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sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

No Invisível (22)



Estudamos semanalmente no Centro Espírita Nosso Lar, de Londrina (PR), o livro “No Invisível”, um dos clássicos do Espiritismo, de autoria de Léon Denis. São duas as turmas de estudo, uma na terça à noite, a outra na quinta-feira à tarde.
Reproduzimos, em seguida, o texto de mais um módulo concluído, cuja publicação tem por finalidade proporcionar, a quem se interessar, a oportunidade de acompanhar o mencionado estudo.

Questões para debate

A. A fé e a vontade são fatores importantes na terapia por meio da imposição das mãos?  
Sim. A fé vivaz, a vontade, a prece e a evocação dos poderes superiores amparam o operador e o sensitivo. Quando ambos se acham unidos pelo pensamento e pelo coração, a ação curativa é mais intensa. A vontade de aliviar ou de curar comunica ao fluido magnético propriedades curativas. Um homem bom e sadio pode atuar sobre os seres débeis e enfermiços, regenerá-los por meio de sopro, pela imposição das mãos e mesmo por meio de objetos impregnados da sua energia. (No Invisível - O Espiritismo experimental: Os fatos - XV - A força psíquica - Os fluidos - O magnetismo.)

B. É verdade que o magnetismo não se limita à ação terapêutica?
Sim, é verdade. O magnetismo tem um alcance muito maior. É um poder que desata os laços constritores da alma e descerra as portas do mundo invisível; é uma força que em nós dormita e que, utilizada, valorizada por uma preparação gradual, por uma vontade enérgica e persistente, nos desprende do pesadume(1) carnal, nos emancipa das leis do tempo e do espaço, nos dá poder sobre a Natureza e sobre as criaturas. O sono magnético tem diversas graduações, que se desdobram e vão do sono ligeiro até ao êxtase e ao transe. (Obra citada - O Espiritismo experimental: Os fatos - XV - A força psíquica - Os fluidos - O magnetismo.)

C. Como e onde se iniciou a história do moderno Espiritualismo?
Ela começou por um caso de natureza mal-assombrada: as manifestações na casa da família Fox, em Hydesville, Estados Unidos, no início do ano de 1848. Mediante pancadas nas paredes – sendo cada letra do alfabeto designada por um número correspondente de pancadas –, a Inteligência que assim se comunicava afirmou ter vivido na Terra. Soletrou seu nome, indicou sua profissão de mascate e entrou em muitas particularidades acerca do seu fim trágico, particularidades ignoradas de todos e cuja exatidão foi reconhecida mais tarde. (Obra citada - O Espiritismo experimental: Os fatos - XVI - Fenômenos espontâneos - Casas mal-assombradas – Tiptologia.)

Texto para leitura

608. A vontade de aliviar ou de curar comunica ao fluido magnético propriedades curativas. O remédio para os nossos males está em nós. Um homem bom e sadio pode atuar sobre os seres débeis e enfermiços, regenerá-los por meio de sopro, pela imposição das mãos e mesmo mediante objetos impregnados da sua energia. Opera-se mais frequentemente por meio de gestos, denominados passes, rápidos ou lentos, longitudinais ou transversais, conforme o efeito, calmante ou excitante, que se quer produzir nos doentes. Esse tratamento deve ser seguido com regularidade e as sessões renovadas todos os dias até a cura completa.
609. Pode assim a pessoa, pela automagnetização, tratar-se a si mesma, descarregando com o auxílio de passes ou de fricções os órgãos enfraquecidos e impregnando-os das correntes de força desprendidas das mãos.
610. A fé vivaz, a vontade, a prece e a evocação dos poderes superiores amparam o operador e o sensitivo. Quando ambos se acham unidos pelo pensamento e pelo coração, a ação curativa é mais intensa.
611. A exaltação da fé, que provoca uma espécie de dilatação do ser psíquico e o torna mais acessível aos influxos do Alto, permite admitir e explicar certas curas extraordinárias operadas nos lugares de peregrinação e nos santuários religiosos. Esses casos de curas são numerosos e baseados em testemunhos muito importantes para que se possa a todos pôr em dúvida. Não são peculiares a tal ou tal religião: encontram-se indistintamente nos mais diversos meios: católicos, muçulmanos, hindus etc.
612. Livre de todo acessório teatral, de todo móvel interesseiro, praticado com o fim de caridade, o magnetismo vem a ser a medicina dos humildes e dos crentes, do pai de família, da mãe para seus filhos, de quantos sabem verdadeiramente amar. Sua aplicação está ao alcance dos mais simples. Não exige senão a confiança em si, a fé no Poder Infinito que por toda parte faz irradiar a vida e a força. Como o Cristo e os apóstolos, como os santos, os profetas e os magos, todos nós podemos impor as mãos e curar, se temos amor aos nossos semelhantes e o desejo ardente de os aliviar.
613. Quando o paciente se acha adormecido sob a influência magnética e parece oferecer-se à sugestão, não a empregueis senão com palavras de doçura e de bondade. Persuadi, em lugar de intimar. Em todos os casos, recolhei-vos em silêncio, sozinho com o paciente, e apelai para os Espíritos benfazejos que pairam sobre as dores humanas. Então sentireis descer do Alto sobre vós e propagar-se ao sensitivo o poderoso influxo. Uma onda regeneradora penetrará por si mesma até à causa do mal; e demorando, renovando semelhante ação, tereis contribuído para aligeirar o fardo das misérias terrestres.
614. Quando se observa o grande poder do magnetismo curativo e os serviços que já tem prestado à Humanidade, sente-se que nunca seria demasiado protestar contra as tendências dos poderes públicos, em certos países, no sentido de lhe embaraçar o livre exercício. Assim procedendo, eles violam os mais respeitáveis princípios, calcam aos pés os sagrados direitos do sofrimento. O magnetismo é um dom da Natureza e de Deus. Regular-lhe o uso, coibir os abusos, é justo. Impedir, porém, a sua aplicação seria usurpar a ação divina, atentar contra a liberdade e o progresso da Ciência e fazer obra de obscurantismo.
615. O magnetismo não se limita, unicamente à ação terapêutica; tem um alcance muito maior. É um poder que desata os laços constritores da alma e descerra as portas do mundo invisível; é uma força que em nós dormita e que, utilizada, valorizada por uma preparação gradual, por uma vontade enérgica e persistente, nos desprende do pesadume(1) carnal, nos emancipa das leis do tempo e do espaço, nos dá poder sobre a Natureza e sobre as criaturas.
616. O sono magnético tem diversas graduações, que se desdobram e vão do sono ligeiro até ao êxtase e ao transe. O coronel De Rochas considera os três primeiros graus como superficiais e constitutivos da hipnose. A sugestão é aplicável a esses estados; desde que, porém, aos processos hipnóticos se acrescentam os dos magnetizadores, fenômenos superiores se apresentam: catalepsia, sonambulismo, transe. No primeiro caso, verifica-se o estado favorável às manifestações espíritas: materializações de Espíritos, aparições de clarões, mãos, fantasmas etc.; no segundo, apresenta-se a lucidez, o estado de clarividência, que permite ao médium guiar o magnetizador em sua ação curativa, descrevendo a natureza das enfermidades, indicando remédios etc.
617. Nos estados superiores do sonambulismo, o sensitivo escapa à ação do magnetizador e readquire sua liberdade própria, sua vida espiritual. Quanto mais se acentua o desprendimento do corpo fluídico, mais inerte se torna o corpo físico, em um estado semelhante ao da morte. Ao mesmo tempo, os pensamentos, as sensações se apuram, a repulsa à vida terrestre se manifesta. A volta ao organismo provoca cenas pungitivas, acessos de lágrimas, amargos queixumes.
618. O mundo dos fluidos, mais que qualquer outro, está submetido às leis da atração. Pela vontade, atraímos forças boas ou más, em harmonia com os nossos pensamentos e sentimentos. Delas se pode fazer uso formidável; mas aquele que se serve do poder magnético para o mal, cedo ou tarde o vê contra si próprio voltar-se. A influência perniciosa exercida sobre os outros, em forma de sortilégios, de feitiçaria, de enguiço, recai fatalmente sobre aquele que a engendrou.
619. Em hipnotismo, como em magnetismo, se o operador não tem intenções puras, caráter reto, a experimentação será arriscada tanto para ele quanto para o sensitivo. Não penetreis, pois, nesse domínio sem a pureza de coração e a caridade. Nunca ponhais em ação as forças magnéticas, sem lhes acrescentar o impulso da prece e um pensamento de amor sincero por vossos semelhantes. Assim procedendo, estabelecereis a harmonia de vossos fluidos com o dinamismo divino e tornareis sua ação mais profunda e eficaz.
620. Pelo magnetismo transcendente – o dos grandes terapeutas e dos iniciados – o pensamento se ilumina; sob o influxo do Alto os nossos sentimentos se exaltam; uma sensação de calma, de vigor, de serenidade nos penetra; a alma sente, pouco a pouco, dissiparem-se todas as mesquinhas subalternidades do “eu” humano e surgirem os aspectos superiores de sua natureza. Ao mesmo tempo em que aprende a esquecer-se de si, em benefício e para salvação dos outros, sente despertarem-se-lhe novas e desconhecidas energias.
621. Possa o magnetismo benfazejo desenvolver-se na Terra, pelas aspirações generosas e pela elevação das almas! Tenhamos bem presente que toda ideia contém no estado potencial sua realização, e saibamos comunicar a nossas vibrações fluídicas a irradiação de nobres e elevados pensamentos. Que uma vigorosa corrente ligue entre si as almas terrestres e as vincule a suas irmãs mais velhas do Espaço! Então as maléficas influências, que retardam a marcha e o progresso da Humanidade, se dispersarão sob os influxos do espírito de amor e sacrifício.
622. XVI - Fenômenos espontâneos - Casas mal-assombradas – Tiptologia – Logo que se esflora o estudo das manifestações espíritas, uma primeira necessidade se impõe: a de uma classificação metódica e rigorosa. Ao primeiro aspecto, a massa dos fatos é considerável e apresenta uma certa confusão. Acompanhando o desenvolvimento do moderno Espiritualismo, há meio século, reconhecemos que esses fatos se têm graduado, desdobrado em série, obedecendo a um programa traçado, a um método preciso, de modo a pôr cada vez mais em evidência a causa que os produzia.
623. Vaga e confusa a princípio, nos fenômenos das casas mal-assombradas, a personalidade oculta começa a afirmar-se na tiptologia e depois na escrita; adquire caracteres determinados na incorporação mediúnica e torna-se visível e tangível nas materializações. Nessa ordem é que se têm desenvolvido os fatos, multiplicando-se progressivamente, de modo a atrair a atenção dos indiferentes, a forçar a opinião dos cépticos e a demonstrar a todos a sobrevivência da alma humana.
624. Essa ordem, a que se poderia chamar histórica, é a que por nossa parte adotaremos em nosso estudo dos fenômenos espíritas. Poder-se-ia igualmente dividir este em duas categorias: os fatos de natureza física e os fatos intelectuais. Nos primeiros, o médium desempenha papel passivo; é o foco de emissão, de que emanam os fluidos e as energias com cujo concurso os invisíveis atuarão sobre a matéria e manifestarão sua presença. Nos outros fenômenos o médium exerce função mais importante. É ele o agente transmissor dos pensamentos do Espírito; e, como vimos precedentemente, seu estado psíquico, suas aptidões, seus conhecimentos, influem, às vezes, de modo sensível nas comunicações obtidas.
625. A história do moderno Espiritualismo começou por um caso de natureza mal-assombrada. As manifestações na casa de Hydesville, assim visitada, em 1848, e as tribulações da família Fox, que nela residia, são bem conhecidas. Recordá-las-emos apenas em um breve resumo.
626. Todas as noites, uma Inteligência invisível acusava estar presente por meio de ruídos violentos e contínuos, abrindo e fechando as portas, arrastando os móveis, arrebatando as roupas das camas. Mãos frias e rudes agarravam as Srtas. Fox e o soalho oscilava sob uma ação desconhecida.
627. Mediante pancadas nas paredes – sendo cada letra do alfabeto designada por um número correspondente de pancadas –, essa Inteligência afirmou ter vivido na Terra. Soletrou seu nome, Carlos Rosma, indicou sua profissão de mascate e entrou em muitas particularidades acerca do seu fim trágico, particularidades ignoradas de todos e cuja exatidão foi reconhecida pela descoberta de ossadas humanas na adega, precisamente no lugar indicado pelo Espírito como o do enterramento do seu cadáver, após o assassínio.  Essas ossadas achavam-se misturadas com resíduos de carvão e cal, que demonstravam a evidente intenção de fazer desaparecer todo vestígio desse misterioso acontecimento.
628. Afluíram os curiosos; a casa tornou-se insuficiente para conter a multidão, vinda de todas as partes. Ocasião houve em que se reuniram quinhentas pessoas para ouvirem os ruídos. Foi por essa manifestação, tão nova e tão estranha para aqueles que a testemunharam, numa humilde casa de uma pobre vila do Estado de Nova Iorque, em presença de pessoas da mais modesta condição, que o segredo da morte foi divulgado por um ser invisível, no silêncio da noite. Pela primeira vez, nos tempos modernos, um pouco de claridade penetrou por sob a porta que separa o mundo dos vivos do mundo dos desencarnados.
629. Por sua natureza espontânea, inesperada, pelas comovedoras circunstâncias que a rodeiam, essa manifestação escapa a todas as explicações e teorias que se têm procurado opor ao Espiritismo. A sugestão, do mesmo modo que a alucinação e o inconsciente, é impotente para explicá-la. A família Fox era de uma honorabilidade a toda prova, ligada à Igreja Episcopal Metodista, cujos ofícios frequentava com regularidade. Educados na mais estrita rotina religiosa, todos os seus membros ignoravam a possibilidade de tais fatos, a cujo respeito se achavam absolutamente desprevenidos.
630. Longe de obterem de tais manifestações a mínima vantagem, estas foram para eles a causa de desgostos e de perseguições sem conta. Com elas perderam a saúde e o sossego. Sua reputação e seus recursos ficaram destruídos. Apesar de todos os esforços que empregaram para os evitar, e de uma partida precipitada e mudança de residência, os fenômenos os perseguiram sem tréguas, sendo tudo inútil para escaparem à ação dos Espíritos.
631. Às reiteradas injunções dos invisíveis, não houve remédio senão tornar públicas as manifestações, afrontar o palco do Corinthian-Hall, em Rochester, suportar os humilhantes rigores de muitas comissões de exame e os insultos de um público hostil, para provar a possibilidade das relações entre os dois mundos, visível e invisível.
632. Voltemos à casa mal-assombrada de Hydesville. Carlos Rosma (ou Rosna) não era o único a aí se manifestar. Um grande número de Espíritos de todas as condições, parentes ou amigos das pessoas presentes, intervinham, respondendo por pancadas às perguntas feitas, soletrando seus nomes próprios, fornecendo indicações exatas e inesperadas de sua identidade, dando explicações sobre os fenômenos produzidos e o modo de os obter, explicações que tiveram como resultado a formação dos primeiros círculos ou grupos, nos quais os fatos foram estudados e provocados com o auxílio de mesinhas, pranchetas e outros objetos materiais.
633. Os Espíritos precursores declaravam não agir por sua iniciativa. Essas manifestações, diziam eles, eram o resultado da vontade e da direção dos Espíritos mais elevados, filósofos e sábios, executores, por sua vez, de ordens vindas de mais alto e tendo por objetivo uma vasta e importante revelação que se devia estender ao mundo inteiro.
634. Com efeito, a intervenção desses Espíritos e, entre outros, do Dr. Benjamin Franklin, foi repetidas vezes comprovada. Mais tarde, nas sessões de aparição de Estela Livermore, em Nova Iorque, esse mesmo Benjamin Franklin se tornou visível e foi reconhecido por várias pessoas.
635. Dentro em pouco as manifestações se multiplicaram e propagaram. De cidade em cidade, de Estado em Estado, invadiram todo o norte da América. O poder mediúnico se revelou num grande número de pessoas e até no seio de famílias ricas, influentes, ao abrigo de toda suspeita de fraude.
636. Houve, sem dúvida, no começo muita incerteza e confusão. Nem sempre os atores invisíveis eram sérios: Espíritos levianos e atrasados se imiscuíam nas sessões, ditando comunicações pueris, absurdas, e permitindo-se toda sorte de divagações e excentricidades; mas também se obtinham fatos importantes, ditados de real merecimento, como o atestam o reverendo Jervis, ministro metodista de Rochester, o Dr. Langworth, o reverendo Ch. Hannon  etc.
637. Todos esses fatos tiveram sua utilidade, no sentido de ensinarem a conhecer os diferentes aspectos do mundo invisível. Graças aos erros e decepções, pôde ser adquirida a experiência das coisas ocultas e pouco a pouco se fez luz sobre as condições da vida no além-túmulo. O movimento se tornou permanente e simultâneo. Pode-se dizer que o Espiritismo não partiu de um ponto fixo; brotou espontaneamente de todos os Estados da União, independente da iniciativa humana, e prosseguiu sua rota, apesar dos obstáculos de toda ordem acumulados pela ignorância e pelos malévolos preconceitos.
638. Desde seu aparecimento, porém, sublevou contra si todos os poderes constituídos, todas as influências, todas as autoridades deste mundo, e por único sustentáculo teve alguns humildes servidores da Verdade, pessoas na maior parte obscuras, mas que uma legião invisível fortalecia e amparava.
639. Nada mais tocante que as exortações e conselhos prodigalizados às irmãs Fox por seus Espíritos protetores, conselhos sem os quais, mocinhas tímidas e assustadiças, jamais teriam ousado arrostar, com risco da própria vida, um público ameaçador, nem suportar as cenas tumultuosas do Corinthian-Hall.
640. As injúrias, as calúnias, todos os excessos de uma imprensa em delírio tiveram sobretudo como resultado atrair a atenção pública para esses fenômenos estranhos e demonstrar aos observadores sérios que aí intervinham causas independentes da vontade do homem. Delineado por mãos poderosas e impalpáveis, desdobrava-se um plano, cuja realização nada poderia embaraçar.

 (1) Pesadume: peso, carga, carregamento; azedume, acrimônia, aspereza.


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