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terça-feira, 4 de novembro de 2014

A bondade no ato solidário


CÍNTHIA CORTEGOSO
cinthiacortegoso@hotmail.com
De Londrina-PR

A metrópole começava a se despertar.
– Obrigada!
Assim agradeceu a senhora idosa, ajudada, por uma jovem para atravessar a rua.
E mais à frente um ônibus estacionou em uma das paradas, mas um de seus passageiros, no ponto onde precisava descer, quase ficou retido, pois faltava uma moeda de pequeno valor para inteirar o preço da passagem; Maria, uma faxineira rumo ao trabalho, completou o pouco faltante.
O passageiro se chamava Jorge, era um servente da construção civil, e havia gastado, à noite, grande quantia para comprar o remédio de seu único filho de cinco meses, que era muito adoentado e frágil.
– Obrigado, senhora. Sempre estou neste horário e neste itinerário, ainda esta semana lhe pagarei a moeda – Jorge, tão agradecido, falou.
– Não há nada a acertar. Está tudo certo – bem decidida, Maria falou.
– Muito obrigado!
– Que Deus o abençoe!
Jorge foi para um lado e Maria buscou o lado oposto.
O sol estava mais brilhoso e quente.
Na mesma rua, ao lado de um quiosque no qual havia salgados, sucos e vitaminas, um garoto, engraxate, com aproximadamente, doze anos, sem querer, escapou-lhe uma sacola da mão vindo a perder o almoço que estava numa marmita amassadinha cuja tampa não fechava direito; a simples comida espalhou pelo asfalto acinzentado.
Os olhos do menino demonstravam verdadeiro desânimo e nítida tristeza. Não poderia voltar para casa e nem conseguiria ficar o dia todo sem comer, só restava um pouco de água numa garrafa de refrigerante barato.
Observando o ocorrido, o jovem dono do quiosque aproximou-se do desolado rapazinho, que reunia as duas partes da marmita, e falou:
– São coisas da vida... não fique triste!
O menino, engraxate, olhou com olhos rasos de lágrimas e completou:
– Mas não tenho nada para comer e preciso trabalhar até escurecer.
O dono ouviu com atenção e muito se comoveu e perguntou:
– Qual o seu nome?
– É Indra.
– Então, Indra, te darei salgado e vitamina suficientes para passar o dia, bem alimentado.
O garoto sorriu pelo sorriso amplo e pelos olhos brilhosos, nunca havia comido algo tão saboroso como o que lhe fora oferecido.
Então, Indra, já com a sacola para sua alimentação do dia, abraçou o jovem dono e seguiu seu caminho. Dois corações felizes e aliviados.
E durante o percurso para chegar ao ponto onde trabalhava, o menino se deparou com um cachorrinho muito fraquinho e fragilizado, seu olhar era de medo e insegurança.
Ficou acuado, perto de uma árvore e, à medida que o garoto se aproximava dele, começava a tremer ainda mais.
Com cuidado e carinho, Indra passou suavemente a mão na cabeça do animalzinho de que tanto amor necessitava.
Devagar, pegou um salgado há pouco ganhado e em pedaços bem pequeninos alimentou o cãozinho. Depois de alimentado e mais seguro, o pequeno até começou a balançar com timidez sua cauda.
O menino não poderia deixá-lo ali, ainda estava frágil e precisava de um lar. E os olhos do cãozinho imploravam por proteção.
– Não posso te deixar aqui – o menino falou baixinho acariciando o pequeno amigo e olhando para ele.
Indra não conseguiu evitar, pegou o cãozinho e o levou consigo. Os dois chegaram ao local.
O garoto arrumou a sua caixa de engraxate e estava pronto para começar o trabalho. Ele olhou para o cão e sentiu tanto carinho e pena pela fragilidade. Mas teve uma ideia, ou seja, recebeu uma intuição, a de escrever, num pedaço de papelão, as seguintes palavras: “Por favor, sou um cãozinho sem lar e sem nome, preciso de seu carinho.” E colocou o papelão, escorado, em pé no muro próximo de onde estavam.
O primeiro cliente para Indra, aparecera. Era um homem bem apessoado e com uma menina de aproximadamente nove anos, que deveria ser sua filha. Quando a garotinha viu o cãozinho e leu as palavras escritas de improviso, seus olhinhos brilharam de tanta ternura e compaixão.
Ela chegou perto do animalzinho; ele olhou ternamente e, ao mesmo tempo, receoso, com medo, mas abaixou a cabeça querendo receber proteção. E a menina, com puro sentimento, passou a mão na cabecinha do animal e lhe falou com atenção e cuidado algumas palavrinhas... e buscou o olhar paterno.
– Papai, este cãozinho precisa de um lar. Pobrezinho! Podemos levá-lo para a nossa casa?
Com imensa esperança, a menina perguntou.
O homem observou a filha e também o cãozinho, este parecia compreender cada palavra e fazia ainda mais carinha de desamparado. O pai esperou mais uns segundos e respondeu com outra pergunta:
– Você cuidaria dele com dedicação e responsabilidade, filha? O animalzinho precisa de cuidado e atenção.
– Sim, papai. Cuidarei dele com muito amor.
Então, o homem olhou mais uma vez para os dois.
– Está bem, minha filha. Poderemos levá-lo.
Quanta alegria sentiu o coraçãozinho da menina, assim também se sentiu o cãozinho. Então, seguiram os três para o lar da família.
O sol que brilha é o mesmo para todos; as oportunidades de ações solidárias podem ocorrer ao longo das vinte e quatro horas, ininterruptas. É necessário querer ser solidário.
Quando o coração experimenta essa maravilhosa e benéfica energia, não é capaz de viver mais sem. De certa forma, todas as ações estão interligadas e atraídas pela energia gerada. Boas ações encaminham para novas boas ações; tudo se agrupa de acordo com a vibração emitida.
Quão melhor levar a bondade ao próximo, muito mais que isso, ao irmão da caminhada rumo ao desenvolvimento, rumo à felicidade geral do Planeta, este ainda que é de provas e expiações, mas no futuro, com maior grau de realizações solidárias, tornar-se-á um lugar muito mais aprazível e de bem-estar comum.
Assim, as borboletas se ajudam, também os animais se solidarizam e compreende-se que só o bem é capaz de lapidar o coração e libertá-lo para o progresso.


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