Boneca
Narcisa Amália de
Campos
Boneca!... Era uma
vez a bonequinha humana,
Borboleta a voejar,
sob véus de neblina,
Primavera de sonho e
graça matutina,
Transfundidas na
carne em rósea filigrana...
Bela e ardente,
dançou, qual brejeira cigana,
Nos laços da ilusão
que se adensa e esborcina.(1)
Mulher, envelheceu
disfarçada em menina,
Alegre bibelô na
ribalta mundana.
Nem renúncia no amor,
nem lar de que se importe.
Mas, bailando febril,
encontra, um dia, a morte,
Na dor que lhe
crepeia(2) o coração e a estrada...
A libélula cai sobre
o charco profundo
E, no visco de lama,
ouve apenas do mundo:
– “Boneca!... Era uma
vez a boneca doirada!”
(1) Esborcina:
relativo ao verbo esborcinar, que significa escalavrar, danificar, arruinar,
deteriorar; quebrar os lavores altos, os bordos ou beiras; cortar pelas bordas.
(2) Crepeia: forma
verbal derivada certamente da palavra crepe: fita ou tecido negro que se usa em
sinal de luto.
Poetisa, cronista e tradutora,
Narcisa Amália de Campos nasceu em
S. João da Barra (RJ) em 3 de abril de 1852 e desencarnou no
Rio de Janeiro (RJ) em 24 de junho de 1924. O soneto acima integra o livro Antologia dos Imortais, obra
psicografada pelos médiuns Francisco Cândido Xavier e Waldo Vieira.
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