A resposta à pergunta que dá título a este texto podemos
encontrar em Isaías.
Segundo esse extraordinário profeta, Jesus viria ao mundo
para fazer raiar a luz aos que se achavam na região da morte, dar crença aos
que não a tinham, guiar os que se haviam perdido e se achavam desviados da
estrada da vida e, finalmente, apresentar-se a todos como o modelo, o
paradigma, o enviado de Deus, o único capacitado a legar a nós um ensino puro e
perfeito. É daí que surgiria mais tarde a conhecida frase que o evangelista
João lhe atribuiu: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida; ninguém vai ao Pai
senão por mim” (João, 14:6).
Descendo de Esfera Superior, Jesus surgiu entre os
terráqueos, não entre sedas, mas em uma singela e tosca estrebaria.
Apresentando-se como o Messias anunciado pelos profetas da
Antiguidade, foi recebido com desconfiança, até mesmo por João Batista, o
precursor, que certa vez enviou dois emissários para saberem se ele era,
realmente, o esperado Filho de Deus.
Iniciando a pregação do Reino do Céu, não conseguiu o
entendimento imediato nem ao menos de seus discípulos, e desse modo exerceria
seu ministério, entre incompreensões e desprezo, amargura e solidão.
Ninguém desconhece a extrema simplicidade, a completa
humildade, a pobreza e a singeleza com que Jesus marcou sua presença em nosso
planeta. Sem ter sequer onde reclinar a cabeça e sem nada possuir em termos
materiais, cercou-se de pessoas incultas e reuniu em torno de si amigos rudes e
iletrados de uma das regiões mais pobres pertencentes ao Império Romano.
Peregrino paupérrimo, sem bolsa nem cajado, jamais ocupou
qualquer cátedra e, sem nada haver escrito, dividiu as eras terrestres em antes
e depois dele, como ninguém jamais o fez, permanecendo para sempre como a maior
presença, o mais alto marco, a mais elevada e imorredoura expressão de toda a
história humana, em todas as épocas do mundo.
Um fato, contudo, digno de nota é que, apesar da
resistência dos israelitas em reconhecê-lo como o Messias predito nas
Escrituras, o povo que o escutava admirava sua doutrina porque percebia que ele
ensinava como quem tinha autoridade, uma qualidade que não se destacava nas
explanações feitas pelos escribas (Mateus, 7:28-29).
Com efeito, os escribas e os rabinos do mosaísmo costumavam
ser muito minudentes na explanação dos cerimoniais e das práticas exteriores do
culto, mas nunca haviam exposto verdades tão profundas nem lhe sensibilizaram
os corações com tão expressivos apelos à retidão do caráter, à brandura, à
caridade, à misericórdia, ao perdão, à tolerância e ao desapego dos bens
terrenos, como Jesus fez no sermão do monte e em inúmeras outras ocasiões.
Como sábio educador que sempre foi, o Mestre recorria com
frequência às parábolas a fim de melhor interessar e impressionar seus
ouvintes. Esse recurso fez com que seus ensinamentos atingissem diretamente as
mentes e os corações dos homens e, além disso, se perpetuassem na memória dos
povos ao longo dos séculos.
Verdades transcendentais e importantes nos foram trazidas
por Jesus e, assim, registradas nos Evangelhos.
O Mestre revelou-nos a amorosa paternidade do Deus Eterno,
conscientizou-nos de sua onipotente bondade, de sua misericórdia e infalível
justiça, de sua presença onímoda e perene, ensinando-nos a elevar até Ele a
força do nosso pensamento e a confiar com filial devoção em sua infatigável
providência.
Ao proclamar esta síntese da justiça que não falha – “A cada um será dado segundo suas obras” –,
o Cristianismo fiel às suas origens firma-se como a doutrina da moralização dos
costumes e da ética em seus aspectos mais excelentes.
Longe de se constituir em uma nova seita ou um novo
partido, é, em verdade, um código de moral que abrange o direito de todos e
estabelece, ao mesmo tempo, a responsabilidade de cada indivíduo segundo as
condições em que se encontra e a influência que exerce no seio da coletividade.
Para ser cristão, no verdadeiro sentido da palavra, é
preciso, pois, acima de tudo, manter fidelidade a Deus, não apenas nos momentos
de tranquilidade, mas sobretudo nas horas tormentosas, em que tudo parece
desabar e perecer.
O divino legado de Jesus, que a Humanidade ainda não
conseguiu entender, é o de um mundo feliz, de paz e de amor, sem injustiças nem
opróbrios, sem miséria nem orfandade, sem crimes nem ódios, sem fratricídios e
sem guerras.
No exercício de sua missão de amor, Jesus operou fenômenos
considerados milagrosos; no entanto, as curas e os prodígios por ele realizados
pertencem em sua maioria à ordem dos fenômenos psíquicos, ou seja, fenômenos
que têm como causa primária as faculdades e os atributos da alma, razão pela
qual muitos deles foram repetidos ao longo da história por indivíduos diversos,
confirmando esta conhecida assertiva do Messias: “O que eu faço vós podeis
fazer também, e muito mais”.
Espírito perfeito e sábio, Jesus operava prodígios aos
olhos dos terrícolas ainda ignorantes, sem derrogar nenhuma lei da natureza.
Manipulava os fluidos como lúcido conhecedor de suas propriedades e qualidades
e, por isso, não há por que falar em milagres nas curas que operou.
O verdadeiro milagre de sua passagem pela Terra foi outro,
ou seja, ter conseguido em pouco mais de três anos, sem nada haver escrito e
vivendo numa das regiões mais pobres de sua época, modificar a face espiritual
do mundo em que vivemos, o qual, desde então, divide a sua história em “antes”
e “depois” do Cristo.
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