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sábado, 1 de março de 2014

Comunicar é preciso, mas nem sempre...


JORGE LEITE DE OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
De Brasília-DF

Amigo leitor, começo parafraseando Fernando Pessoa, que tomou para si o espírito da frase “Navegar é preciso, viver não é preciso” do italiano Petrarca, que, por sua vez, a parafraseou de um general romano chamado Pompeu, o qual, para encorajar os marinheiros medrosos, dizia-lhes: Navegare necesse, vivere non est necesse.
Pois bem, navegar é uma viagem que exige precisão no percurso, o que, desde os tempos antigos, se alcançava com o uso dos astrolábios, depois, das bússolas e, atualmente, por meio dos GPS.
Quanto à navegação via internet, world wide web, abreviada para www, essa viagem nem sempre é precisa... Muitas vezes, não é preciso...
E viver, é preciso? Não, pois, na vida, temos altos e baixos, não há precisão. Viver exige coragem, determinação, escolhas e tentativas nem sempre as mais certas.
Agora, mudando um pouco a paráfrase, já não sei se lhe digo que comunicar é preciso ou que é preciso comunicar, mas o certo é que ocorre cada coisa na comunicação que até os defuntos pulam de seus túmulos. Quer um exemplo? Leia isto:

Avisos paroquiais

Atenção, amados irmãos, neste mês de fevereiro, haverá uma missa cantada por todos os defuntos de nossa paróquia.
Outro aviso:
Por favor, coloquem suas esmolas no envelope, junto com os defuntos que desejem que sejam lembrados.
Leia também estes:
Prezadas senhoras, não esqueçam a próxima venda beneficente. É uma boa ocasião para se livrarem de coisas inúteis. Tragam seus maridos.
O preço do curso sobre oração e jejum não inclui as refeições.
Para todos os que têm filhos e não sabem, temos na paróquia uma área especial para crianças.

Frases jornalísticas

Esta nova terapia traz esperanças a todos aqueles que morrem de câncer a cada ano.
Ela contraiu a doença na época em que estava viva.
A polícia e a justiça são as duas mãos de um mesmo braço.
O presidente é um jovem sexagenário de 80 anos.

Redações escolares

Maria viu seu irmão sentado em sua cadeira.
De quem é a cadeira, dele, ou dela?
As mulheres não compram só os maridos.
Para quem não gosta de pontuar fica o aviso: a falta de uma vírgula pode mudar completamente o sentido de uma frase. Se houvesse sido colocada a vírgula após “compram”, no contexto da frase, apenas os maridos seriam os compradores de algo.
José ficou no banco, quando viu Joana com os binóculos.
Na frase acima, não se sabe em que banco José ficou. No banco da praça? No banco comercial? No banco da escola? Ó mistério!
E Joana foi vista por José quando estava com binóculos ou José estava com binóculos quando viu Joana? Ó dúvida cruel. É quando o aluno que escreveu tal “pérola literária” ameaça até de morte a pobre professora com a justificativa de que, para ele, a frase só tem um sentido. Para ele...
Outro dia, um amigo de meu secretário falou-lhe o seguinte:
— Estou com vontade novamente de ir a Paris.
Ao que Joteli perguntou-lhe:
— Quando você foi lá a última vez?
Resposta do amigo:
— Nunca fui a Paris.
— Mas você não disse que queria ir lá novamente?
— Não, o que eu disse foi que “estava com vontade novamente” de ir lá; mas como não tenho dinheiro, fico só na vontade.
Como podemos observar, amigo leitor, a ambiguidade tanto pode servir para fazer humor, produzir textos literários ou comerciais propositadamente com duplo sentido, como também expressa ignorância crassa de quem fala ou escreve.
Para Pessoa, porém, o que é preciso é criar; enquanto, para nós, para criar é preciso aprender, e, para aprender, é preciso, é necessário viver, pois “Viver é aprender!”
Au revoir.

Visite o blog Jorge, o sonhador: http://www.jojorgeleite.blogspot.com.br/

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