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sábado, 16 de março de 2013

Pérolas literárias (27)


Aos meus amigos da Terra

Emílio de Menezes


Amigos, tolerai o meu assunto,
(sempre vivi do sofrimento alheio)
Relevai, que as promessas de um defunto
São coisa inda invulgar no vosso meio.

Apesar do meu cérebro bestunto (1),
O elo que nos unia, conservei-o,
Como a quase saudade do presunto,
Que nutre um corpo empanturrado e feio.

Espero-vos aqui com as minhas festas,
Nas quais, porém, o vinho não explode,
Nem há cheiro de carnes ou cebolas.

Evitai as comidas indigestas,
Pois na hora do “salva-se quem pode”,
Muita gente nem fica de ceroulas...


(1) Bestunto: cabeça de curto alcance, ou estúpida; cachola; a sede da memória, das lembranças, do pensamento, etc.

Poeta brasileiro, nascido em Curitiba em 1866 e desencarnado no Rio de Janeiro em 1918, Emílio de Menezes legou-nos Poemas da Morte, 1901, e Poesias, 1909, além de Mortalhas, versos satíricos postumamente colecionados. O soneto acima faz parte do livro Parnaso de Além-Túmulo, psicografado pelo médium Chico Xavier.


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