sábado, 10 de maio de 2014

O palíndromo e Shakespeare


JORGE LEITE DE OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
De Brasília-DF

A crônica de hoje é um palíndromo: 101.(1)
Comentei, no dia 26 de abril, sobre o término das homenagens a Shakespeare (1564-1616). Hoje trato sobre seu início.
A diferença é que o primeiro comentário é de 1896, e o último, de 2014. Seria um palíndromo ao contrário e vice-versa, se isso fosse possível...
O que não é possível é cair no desinteresse uma obra imortal como a do bardo inglês.
Na primeira crônica, afirmei que “Um dia, quando já não houver império britânico nem república norte-americana, haverá Shakespeare; quando se não falar inglês, falar-se-á Shakespeare”.
O que direi nesta?
O bardo nasceu em 23 de abril, mas foi batizado em 26 desse mês; por isso, oficialmente, somente nessa última data (26 de abril) é comemorado seu nascimento. Coisa da Igreja...
Pois bem, tão atual é a obra shakespeariana que as autoridades governamentais decretaram a inclusão, no currículo escolar, de pelo menos duas peças inteiras do bardo.
Antes que você, amigo leitor amante da literatura, saia dando pulinhos de alegria, vejo-me constrangidamente na obrigação de prestar-lhe um esclarecimento: estamos nos referindo às escolas do Reino Unido.
Mas não se entristeça, a professora de literatura Laurie Maguire, da Universidade de Oxford, ainda prefere que os estudantes sejam levados aos teatros, para assistirem ali às mais belas peças teatrais do bardo inglês.
Embora tratasse de assuntos locais e populares, em seus dramas, tais como o amor e a morte, a ética e a política, Shakespeare transformou-os em temas sociais-universais-intemporais. Confirmando minha crônica sobre a vontade como único diferencial entre nós, dizia Shakespeare: “Where there is a will, here is a way”.
Uma de suas mais famosas peças teatrais, Hamlet, foi apresentada em quatro teatros cariocas no último dia 26 de abril.
Que tal se também em Brasília os nossos políticos parassem um pouco para refletirem sobre a demagogia de suas vontades corrompidas e, ao lerem ou ouvirem a famosa frase de Hamlet, optassem por representar, no Planalto Central, o ser e não o parecer honestos?
Não, amigo leitor, não vou repetir o bordão “To be or not to be, that is the question”. Ele é por demais conhecido. Gostaria apenas de lembrar, em nosso idioma, alguns versos do poema em que se insere a frase-verso sobre a questão de “ser ou não ser” (Ato III, Cena I):

Empresas de alto escopo e que bem alto planam
Desviam-se de rumo e cessam até mesmo
De se chamar ação.

Atualíssimo, não é mesmo, meu nobre amigo?
Não sei por quê, lembrei-me da quase agonizante Petrobras...
— E o tal pré-sal, Machado?
— Pano de fundo, amigo, pano de fundo. Isso se encontra em todo palco teatral.
Comecei com um palíndromo numérico, não podia deixar de terminar com outro frasal. Então lá vai: ame o poema. Cessemos de uma vez esse assunto, pois acabo de ser convidado por Shakespeare a assistir a sua velha peça: A comédia de erros.

(1) Palíndromo: diz-se de frase ou palavra que, ou se leia da esquerda para a direita, ou da direita para a esquerda, tem o mesmo sentido, como, p. ex., Roma é amor e radar.

Acesse, quando puder, o blog http://www.jojorgeleite.blogspot.com.br/

  

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