CÍNTHIA CORTEGOSO
cinthiacortegoso@hotmail.com
De Londrina-PR
Nem era domingo à tarde, mas a
felicidade da pequena Tina – redução de Santina – era como se fosse; também
parecia dia de aniversário, no entanto, não era nem um nem outro, o dia era uma
quarta-feira comum.
Após trinta e um dias de
internamento, Tina recebera alta e poderia voltar para casa. Seu estado de
saúde era muito delicado, entretanto, por esse momento, estava, de certa forma,
estável. Ela tinha exatamente oito anos e cinco meses. Essa vez somava a décima
oitava internação sofrida pela pequena menina e sempre pelo mesmo motivo.
Sua mãe, de mão dada com a
filha, andava devagar a fim de acompanhar as pernas menores e também pela
debilidade que a criança se encontrava; finalmente, caminhavam pelo corredor do
hospital buscando a saída. Até chegarem à porta delimitada, muitos foram os
cumprimentos, despedidas, beijos e abraços entre a pequena Tina e os
funcionários do local e, entre estes, desde o ajudante geral até os doutores
com cursos no exterior. Sempre se reconhecem a verdadeira simplicidade e o puro
sentimento e todos se afeiçoam aos seres com esses quesitos. E os que a
abraçavam, emocionados, sentiam, na ocasião, a
doce fragilidade, revestida, pela valentia de querer viver; Tina tanto
amava a vida.
Finalmente, mãe e filha passaram
a porta que ligava ao mundo comum, pois se sabe que o ambiente de um hospital
não é muito agradável, embora o local seja de grande ajuda, ou melhor,
imprescindível para o refazimento e auxílio dos inúmeros necessitados do
momento, mas não deixa de ser um local em que a reflexão se torna mais
acentuada e o sentimento, mais sedento pela vida simples e encantadora do lar,
pois os dias em casa eram resultantes de uma vida mais tranquila e,
principalmente, sem internações, como era o caso de Tina.
O céu estava azul e o sol bem
dourado e quentinho. Quando a pequena voltou ao ambiente da sociedade, da
correria, dos compromissos e horários, avistou pessoas andando; alguns cachorrinhos,
de rua mesmo, passeando nas calçadas; os carros; os ônibus; o barulho
característico de pessoas vivendo o dia a dia... de fato, Tina se alegrou e
sentiu seu coraçãozinho com mais vida, ela queria viver, embora, seus pulmões
fossem tão sensíveis e de precário funcionamento, mas sentiu-se tão feliz.
Parou um pouquinho, de mão dada
com a mãe, para observar os ricos detalhes surpreendentes daquele momento,
daquela imagem. E tanto se encantou e tanto desejava aproveitar cada segundo.
De repente viu, nas flores dos
canteiros da calçada, um beija-flor colorido e tão cheio de alegria, viu também
crianças feito ela, com os pais, tão contentes e soltando a gargalhada pueril e
tão singela. E como Tina queria viver, e quanta felicidade sentia, pois havia resistido
a mais uma internação, essa oportunidade era novo presente de Deus.
E para o outro lado, quando
olhou, percebeu rapidinho um quiosque de sorvete de casquinha. Seus olhinhos
brilharam. Ficou encantada e com muita vontade de provar a guloseima gelada e
tão apreciada pelas crianças em todos os continentes.
Sua mãe compreendeu o olhar da
pequena, mas antes de negar o pedido, já se antecipou:
– Filha, você sabe que não pode.
A menina olhou tão ternamente
para a mãe e depois para a direção do sorvete.
– Por favor, filha, vamos pegar
um táxi! – decidida, a mãe falou.
– Mamãe, é só um sorvete de
casquinha, comerei com tanto gosto... – a pequena, com doçura, falou.
– Meu bem, você sabe de sua
fragilidade... estamos saindo do hospital agora, minha querida... – a mãe
tentou convencê-la.
A menina tanto olhava para o
quiosque de sorvete.
– Por favor, mamãe! Deixo
derreter bem na boca antes de engolir e ficará mais morninho.
– Meu amor, cuidamos tanto
nesses últimos dias...
A mãe não teve como manter sua
opinião. Olhou bem para a filha e lhe falou:
– Tina, compraremos o sorvete;
minha razão tenta me impedir, mas meu sentimento me rende e possibilita essa
ação.
– Oba, mamãe! Vou derreter bem
antes de engolir e vai descer bem quentinho... e ficarei feliz e o doutor me
falou que quando sentimos felicidade, o nosso corpo fica bem forte. Obrigada,
mamãe! – os olhos da pequena se encheram de alegria.
E mãe e filha se aproximaram do
carrinho de sorvete.
– Por favor, senhor, gostaria de
um sorvete de chocolate – a menina olhou para a mãe e pediu com tanta alegria;
seus olhinhos estavam sorrindo.
– Sim, senhorita! – o vendedor,
com a animação que lhe era própria, respondeu.
– Mas não precisa ser muito
sorvete, o senhor pode colocar só metade do tamanho normal – a menina sorriu e
olhou para a mãe.
A pequena havia compreendido que
o compromisso com a mãe era muito importante, pois se a mãe permitira o desejo,
era de grande sensibilidade e compreensão que a filha cooperasse com uma
atitude sábia e carinhosa.
E o vendedor entregou à pequena
uma metade de sorvete de chocolate na casquinha. Tão feliz se sentiu a criança
que deixava mais uma internação, que, mais uma vez, deixava o hospital.
No momento em que Tina pegou a
casquinha, seus olhinhos viraram estrelinhas radiantes e todo um bálsamo de
bem-estar foi solto pelo corpo infantil.
As duas buscaram, com passos
calmos, o ponto de táxi. Voltariam para casa. Uma mão materna levaria a malinha
de roupas e a outra mão estava dada com a mão esquerda da filha querida, pois a
mãozinha direita carregava o delicioso sorvete de casquinha.
Quanta conquista e amor naquele
ato.
A menina olhou para a mãe e
falou:
– Obrigada, mamãe! Tão
importante foi para mim e também tão delicioso está... hummm...
– Minha filha, tanto peço por
sua felicidade... que Deus sempre a proteja!
– Ele já me protege, mamãe, pois
colocou você como minha mãe, quem tanto me cuida e me ama.
Sorriram amorosamente e entraram
no táxi.
– Você é que é o meu anjo, minha
princesa querida – a mãe, emocionada, falou.
E as duas, no carro, seguiram
para o lar que as esperava. Quase chegando a casa, a filha terminava o sorvete,
demorou um pouquinho, pois derretia na boca antes de engolir.
– Que delícia, mamãe!
– Sim, meu bem. Era só um
sorvete.
– Não, mamãe, era um sorvete de
casquinha que tanto me deixou feliz e animada.
– Sim, filha! – a mãe concordou
sorrindo e limpou o cantinho da boca da filha sujinho de sorvete.
O que parece pouco para uns é
infinito para outros. Quando se analisa a real situação deve-se buscar, também,
a luz benéfica da história para sempre contentar o maior número de corações.
E o táxi parou em frente ao lar
que as esperava. O cãozinho amoroso já estava ao portão, com tanta euforia as
recebeu.
Outra oportunidade havia surgido
para a pequena Tina e sua família.
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