CÍNTHIA CORTEGOSO
cinthiacortegoso@hotmail.com
De Londrina-PR
Deve ser sempre o nosso passo
a nos guiar para o caminho escolhido.
Às vezes, podemos demorar
mais ou menos;no entanto, o importante é termos liberdade e decisão. E que
neste Ano Novo cada escolha possa ser feita pela nossa vontade, com a certeza
de que estaremos sempre amparados para o caminho do bem, a fim de conquistarmos
o progresso e a luz de nossa vida.
Um rapaz bastante
jovem estava sentado num banco antigo de uma das praças de Lyon, França. Não
era mais comum uma cena assim nos tempos atuais, devido ao dinamismo das ações;
pois bem, mas ele estava.
Seu semblante não
era convidativo nem mesmo para cumprimentá-lo, quem dera para algumas palavras
frente à iniciação de uma conversa, como pretendia o senhor aposentado que
observava o rapaz no banco do lado oposto.
Os gestos com a
cabeça demonstravam inconformismo e contrariedade do jovem perante algum
acontecimento em questão. E
as miúdas flores amarelas ao lado do banco se balançavam com o vento calmo que
soprava na tarde.
Sabe-se que a
experiência na vida torna real muitas possibilidades existentes. Quando se é
mais jovem, certas coisas parecem complicadas, mais embaraçosas para a realização
ou mudança de caminho. O que antes traria vergonha ou imobilidade de ação, com
a maturidade, de uma forma geral, quase tudo se torna realizável.
E foi dessa
maneira, com a crença de que é possível, que o senhor do banco oposto se
transferiu para onde o jovem estava.
Mediante a
atitude de um desconhecido em se aproximar, o rapaz recolheu-se um pouco
distanciando-se pelo menos uns vinte centímetros do senhor. Sem dúvida, ele se
incomodou mais que o experiente homem.
Olhou para o
senhor como a perguntar-lhe o que estava fazendo; entretanto, preferiu
saudá-lo:
– Boa tarde!
– Boa tarde,
jovem!
– O senhor
precisa de algo? – o rapaz perguntou.
– Não, só estou a
receber o ar mais livre como faço todas as tardes deste outono fresco. E
você... está bem? – o senhor se mostrou receptivo a escutá-lo.
Então, o jovem
virou a cabeça e olhou bem profundamente para os olhos do senhor:
– Não o
conheço... no entanto, agradeço-lhe a preocupação, se assim posso chamá-la –
respondeu o jovem.
– Na minha idade,
as preocupações da juventude passaram a ser o início de um crescimento – deu
uma pausa. – Sabe, jovem, quando tinha os seus breves vinte anos, como a
maioria dessa geração, passei grandes desafios também. O mundo deseja receber a
nova criatura, entretanto, com grande expectativa de suas realizações.
E o jovem,
extático e interessado, ouvia as palavras com sabedoria.
– O número
atuante de nossas funções na vida se amplia, pois da restrita atuação de
filho... irmão... neto... passamos a nos responsabilizar com o desempenho de
aluno, futuro profissional; de competente realizador da atividade escolhida; de
cônjuge; de mãe e pai; de membro de uma sociedade que, muitas vezes, cobra bem
mais que apoia ou reconhece os nossos atributos. Mas... o fator preponderante é
ser feliz com o que se tem e com o que se realiza profissional e humanamente –
assim foram as palavras do senhor.
O jovem tentava
assimilar tamanha informação. E como o tocou! Olhou para o céu, respirou fundo,
deparou-se com a imensidão diante dos olhos, quão pequenino se sentiu e, ao
mesmo tempo, enclausurado no sofrimento imposto por uma força, de certa forma,
poderosa no momento.
– O senhor pode
me ouvir um pouco? – perguntou com os olhos cheios de esperança.
– Como se fosse
um filho meu! – respondeu com o carinho que um pai sempre deveria estar.
– Obrigado!
O silêncio foi
mais alto neste instante. Na verdade, uma preparação para o desencadeamento.
– Desejo ser
médico... – uma pausa. – Desejo ser médico, mas meu pai me exige o Direito,
para continuar a tradição familiar – o rapaz começou a contar.
O senhor, muito
atento, olhava para o jovem, dando a entender que se quisesse poderia
continuar.
– E... ele sabe
como pressionar-me a ponto até de pensar na desistência do meu objetivo... meu
sonho – o jovem abaixou a cabeça sentindo-se um pouco fracassado antes mesmo da
realização.
Então, o homem
mais experiente suspirou e perguntou:
– O sonho é seu
ou de seu pai?
Os jovens olhos
se assustaram com a pergunta.
– É... o meu
sonho – respondeu, gaguejando um pouco.
– Perfeito! Então,
não há mais dilema – assim, com toda a facilidade, o senhor concluiu.
Extremamente sem
entender, o rapaz ficou e olhou para o homem aguardando resposta.
– Isso mesmo. Não
há mais problema algum a resolver – o senhor insistiu na resposta.
– Mas, meu senhor,
como não há problema? – o jovem questionou, indignado, por seu sofrimento.
– Meu rapaz, a
maior dificuldade na vida é descobrir o caminho. Quando se descobre, somente é
preciso a energia desbravadora para conquistá-lo – o senhor respondeu com
tranquilidade.
– E meu pai? E a
tradição? E o que as pessoas pensarão? Talvez seja grande desacato! – em tom de
incompreensão, o jovem questionou.
– Então me
responda! Você ficará, todos os dias, somente em função de seu pai?
Responda-me! – o senhor, com brandura, perguntou.
– Não... – o
jovem começou a responder um pouco envergonhado.
– Você tem uma
vida a viver ou apenas seu pai é quem tem?
– Não... eu...
também tenho.
– Você se casará
com a tradição e os dois serão felizes para sempre? – o senhor continuou.
– Não...
– As pessoas
trarão a satisfação que você deseja?
– Não...
– Pois bem, meu
rapaz, confraternize-se com a vida e seja feliz sendo o melhor que puder. A
vida é presente divino. Não permita que outras pessoas desfaleçam os seus
sonhos. Que cada passo “seu” busque o bem, o progresso, o amor. Todos nós temos
uma vida que se propaga para a eternidade, mas a caminhada é individual, seus
méritos serão conquistados por você e seus débitos também aguardarão a sua
quitação. Siga adiante, meu rapaz. Escreva sua história com passagens felizes e
edificantes. Siga adiante! – o senhor concluiu.
O jovem olhou
respeitosamente para o senhor.
Quanta admiração!
– Meu rapaz,
tenho de ir. A noite quer se apresentar e eu... não sou tão jovem quanto você
para receber o vento mais fresco gotejado pelo sereno. Grande satisfação em conhecê-lo. Conquiste
o seu horizonte e ele o fará feliz. Au revoir! – e assim o senhor se levantou e
seguiu com seus passos calmos e experientes.
– Obrigado! Au
revoir! – o rapaz, com um pouco de atraso, respondeu.
Algumas estrelas
começaram a se apresentar e o jovem, ao percebê-las, olhou para o céu em agradecimento. Quando
procurou o senhor, não mais estava presente, simplesmente assim.
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