O conselho acima nos foi dado por Valérium
(Espírito) em seu livro Bem-aventurados
os simples (edição FEB de 1962), aos nos mostrar em imagem singela como o
ato de amor enriquece a obra da beneficência.
Certa pessoa pediu a um amigo que desse ao
primeiro cão que encontrasse na rua um osso previamente selecionado. Ao se
aproximar o animal, o amigo jogou-lhe, com desprezo, o osso. O cachorro pegou-o
desconfiado e partiu indiferente. Algum tempo depois, a pessoa deu a outro cão
que por ali passava um osso semelhante ao primeiro, mas, em vez de jogar-lhe a
prenda, chamou-o com palavras amigas, em que vibrava o sentimento de carinho,
expressão do amor universal. O cão aproximou-se e permaneceu ao lado de seu
novo amigo, a lamber-lhe as mãos.
Valérium conclui sua narrativa dizendo que
devemos estender, sim, quanto pudermos, as obras de caridade. “Contudo –
adverte –, ajudando alguém, é preciso saber como você ajuda.”
Esse conselho vem bem a propósito nestes dias que antecedem mais um Natal.
A beneficência, uma virtude tão enaltecida
nas épocas natalinas, mereceu todo um capítulo do livro O Evangelho segundo o Espiritismo, de Kardec.
Devemo-la praticar sempre – tal é a
recomendação cristã-espírita – mas sem propósito de ostentação, ou seja,
ocultando a mão que dá, o que é sinal de indiscutível superioridade moral,
porquanto, além da caridade material, se exercita para com o assistido a
caridade moral. “O sublime da verdadeira generosidade é quando o benfeitor,
mudando de papel, encontra o meio de parecer ele mesmo beneficiado em face
daquele a quem presta serviço”, eis o que Kardec registra no capítulo 13 da
obra citada.
Existem modos inúmeros de se praticar a
caridade, na qual se inclui a beneficência em prol dos menos aquinhoados.
Cáritas assim se referiu ao assunto: “Há
várias maneiras de se fazer a caridade, que muitos dentre vós confundem com a
esmola; há, todavia, uma grande diferença. A esmola, meus amigos, é algumas
vezes útil porque alivia os pobres, mas é quase sempre humilhante para aquele
que a faz e para aquele que a recebe. A caridade, ao contrário, liga o
benfeitor e o beneficiado, e depois se disfarça de tantas maneiras! Pode-se ser
caridoso mesmo com os parentes, com os amigos, sendo indulgentes uns para com
os outros, em se perdoando as fraquezas, em tendo cuidado para não ferir o
amor-próprio de ninguém: para vós, espíritas, em vossa maneira de agir para com
aqueles que não pensam como vós, em conduzindo os menos esclarecidos a crerem,
e isso sem os chocar, sem contradizer suas convicções, mas os conduzindo muito
suavemente às nossas reuniões, onde poderão nos ouvir e onde saberemos
encontrar a brecha do coração por onde devemos penetrar. Eis um aspecto da
caridade”. (O Evangelho segundo o
Espiritismo, cap. 13, item 14.)
Cáritas examina, em seguida, a beneficência
para com os pobres e relata o trabalho das senhoras que, anonimamente, visitam
e assistem as mães carentes, levando-lhes o agasalho nas épocas de frio, o
remédio, o pão e a solidariedade que torna em fardos suaves as provas mais
difíceis.
Pode-se criticar – e certamente criticam –
as obras erguidas pela beneficência sob o argumento de que o ideal seria que
todos pudessem, por seu próprio esforço, receber a justa remuneração que os
isentasse do auxílio alheio. Claro que esse seria o ideal de uma sociedade em
que Cristo imperasse através de seus ensinamentos, porquanto numa comunidade
organizada segundo a visão evangélica ninguém deveria passar fome. Ocorre que
os críticos se esquecem de que nem sempre temos condições de reverter o quadro
social. Há crianças padecendo de fome, de frio, de moléstias derivadas da
desnutrição. Há famílias vivendo humildemente em casebres desprovidos de luz,
de água e de qualquer conforto. Por isso, enquanto os que dirigem a Nação vão
moldando a sua face para construir um País mais digno, que os homens de bem
façam também a sua parte, para mostrar, sobretudo, que existe solidariedade e
que a mais pobre de todas as criaturas não está abandonada à própria sorte, sem
a proteção de Deus.
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