terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Nem o sol poderia viver pela lua

CÍNTHIA CORTEGOSO
cinthiacortegoso@hotmail.com
De Londrina-PR
           
Deve ser sempre o nosso passo a nos guiar para o caminho escolhido.
Às vezes, podemos demorar mais ou menos;no entanto, o importante é termos liberdade e decisão. E que neste Ano Novo cada escolha possa ser feita pela nossa vontade, com a certeza de que estaremos sempre amparados para o caminho do bem, a fim de conquistarmos o progresso e a luz de nossa vida.

Um rapaz bastante jovem estava sentado num banco antigo de uma das praças de Lyon, França. Não era mais comum uma cena assim nos tempos atuais, devido ao dinamismo das ações; pois bem, mas ele estava.
Seu semblante não era convidativo nem mesmo para cumprimentá-lo, quem dera para algumas palavras frente à iniciação de uma conversa, como pretendia o senhor aposentado que observava o rapaz no banco do lado oposto.
Os gestos com a cabeça demonstravam inconformismo e contrariedade do jovem perante algum acontecimento em questão. E as miúdas flores amarelas ao lado do banco se balançavam com o vento calmo que soprava na tarde.
Sabe-se que a experiência na vida torna real muitas possibilidades existentes. Quando se é mais jovem, certas coisas parecem complicadas, mais embaraçosas para a realização ou mudança de caminho. O que antes traria vergonha ou imobilidade de ação, com a maturidade, de uma forma geral, quase tudo se torna realizável.
E foi dessa maneira, com a crença de que é possível, que o senhor do banco oposto se transferiu para onde o jovem estava.
Mediante a atitude de um desconhecido em se aproximar, o rapaz recolheu-se um pouco distanciando-se pelo menos uns vinte centímetros do senhor. Sem dúvida, ele se incomodou mais que o experiente homem.
Olhou para o senhor como a perguntar-lhe o que estava fazendo; entretanto, preferiu saudá-lo:
– Boa tarde!
– Boa tarde, jovem!
– O senhor precisa de algo? – o rapaz perguntou.
– Não, só estou a receber o ar mais livre como faço todas as tardes deste outono fresco. E você... está bem? – o senhor se mostrou receptivo a escutá-lo.
Então, o jovem virou a cabeça e olhou bem profundamente para os olhos do senhor:
– Não o conheço... no entanto, agradeço-lhe a preocupação, se assim posso chamá-la – respondeu o jovem.
– Na minha idade, as preocupações da juventude passaram a ser o início de um crescimento – deu uma pausa. – Sabe, jovem, quando tinha os seus breves vinte anos, como a maioria dessa geração, passei grandes desafios também. O mundo deseja receber a nova criatura, entretanto, com grande expectativa de suas realizações.
E o jovem, extático e interessado, ouvia as palavras com sabedoria.
– O número atuante de nossas funções na vida se amplia, pois da restrita atuação de filho... irmão... neto... passamos a nos responsabilizar com o desempenho de aluno, futuro profissional; de competente realizador da atividade escolhida; de cônjuge; de mãe e pai; de membro de uma sociedade que, muitas vezes, cobra bem mais que apoia ou reconhece os nossos atributos. Mas... o fator preponderante é ser feliz com o que se tem e com o que se realiza profissional e humanamente – assim foram as palavras do senhor.
O jovem tentava assimilar tamanha informação. E como o tocou! Olhou para o céu, respirou fundo, deparou-se com a imensidão diante dos olhos, quão pequenino se sentiu e, ao mesmo tempo, enclausurado no sofrimento imposto por uma força, de certa forma, poderosa no momento.
– O senhor pode me ouvir um pouco? – perguntou com os olhos cheios de esperança.
– Como se fosse um filho meu! – respondeu com o carinho que um pai sempre deveria estar.
– Obrigado!
O silêncio foi mais alto neste instante. Na verdade, uma preparação para o desencadeamento.
– Desejo ser médico... – uma pausa. – Desejo ser médico, mas meu pai me exige o Direito, para continuar a tradição familiar – o rapaz começou a contar.
O senhor, muito atento, olhava para o jovem, dando a entender que se quisesse poderia continuar.
– E... ele sabe como pressionar-me a ponto até de pensar na desistência do meu objetivo... meu sonho – o jovem abaixou a cabeça sentindo-se um pouco fracassado antes mesmo da realização.
Então, o homem mais experiente suspirou e perguntou:
– O sonho é seu ou de seu pai?
Os jovens olhos se assustaram com a pergunta.
– É... o meu sonho – respondeu, gaguejando um pouco.
– Perfeito! Então, não há mais dilema – assim, com toda a facilidade, o senhor concluiu.
Extremamente sem entender, o rapaz ficou e olhou para o homem aguardando resposta.
– Isso mesmo. Não há mais problema algum a resolver – o senhor insistiu na resposta.
– Mas, meu senhor, como não há problema? – o jovem questionou, indignado, por seu sofrimento.
– Meu rapaz, a maior dificuldade na vida é descobrir o caminho. Quando se descobre, somente é preciso a energia desbravadora para conquistá-lo – o senhor respondeu com tranquilidade.
– E meu pai? E a tradição? E o que as pessoas pensarão? Talvez seja grande desacato! – em tom de incompreensão, o jovem questionou.
– Então me responda! Você ficará, todos os dias, somente em função de seu pai? Responda-me! – o senhor, com brandura, perguntou.
– Não... – o jovem começou a responder um pouco envergonhado.
– Você tem uma vida a viver ou apenas seu pai é quem tem?
– Não... eu... também tenho.
– Você se casará com a tradição e os dois serão felizes para sempre? – o senhor continuou.
– Não...
– As pessoas trarão a satisfação que você deseja?
– Não...
– Pois bem, meu rapaz, confraternize-se com a vida e seja feliz sendo o melhor que puder. A vida é presente divino. Não permita que outras pessoas desfaleçam os seus sonhos. Que cada passo “seu” busque o bem, o progresso, o amor. Todos nós temos uma vida que se propaga para a eternidade, mas a caminhada é individual, seus méritos serão conquistados por você e seus débitos também aguardarão a sua quitação. Siga adiante, meu rapaz. Escreva sua história com passagens felizes e edificantes. Siga adiante! – o senhor concluiu.
O jovem olhou respeitosamente para o senhor.
Quanta admiração!
– Meu rapaz, tenho de ir. A noite quer se apresentar e eu... não sou tão jovem quanto você para receber o vento mais fresco gotejado pelo sereno. Grande satisfação em conhecê-lo. Conquiste o seu horizonte e ele o fará feliz. Au revoir! – e assim o senhor se levantou e seguiu com seus passos calmos e experientes.
– Obrigado! Au revoir! – o rapaz, com um pouco de atraso, respondeu.
Algumas estrelas começaram a se apresentar e o jovem, ao percebê-las, olhou para o céu em agradecimento. Quando procurou o senhor, não mais estava presente, simplesmente assim.


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