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sábado, 21 de dezembro de 2013

Quando a legalidade vem antes da moralidade

JORGE LEITE DE OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
De Brasília-DF

Amiga leitora, estou agora refletindo sobre legalidade e moralidade. A Justiça Desportiva entende que a primeira vem antes da segunda; nós entendemos que só se for no dicionário...
Nem tudo que é legal é moral e, consequentemente, a recíproca é verdadeira. Quer um exemplo? Quando Jesus esteve entre nós, afirmou peremptoriamente:
– Não vim destruir a lei, mas dar-lhe cumprimento.
No entanto, também disse:
– Ouvistes o que foi dito: olho por olho, dente por dente. Eu, porém, vos digo, não resistais ao mal; antes, porém, amai os vossos inimigos e, ao que lhe bater na face direita, oferece também o lado esquerdo.
– Mas, Machado, onde entram, nos casos citados, a lei divina e a lei humana?
– Ainda não entendeu, dona Justa? Vamos, então, a novo exemplo, com base na fábula do lobo e da ovelha. Certo dia, a ovelha bebia água no rio, tranquila e despreocupada, quando o lobo se lhe aproximou e disse:
– Por que você está bebendo água neste rio, não sabe que ele é meu?
Ao que respondeu o ovino:
 – Não sabia que o rio era seu; mas, se é assim, prometo-lhe nunca mais beber dessa água.
– Além do mais – disse o lobo – ouvi dizer que anda falando mal de mim.
– Como posso estar falando mal do senhor se acabei de conhecê-lo?
– Se não foi você, foi seu pai, foi sua mãe, seu avô ou um dos seus parentes. E nhac, abocanhou a ovelha.
Moral da história: contra a lei do mais forte, não existe argumento.
Essa é uma lei humana.
Vejamos o que aconteceu, depois, com o lupino. Saindo dali com a barriga cheia, após devorar inteiramente sua vítima, o lobo começou a sentir uma terrível cólica, rolou, no chão, em terríveis convulsões e veio a falecer, em algumas horas, de indigestão.
Essa é uma lei divina.
A lei humana é manipulada pela força do poder, ou pelo poder da força. A lei divina é resultante da chamada causa e efeito, ou “a cada um, segundo suas obras”.
Vou ainda ilustrar com um caso folclórico, ocorrido na Atlântida.
Nesse país, houve um torneio em que determinado time foi rebaixado da primeira para a segunda e, em seguida, para a terceira divisão, da qual seria campeão. Essa equipe, entretanto, conseguiu voltar novamente à primeira divisão, graças ao que se chamou ali de “virada de mesa”, sem disputar a “segundona”.
Resultado, as torcidas adversárias e a própria mídia não davam descanso a torcedores e clube, que chamaremos de F*.
Passados treze anos, a gozação continuava:
– Deve uma segunda divisão, dizia um torcedor.
– Acaba de chegar um oficial de justiça à sede do F* para lhe cobrar uma “segundona”, brincava outro. E, assim por diante, as piadas continuavam implacáveis...
Mesmo quando o time era legitimamente campeão da primeira divisão, os torcedores adversários não perdoavam a antiga “virada de mesa” e diziam:
– Só foi campeão porque os outros times são de terceira divisão. Então, não poupavam nem seu próprio time...
Chegou um ano em que a equipe F*, que fora campeã da primeira divisão, no ano anterior, teve suas contas bloqueadas pela justiça comum. Desse modo, não pôde pagar salários e muito menos prêmios aos seus atletas...
O time, então, passou a jogar visivelmente desmotivado, sem contar que, ao se machucar, cada seu atleta de ponta ficava tanto tempo no departamento médico que não mais atuava durante grande número de jogos, senão em todo o resto do campeonato.
No último jogo do torneio nacional, outro time, que chamaremos P**, escalou “equivocadamente” um jogador impedido pela justiça desportiva de atuar naquela partida; e o time F*, que novamente seria rebaixado à segunda divisão, tomou a posição do time P**, rebaixado em seu lugar.
Antes de isso ocorrer, entretanto, o clube C***, temendo seu rebaixamento, já andava procurando “provas” na escalação pelo time P** (pura coincidência) de maior número de jogadores contratados por P** a outros clubes do que o permitido no regulamento, para rebaixar P** em seu lugar. Vendo, porém, que isso seria o mesmo que procurar chifres em cabeça de cavalo, C*** desistiu da ideia; mas P**, coitado, ainda que não corresse mais perigo de rebaixamento, “descuidou-se” do regulamento e escalou um jogador proibido na última partida, conforme dissemos atrás.
E deu no que deu...
Que lamentável, não é, amiga?
Essa foi a justiça dos homens.
– Aí tem dente de coelho... Mas, e a justiça de Deus, Machado, qual foi?
– Um tsunami varreu a Atlântida do globo terrestre.
Mas não falemos mais de baseball, dona Justa.

_______
F* - Por certo que não é o Fluminense, basta ler até o fim e você comprovará isso.
F* - Já lhe disse que não é o Flu... Não insista!
P** - Não, leitora, não é a Lusa.
P** - Não seja teimosa, não é a Portuguesa...
C*** - E quem lhe disse que é o Coxa?
C*** - Pelo amor de Deus, tira o Coritiba dessa lama.

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