JORGE LEITE DE OLIVEIRA
De Brasília-DF
Aos meus habituais leitores, dou uma explicação.
Em geral, apareço aos sábados, outras vezes, aos domingos... Entretanto, durmo
e acordo cedo, com o canto dos passarinhos e o voo das borboletas, que aprecio
enormemente em meu lar, agora noutra dimensão, junto à Carolina.
Como esta crônica só terminará na madrugada de
segunda-feira, deixo-a ao encargo do meu secretário Joteli, maior responsável
pelo que nela está expresso. De meu, apenas o pensamento...
Como lhes disse alhures, a profissão
folhetinesca, agora tornada bloguista, não é exata como os relógios, hoje mais
precisos do que no século XIX, embora a profissão de relojoeiro persista.
Há relógios de pulso que destoam, ao longo de
décadas, apenas poucos segundos, em relação à hora oficial de Brasília.
Mas as pirâmides do Egito e outras, calcula-se
variarem somente seis milímetros entre as pedras que pesam toneladas, colocadas
em sua base, e as que estão no seu topo, sem outra diferença, ao longo dos
milênios.
Dizem que é porque foram feitas em sintonia com
a constelação de Orion etc. etc. etc.
Já os relojoeiros não, esses continuam a
trabalhar pontualmente desde que o relógio foi inventado. Repito-te, amigo
bloguista, o que disse em 1º de agosto de 1864, com adaptações contemporâneas:
Se é lícito ao relógio variar, não é ao blog que se deve pedir uma pontualidade
do Caburaí ao Chuí na Terra de Santa
Cruz.
Mas por falar em tempo, relógio e relojoeiro,
lembra-me Maiakovski e seu ofício de escrever poemas.
Vejo um vulto
ao meu lado e, após os cumprimentos de praxe, eis que ele me diz:
— Falar-te-ei do meu ofício, novamente; sem
pretensão de ensinar a fazer poesia, mas como quem fez versos.
Repito-te, uma vez mais, de modo categórico: não
te dou nenhuma regra capaz de tornar-te poeta, que elas não há, pois o poeta,
como o profeta, é quem cria suas regras ou suas profecias.
Pela enésima vez, repito, o matemático submete
seus cálculos às regras matemáticas; mas nem todos aqueles que calculam são
matemáticos. O poeta, entretanto, nada tem a declarar. Ele simplesmente
declara.
Dizíamos, antanho, que as regras antigas, de
rimar e o verso alexandrino “já não convencem”.
Entretanto, como
disse aos seus íntimos Galileu Galilei, após negar o movimento dos
astros, por imposição dos bispos, para não ter a cabeça decepada: “Creiam eles
ou não, os astros continuam a se mover no espaço”.
Também agora te afirmo, leitor curioso: os
Espíritos continuam a soprar onde quiserem, como afirmou o profeta Nazareno. E
não onde quisermos.
Não te esqueças disso jamais, pois é da mais
alta importância na ciência espiritual.
Dizer a mesma coisa, não é dizer do mesmo modo.
Esta é a grande diferença. Escrever sobre o que tu escreves qualquer um pode
fazê-lo; mas não como escreves.
Ouvi atentamente Maiakovski e, então, animei-me
a repetir-lhe a estrofe de um de seus famosos poemas:
Na primeira noite eles
se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite,
já não se escondem:
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho
em nossa casa,
rouba-nos a luz,
e, conhecendo nosso
medo,
arranca-nos a voz da
garganta.
E já não podemos dizer
nada.
— Meu caro Machado, você copiou muito bem. Mas
vou lhe dizer algo que milhares de internautas não sabem: esses versos não são
meus.
— Caramba, Mai, então fomos enganados?
— Certamente, meu amigo, os versos são de outro
poeta... e poeta brasileiro.
— Não acredito! De quem são, então, Kovski?
— Do poeta Eduardo Alves da Costa (COSTA, E. A.
No caminho com Maiakovski. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985).
— Este é que é o grande problema da internet,
divulga muita mentira. Para compensar o erro, contemplo-te, Maiakovski, e aos
meus leitores com meu soneto inédito, intitulado Deus e ateus:
Pregaram o ateísmo
inicialmente,
Mas não me incomodei,
não sou ateu.
Em seguida, disseram ser
a mente
Apenas excreção
cerebral. Deus
Não existe, a vida é tão
simplesmente
Um casual encontro que
ocorreu
De atração celular e tão
somente
As sensações explicam o
tu e o eu.
Depois disseram não
haver uma alma,
Que o livre-arbítrio é
pura fantasia
E tudo isso aceitei na
maior calma...
Por fim disseram que o
laboratório
Tem confirmado a ateia e
sã teoria...
E eu me destruo por ser
tão simplório.
— Mas esse soneto não é teu, Machado.
— Então, dou-o ao meu secretário e pago-te com
um piparote.
Adiós, Maiakovski; hasta la vista amiga lectora.
Visite o blog: www.jojorgeleite.blogspot.com
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