CÍNTHIA CORTEGOSO
cinthiacortegoso@hotmail.com
De Londrina-PR
Talvez
as montanhas pudessem explicar ao coração do jovem peregrino a imensa vontade
de ajudar que tanto lhe pertencia.
Sua simplicidade comovia os
espectadores dessas atitudes pujantes no amor puro, desinteressado, totalmente
fraterno.
O vilarejo asiático era habitado
por um povoado muito simples em todas as formas. A orientação ministrada entre
aquelas pessoas era a deixada de muitos séculos atrás, quase nada fora
acrescentado durante esse tempo vivido.
A rotina milenar era a do
cuidado da terra, dos animais; a colheita dos alimentos; a atenção com a água
do poço para não se contaminar; a busca do ritmo singelo da vida.
Dai era o nome do peregrino, seu
nome trazia o significado de ser muito atencioso. Em seu vilarejo já havia
conversado com todos e lhes dado carinho, paciência de ouvir, compaixão com as
ocasiões mais delicadas e força nova aos desvalidos. O local estava pequeno e o
jovem necessitava seguir adiante a novos lugares onde sua palavra ainda não
tinha sido ouvida, o seu carinho ainda não havia sido ofertado, nem seu amor
não tinha ajudado quem tanto precisava.
E na manhã de terça-feira após
seu aniversário, Dai se despediu de sua família e de todo o vilarejo. Ele foi
para o horizonte que seu coração escolheu. Desde o início da peregrinação
quanto socorro estendeu também aos menores animaizinhos da natureza. Conversava
com eles como se atende a um filho. Quanta dedicação! Encontrava também algumas
casas simples pela estrada e sempre recebia pouso e um prato de comida, em
troca partilhava o banquete da alma, com tanto entendimento da vida que é una
para todos.
Pernoitava na casa acolhedora e
logo partia para o novo dia de trabalho amparador. Deixava com as pessoas um
pouquinho de si e levava consigo um pouquinho delas: a troca do amor pelo bem.
O jovem sempre tinha o que comer
e um lugar para se abrigar, até mesmo sob a lua e os animais necessitados de
carinho, muitas vezes, passou. O seu objetivo não era mais nenhum tipo de meta
raciocinada, mas a estrada da sua vida com os seus dias vividos para o apoio
fraterno, o passo assertivo para a mansa sensação de um coração completo. E
seguia incansavelmente com a simplicidade e pureza de sentimento.
Um dia se deu conta de quão
longe se encontrava da terra onde nascera, e inimaginavelmente era a sua
felicidade por essa distância, pois constatava o elevado número de irmãos
ouvidos e abraçados por ele; cada vez mais se comprazia e se fortalecia em sua
estrada de luz.
Num início de anoitecer da
estação de outono quando sua sensibilidade bastante aprofundada se encontrava,
o jovem peregrino observou que na estrada não era somente o seu passo a mover a
terra seca, como já presenciara, mas se surpreendeu com o incontável número de
passos que o seguia, uns mais suaves, outros ainda muito pesados; no entanto,
acompanhavam-no tão simpaticamente.
Um pouco surpreso, diminuiu o
ritmo, a fim de distinguir melhor aqueles rostos, mas sem parar o caminho. E
esses olhares eram agradecidos e amorosos. Olhares que foram amparados quando
precisaram, e hoje se encontravam no plano da erraticidade e também os de
outros irmãos que, por meio do exemplo valoroso do jovem peregrino, aprenderam
e se identificaram com seu sentimento tão bondoso que simplesmente compreendera
o chamado do amor.
Dai, em seu tempo de sessenta
anos de peregrinação, continuou com seus companheiros de sintonia e apreço. Aos
poucos, cada um foi socorrido e encaminhado ao local necessário para o seu
progresso.
O sentimento, a atitude, o
pensamento e a palavra proferida são energias muito intensas e contínuas até o
momento que se interfere pelo próprio livre-arbítrio.
Dai, de fato, passou a enxergar
naturalmente os companheiros de caminhada desde o primeiro dia que os viu em
diante; portanto, passou a amparar os irmãos ainda na carne e a assistir,
esclarecer os irmãos de fluido etéreo, os que já se encontravam na outra
dimensão, no entanto, aprendendo ainda com os ensinamentos de uma grande alma.
A luz sobre ele era intensa e os
bons amigos sutis também o amparavam constantemente, ajuda imprescindível e
amorosa.
Tanto se comprova que os
companheiros de ambas as formas serão sempre os que possuírem a mesma vibração
da energia gerada por cada ser.
E agora num amanhecer de outono,
ainda em sua peregrinação, após sessenta anos dedicados aos mais carentes,
agora o senhor Dai, num último suspiro, sobre um monte coberto com relva
verdinha e flores lindas e coloridas, se recostou e se desligou, suavemente, de
seu envoltório carnal: o homem seguiria com sua etapa em outra dimensão.
No instante do desprendimento,
um clarão de luz intenso, harmonioso e protetor se deu num raio considerado de
onde o senhor se encontrava.
A felicidade se fez presente,
pois a hora chegara junto com o cumprimento do dever assumido. E tantos dos que
o acompanhavam hoje, foram amparados por ele num pretérito recente ou nem
tanto, mas se jubilavam e incontáveis outros o receberiam na nova morada.
Dai não fora um homem incomum,
ele, simplesmente, em mais uma existência, compreendera que o amor é a maior
energia de todas, pois está amparado inteiramente pelas mais nobres delas.
Há os homens que ensinam a
pescar; há os homens que ensinam a pescar e amam profundamente.
E o amor sempre será a causa
maior de todas as coisas da vida.
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