CÍNTHIA CORTEGOSO
cinthiacortegoso@hotmail.com
De Londrina-PR
A metrópole
começava a se despertar.
– Obrigada!
Assim
agradeceu a senhora idosa, ajudada, por uma jovem para atravessar a rua.
E mais à
frente um ônibus estacionou em uma das paradas, mas um de seus passageiros, no
ponto onde precisava descer, quase ficou retido, pois faltava uma moeda de
pequeno valor para inteirar o preço da passagem; Maria, uma faxineira rumo ao
trabalho, completou o pouco faltante.
O passageiro
se chamava Jorge, era um servente da construção civil, e havia gastado, à
noite, grande quantia para comprar o remédio de seu único filho de cinco meses,
que era muito adoentado e frágil.
– Obrigado, senhora. Sempre
estou neste horário e neste itinerário, ainda esta semana lhe pagarei a
moeda – Jorge, tão agradecido, falou.
– Não há nada
a acertar. Está tudo certo – bem decidida, Maria falou.
– Muito obrigado!
– Que Deus o
abençoe!
Jorge foi
para um lado e Maria buscou o lado oposto.
O sol estava
mais brilhoso e quente.
Na mesma rua,
ao lado de um quiosque no qual havia salgados, sucos e vitaminas, um garoto,
engraxate, com aproximadamente, doze anos, sem querer, escapou-lhe uma sacola
da mão vindo a perder o almoço que estava numa marmita amassadinha cuja tampa
não fechava direito; a simples comida espalhou pelo asfalto acinzentado.
Os olhos do
menino demonstravam verdadeiro desânimo e nítida tristeza. Não poderia voltar
para casa e nem conseguiria ficar o dia todo sem comer, só restava um pouco de
água numa garrafa de refrigerante barato.
Observando o
ocorrido, o jovem dono do quiosque aproximou-se do desolado rapazinho, que
reunia as duas partes da marmita, e falou:
– São coisas da vida... não
fique triste!
O menino,
engraxate, olhou com olhos rasos de lágrimas e completou:
– Mas não
tenho nada para comer e preciso trabalhar até escurecer.
O dono ouviu
com atenção e muito se comoveu e perguntou:
– Qual o seu nome?
– É Indra.
– Então,
Indra, te darei salgado e vitamina suficientes para passar o dia, bem
alimentado.
O garoto
sorriu pelo sorriso amplo e pelos olhos brilhosos, nunca havia comido algo tão
saboroso como o que lhe fora oferecido.
Então, Indra,
já com a sacola para sua alimentação do dia, abraçou o jovem dono e seguiu seu
caminho. Dois corações felizes e aliviados.
E durante o
percurso para chegar ao ponto onde trabalhava, o menino se deparou com um
cachorrinho muito fraquinho e fragilizado, seu olhar era de medo e insegurança.
Ficou acuado,
perto de uma árvore e, à medida que o garoto se aproximava dele, começava a
tremer ainda mais.
Com cuidado e
carinho, Indra passou suavemente a mão na cabeça do animalzinho de que tanto
amor necessitava.
Devagar,
pegou um salgado há pouco ganhado e em pedaços bem pequeninos alimentou o
cãozinho. Depois de alimentado e mais seguro, o pequeno até começou a balançar
com timidez sua cauda.
O menino não
poderia deixá-lo ali, ainda estava frágil e precisava de um lar. E os olhos do
cãozinho imploravam por proteção.
– Não posso
te deixar aqui – o menino falou baixinho acariciando o pequeno amigo e olhando
para ele.
Indra não
conseguiu evitar, pegou o cãozinho e o levou consigo. Os dois chegaram ao
local.
O garoto
arrumou a sua caixa de engraxate e estava pronto para começar o trabalho. Ele
olhou para o cão e sentiu tanto carinho e pena pela fragilidade. Mas teve uma
ideia, ou seja, recebeu uma intuição, a de escrever, num pedaço de papelão, as
seguintes palavras: “Por favor, sou um cãozinho sem lar e sem nome, preciso de
seu carinho.” E colocou o papelão, escorado, em pé no muro próximo de onde
estavam.
O primeiro
cliente para Indra, aparecera. Era um homem bem apessoado e com uma menina de
aproximadamente nove anos, que deveria ser sua filha. Quando a garotinha viu o
cãozinho e leu as palavras escritas de improviso, seus olhinhos brilharam de
tanta ternura e compaixão.
Ela chegou
perto do animalzinho; ele olhou ternamente e, ao mesmo tempo, receoso, com
medo, mas abaixou a cabeça querendo receber proteção. E a menina, com puro
sentimento, passou a mão na cabecinha do animal e lhe falou com atenção e
cuidado algumas palavrinhas... e buscou o olhar paterno.
– Papai, este cãozinho precisa
de um lar. Pobrezinho! Podemos levá-lo para a nossa casa?
Com imensa
esperança, a menina perguntou.
O homem
observou a filha e também o cãozinho, este parecia compreender cada palavra e
fazia ainda mais carinha de desamparado. O pai esperou mais uns segundos e
respondeu com outra pergunta:
– Você
cuidaria dele com dedicação e responsabilidade, filha? O animalzinho precisa de
cuidado e atenção.
– Sim, papai. Cuidarei dele com
muito amor.
Então, o
homem olhou mais uma vez para os dois.
– Está bem,
minha filha. Poderemos levá-lo.
Quanta
alegria sentiu o coraçãozinho da menina, assim também se sentiu o cãozinho.
Então, seguiram os três para o lar da família.
O sol que
brilha é o mesmo para todos; as oportunidades de ações solidárias podem ocorrer
ao longo das vinte e quatro horas, ininterruptas. É necessário querer ser
solidário.
Quando o
coração experimenta essa maravilhosa e benéfica energia, não é capaz de viver
mais sem. De certa forma, todas as ações estão interligadas e atraídas pela
energia gerada. Boas ações encaminham para novas boas ações; tudo se agrupa de
acordo com a vibração emitida.
Quão melhor
levar a bondade ao próximo, muito mais que isso, ao irmão da caminhada rumo ao
desenvolvimento, rumo à felicidade geral do Planeta, este ainda que é de provas
e expiações, mas no futuro, com maior grau de realizações solidárias,
tornar-se-á um lugar muito mais aprazível e de bem-estar comum.
Assim, as
borboletas se ajudam, também os animais se solidarizam e compreende-se que só o
bem é capaz de lapidar o coração e libertá-lo para o progresso.
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