CÍNTHIA CORTEGOSO
cinthiacortegoso@hotmail.com
De Londrina-PR
O tempo físico computado somava
quase cinco anos completos de sua partida. Senhor Luttemberg, cuja última
existência se dera em Viena, Áustria, recebera notícias de seu grupo familiar,
mas visitá-lo ainda não tivera oportunidade. Ele pôde, em algumas ocasiões
permitidas, acompanhar momentos de seu lar terreno, de seus entes queridos,
ocasiões essas, vistas, de onde o senhor Luttemberg se encontrava, no plano da
erraticidade.
Em vezes inúmeras, esse senhor
que fora tão respeitado por sua conduta reta e trato amoroso na última
existência física, características já conquistadas por seu espírito,
questionava-se quanto mais poderia ter realizado em benefício da família que se
desmantelava diante de entardeceres e alvoreceres.
E de onde estava, sem muito
poder cooperar, sentia muito pela situação vivenciada pela família que a cada
dia se desestruturava por atitudes, palavras e sentimentos tão despropositados
do caminho do bem e do amor.
O senhor Luttemberg, triste e
inconformado, ainda de fato, sofria pelo valor exacerbado que, principalmente,
os filhos davam ao dinheiro e a posições sociais; tudo isso é momentâneo e
terreno. Os filhos, sobre qualquer situação ou pessoa, passavam por cima, e
quanto mais se ratificavam essas situações, maior era a sua tristeza. Não sabia
o que poderia fazer.
No local onde se encontrava para
seu bem-estar e equilíbrio, entendimento e progresso, o senhor cultivava, com
carinho, a amizade mais próxima e enobrecida de dois amigos; eles estavam há
mais tempo por lá e já podiam orientar alguns companheiros que necessitavam de
amparo e de fortalecimento para a seara do bem e do amor.
E numa dessas conversas, o
senhor, muito infeliz com o que lhe fora mostrado sobre sua família, perguntou
e pediu aos amigos:
– O que eu poderia fazer para
ajudar meus entes queridos que se encontram no campo tão arraigado ainda das
paixões, do orgulho, do vício? ... Por favor, me ajudem!
– Caro Luttemberg, estejamos com
fé renovada e a prece incandescida. Tanto é necessário apaziguar, com o
pensamento harmonioso, o coração dos irmãos que se encontram em desatino moral,
emocional. Todos nós já vivenciamos fases de enorme desajuste, no entanto, são
degraus rumo ao progresso. Uns demorarão mais e outros menos sofrerão por
fazerem o percurso em menor tempo também. Toda ação implica a reação para essa
energia e tudo atrairá conforme o que propagar. Acalme-se, irmão! É importante
que procure se restabelecer e, assim, se sentirá melhor e mais poderá ajudá-los
– Heitor, um dos amigos, esclareceu-lhe.
– Sim, amigo. Agradeço-lhes as
palavras e a vibração fraterna e amorosa que me direcionaram.
Luttemberg pediu licença e se
retirou. Precisava pensar um pouco e também serenar as ideias.
Num jardim onde as flores são
tão lindas, os pássaros são tão belos e aquela natureza, incomparável, se
comunicava por sorrisos e uma linguagem inteiramente amorosa, o senhor se
sentou num dos bancos e se pôs a admirar a riqueza divina da esfera onde agora
era sua morada. Os peixes, no pequeno lago do jardim, eram ternos e a vibração
sentida era tão positiva e elevada como tudo no local. As flores eram
inigualáveis e pareciam conversar tão amistosamente entre si. A vida emitia um
brilho que os olhos humanos desconheciam; em todo lugar a claridade de paz e
bem-estar se encontrava.
O senhor Luttemberg foi
envolvido por uma luz calmante e amorosa e tanto se sentiu em harmonia e feliz.
Compreendeu, com a lucidez das ideias, que todos são eternos e perfectíveis, e
sua preocupação não ajudaria nenhuma das partes. Reequilibrou-se e
fortaleceu-se com a prece amparadora aos entes ainda no plano terreno. Rogou ao
Pai, ao Mestre querido, mas sempre antes com o pedido de permissão, que sua
família recebesse socorro e a benéfica intuição para que, aos pouquinhos,
entendesse e assimilasse o caminho novo e verdadeiro, real para a felicidade.
Ele se sentiu mais feliz por
tanta alegria e pelo recebimento de mais uma dádiva, o bálsamo da clareza e
compreensão. Olhou para o lado e a uma distância aproximada de três metros à
sua direita, estava, uma garotinha linda, com seus cinco anos.
– Vovô, em breve irei para a
jornada de mais uma existência na Terra. Serei responsável pela melhor condução
e união de nossa família ‒ a linda menina aproximou-se e abraçou tão docemente
o avô.
No prazo de alguns meses,
Luttemberg recebera a notícia de que sua filha estava grávida e teria uma
menina, como primogênita.
Toda a família terrena, após a
notícia, passou a ter, mesmo que ainda sutil, uma transformação benéfica no
comportamento. E um dos propósitos a alcançar da pequenina menina, espírito
milenar, seria o de levar o amor aos mais recônditos lugares e às mais
implacáveis criaturas, iniciando por seu núcleo familiar.
Seu nome de batismo seria
Amélie, mas seria conhecida mundialmente como irmã Maria Amélia Auxiliadora, a
peregrina do amor aos corações endurecidos e ao mesmo tempo tão carentes.
A ordem divina é primorosa e
perfeita. Há sempre o motivo a encerrar o entendimento. Tudo é assistido e
orientado e a visão é plena em todas as suas possibilidades. O que sempre
caberá a cada espírito é a sua responsabilidade perante seu eterno caminho.
A todos, rege o mesmo princípio,
mas são as decisões que implicarão a estrada íngreme ou o passo mais suave.
É o mesmo céu sobre a planície;
é o mesmo sol a brilhar na manhã; é a mesma lua a iluminar o campo e a cidade;
é a mesma vida a pulsar no universo.
E em sua jornada, a irmã Maria
Amélia Auxiliadora levará o bálsamo do amor compreendido ao maior número de
irmãos.
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