GEBALDO JOSÉ DE SOUSA
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De Goiânia-GO
O Dicionário Caldas Aulete eletrônico define
talismã:
“s.m. 1. Objeto supostamente dotado de certos
poderes, us. para dar sorte: Usava um colar peruano como talismã. [Cf.:
amuleto.]
2. Fig. O efeito produzido pelo poder mágico
desse objeto; ENCANTO; ENCANTAMENTO
3. P.ext. Tudo que tem efeito repentino e
fantástico. [F.: Do fr. talisman.]”
*
“Qual pode ser o efeito das fórmulas e práticas
mediante as quais certas pessoas pretendem dispor da vontade dos Espíritos?
O de torná-las ridículas, se procedem de boa-fé.
(...) Não há nenhuma palavra sacramental, nenhum sinal cabalístico, nenhum
talismã que tenha qualquer ação sobre os Espíritos, porque estes só são
atraídos pelo pensamento e não pelas coisas materiais.” (1)
“Aquele que, com ou sem razão, confia no que
chama a virtude de um talismã, não pode atrair um Espírito justamente por essa
confiança, (...)?
(...) essa crença denuncia uma pequenez e uma
fraqueza de ideias que favorecem a ação dos Espíritos zombeteiros e imperfeitos.”
(1)
Ou seja, o talismã, usado para proteção, tem
efeito contrário.
Alguns seres humanos alimentam crendices e
superstições que lhes assegurem soluções mágicas: saúde, boa sorte, e até mesmo
fortuna, através de heranças ou mesmo das múltiplas loterias.
Uns portam patuás, pés de coelho, bentinhos;
outros fazem ‘votos’, cumprem promessas e dolorosas penitências.
São crendices alimentadas pelo povo ao longo do
tempo, que passam de gerações a gerações. E, para nossa surpresa, prosperam não
apenas em meio à gente simples, mas também entre letrados, sem ‘maturidade do
senso moral’!
A Doutrina Espírita nos esclarece quanto à
necessidade de corrigir vícios físicos e mentais; renovar a conduta, com a
prática do Bem, o cultivo da oração, a aquisição de virtudes, para evoluirmos
de forma consciente.
Esse conjunto de fatores conduz-nos à
pacificação da mente e à confiança crescente nos desígnios divinos.
*
Na Revista Espírita de setembro/1858, pp. 393 a 395, há interessante
artigo sobre esse tema, com o título: Os Talismãs – MEDALHA CABALÍSTICA. (2)
Nele se diz que um senhor comprara uma medalha
com vários sinais gravados nas duas faces, dispostos de modo cabalístico. Médium
sonâmbula afirmou que ela “tinha o poder especial de atrair os Espíritos e
facilitar as evocações”.
Pediu ao Codificador sua opinião sobre ela e que
interrogasse um Espírito superior, sobre seu real valor.
Allan Kardec respondeu-lhe: (2)
“Os Espíritos são atraídos ou repelidos pelo
pensamento, e não pelos objetos materiais, que nenhum poder exercem sobre eles.
Em todos os tempos os Espíritos superiores têm condenado o emprego de sinais e
de formas cabalísticas, de modo que todo Espírito que lhes atribuir uma virtude
qualquer, ou que pretender oferecer talismãs como objeto de magia, por isso mesmo
revelará a sua inferioridade, quer quando age de boa-fé e por ignorância, em
consequência de antigos preconceitos terrestres de que ainda se acha imbuído,
quer quando, como Espírito zombeteiro, se diverte conscientemente com a
credulidade alheia.
(...)
Quem quer que tenha estudado racionalmente a
natureza dos Espíritos não poderá admitir que, sobre eles, se exerça a
influência de formas convencionais, nem de substâncias misturadas em certas
proporções; seria renovar as práticas do caldeirão das feiticeiras, dos gatos
negros, das galinhas pretas e de outros sortilégios.
(...)
Entretanto, para edificação do proprietário da
medalha, e para um melhor aprofundamento da questão, na sessão de 17 de julho
de 1858 pedimos a São Luís, que conosco se comunica de bom grado sempre que se
trata de nossa instrução, que nos desse sua opinião a respeito. Interrogado
sobre o valor da medalha, eis qual foi sua resposta:
‘Fazeis bem em não admitir que objetos materiais
possam exercer qualquer influência sobre as manifestações, quer para as
provocar, quer para as impedir. Temos dito com bastante frequência que as
manifestações são espontâneas e que, além disso, jamais nos recusamos a atender
ao vosso apelo. Por que pensais que sejamos obrigados a obedecer a uma coisa
fabricada pelos seres humanos?’
(...)
P. – Dizem que pertenceu a Cazotte; poderíamos
evocá-lo, a fim de obtermos alguns ensinamentos a esse respeito?
Resposta: – Não é necessário; ocupai-vos
preferentemente de coisas mais sérias.”
Eis quão incisivas foram as palavras do Espírito
dirigidas a Kardec! Não comportam quaisquer ponderações, eis que encerram o
assunto!
*
Em precioso livro sobre o Idioma pátrio (3)
há bela parábola que nos diz muito bem quais são os verdadeiros talismãs, a
serem perseguidos por aqueles que realmente buscam crescer, evoluir. Intitulada
Os três talismãs, de autoria de
Teodoro de Morais, eis o texto da parábola:
“– Que é preciso para aprender? perguntou um
filho ao pai.
– Para aprender, para saber e para vencer,
respondeu o pai, é preciso buscar os três talismãs: a alavanca, a chave e o
facho.
– E onde encontrá-los? interroga o filho.
– Dentro de ti mesmo, explica o pai. Os três
talismãs estão em teu poder e serás poderoso, se quiseres fazer uso deles.
– Não compreendo, diz o filho, cada vez mais
intrigado. Que alavanca é essa?
– A tua vontade. É preciso querer, é preciso
remover obstáculos para aprender.
– E a chave?
– O teu trabalho. É preciso esforço para dar
volta à chave e abrir o palácio do saber.
– E o facho?
– A tua atenção. É preciso luz, muita luz, para
iluminar o palácio. Só assim poderás ver com clareza e descobrir a verdade, que
vence a ignorância.”
(1) KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos.
Trad. Evandro Noleto. 2.ed. FEB: Rio de Janeiro, 2011. Q. 553 e 554.
(2) KARDEC, Allan, Revista Espírita. Trad.
Evandro Noleto Bezerra. 3.ed. Rio de Janeiro: FEB, 2004. Setembro/1858, p. 393 a 395.
(3) OLIVEIRA, Cleófano. Flor do Lácio. 5.ed.
São Paulo: Saraiva, 1950. p. 158.
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