárias (19)

Refazimento

Epifânio Leite

Vejo-te, soberana, aos painéis da memória!
O trono te emoldura a face de outras eras…
Oprimes sem temor, espancas onde imperas,
Fulges no fausto vão de vaidade ilusória!…

A paixão te esfogueia a fome de vanglória,
Exilas e destróis, humilhas e encarceras…
Vem a morte, no entanto, entre forças austeras,
E largas sob a cinza a pompa transitória!

Foi-se o tempo… Hoje achei-te em catre duro e estreito,
Paralítica e só, parafusada ao leito!…
Chorei ao ver-te a choça e o triste quarto em ruínas!

Mas louvo o fel de agora ante o sol do futuro…
Pela dor subirás ao reino do amor puro
Em teu carro estelar de açucenas divinas!


Soneto psicografado por Francisco Cândido Xavier, publicado no livro Astronautas do Além. Segundo o poeta, o soneto foi dedicado a uma venerável irmã que conheceu na realeza terrestre quatro séculos antes. Culta, não espalhou os benefícios da inteligência; amiga incondicional dos amigos e inimiga implacável dos adversários; generosa para com os áulicos abastados e indiferente às vítimas da penúria. Agradecida aos vassalos obedientes, perseguia até à morte quantos não lhe observassem as diretrizes. Amada e odiada, alcançou o Mais Além e, à frente da verdade, preocupou-se com a redenção própria. Regressou à Terra, várias vezes, apagando-se devagar quanto ao brilho terreno que ostentava, até que rogou a prova final, habilitando-se no corpo enfermo e disforme, em acentuada penúria, para a ascensão próxima à Espiritualidade Superior.


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