JORGE LEITE DE OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
De Brasília-DF
A crônica de hoje é um
palíndromo: 101.(1)
Comentei, no dia 26 de abril,
sobre o término das homenagens a Shakespeare (1564-1616). Hoje trato sobre seu
início.
A diferença é que o primeiro
comentário é de 1896, e o último, de 2014. Seria um palíndromo ao contrário e
vice-versa, se isso fosse possível...
O que não é possível é cair no
desinteresse uma obra imortal como a do bardo inglês.
Na primeira crônica, afirmei
que “Um dia, quando já não houver império britânico nem república
norte-americana, haverá Shakespeare; quando se não falar inglês, falar-se-á
Shakespeare”.
O que direi nesta?
O bardo nasceu em 23 de abril,
mas foi batizado em 26 desse mês; por isso, oficialmente, somente nessa última
data (26 de abril) é comemorado seu nascimento. Coisa da Igreja...
Pois bem, tão atual é a obra
shakespeariana que as autoridades governamentais decretaram a inclusão, no
currículo escolar, de pelo menos duas peças inteiras do bardo.
Antes que você, amigo leitor
amante da literatura, saia dando pulinhos de alegria, vejo-me constrangidamente
na obrigação de prestar-lhe um esclarecimento: estamos nos referindo às escolas
do Reino Unido.
Mas não se entristeça, a
professora de literatura Laurie Maguire, da Universidade de Oxford, ainda
prefere que os estudantes sejam levados aos teatros, para assistirem ali às
mais belas peças teatrais do bardo inglês.
Embora tratasse de assuntos
locais e populares, em seus dramas, tais como o amor e a morte, a ética e a
política, Shakespeare transformou-os em temas sociais-universais-intemporais.
Confirmando minha crônica sobre a vontade como único diferencial entre nós,
dizia Shakespeare: “Where there is a will, here is a way”.
Uma de suas mais famosas peças
teatrais, Hamlet, foi apresentada em quatro teatros cariocas no último dia 26
de abril.
Que tal se também em Brasília
os nossos políticos parassem um pouco para refletirem sobre a demagogia de suas
vontades corrompidas e, ao lerem ou ouvirem a famosa frase de Hamlet, optassem
por representar, no Planalto Central, o ser e não o parecer honestos?
Não, amigo leitor, não vou
repetir o bordão “To be or not to be, that is the question”. Ele é por demais
conhecido. Gostaria apenas de lembrar, em nosso idioma, alguns versos do poema
em que se insere a frase-verso sobre a questão de “ser ou não ser” (Ato III,
Cena I):
Empresas
de alto escopo e que bem alto planam
Desviam-se
de rumo e cessam até mesmo
De
se chamar ação.
Atualíssimo, não é mesmo, meu
nobre amigo?
Não sei por quê, lembrei-me da
quase agonizante Petrobras...
— E o tal pré-sal, Machado?
— Pano de fundo, amigo, pano de
fundo. Isso se encontra em todo palco teatral.
Comecei com um palíndromo
numérico, não podia deixar de terminar com outro frasal. Então lá vai: ame o
poema. Cessemos de uma vez esse assunto, pois acabo de ser convidado por
Shakespeare a assistir a sua velha peça: A
comédia de erros.
(1) Palíndromo: diz-se de frase ou
palavra que, ou se leia da esquerda para a direita, ou da direita para a
esquerda, tem o mesmo sentido, como, p. ex., Roma é amor e radar.
Acesse, quando puder, o blog http://www.jojorgeleite.blogspot.com.br/
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