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domingo, 27 de março de 2016

A dor e os flagelos em uma perspectiva espírita



Tudo o que vive neste mundo – a natureza, os animais e os homens – sofre e, no entanto, foi por amor que Deus formou os seres.
Tal informação estabelece uma contradição, aparentemente inexplicável, que já perturbou muitos pensadores e os levou à dúvida e ao pessimismo.
Com as luzes trazidas pela doutrina espírita, o fato é perfeitamente compreensível.
O animal está sujeito à luta ardente pela vida. Entre as ervas do prado, as folhas e a ramaria dos bosques, nos ares, no seio das águas, por toda a parte desenrolam-se dramas ignorados.
No tocante à Humanidade, sabemos que sua história nada mais é que um longo martirológio. Ao longo dos tempos, por cima dos séculos, rola a triste epopeia dos sofrimentos humanos. A dor segue-nos os passos, espreita-nos em todas as voltas do caminho, e, diante dessa esfinge que o fita com seu olhar estranho, o homem tem feito e ainda se faz a eterna pergunta: Por que existe a dor?
Valendo-nos das palavras acima, escritas por Léon Denis, podemos dizer que, fundamentalmente considerada, a dor é “uma lei de equilíbrio e educação”. Nesse sentido, tudo que a produz, como os flagelos naturais tão frequentes no mundo, ocorre para que a Humanidade possa “progredir mais depressa”. O flagelo, que tem sido interpretado geralmente como algo prejudicial, seria, então, na realidade, o meio pelo qual as transformações necessárias ao progresso humano se realizam com maior rapidez.
Há, sem dúvida, outros processos menos rigorosos para levar os homens ao progresso, e Deus os emprega todos os dias, dando a todos os meios de progredir pelo conhecimento do bem e do mal, o que nem sempre é levado em conta pela criatura que habita este globo, o que torna necessária a utilização de outros processos que mostrem aos homens sua fragilidade em face da vida, abatendo, por consequência, o sentimento de orgulho, que gera os principais males que atrasam o progresso moral da Humanidade.
Com o abatimento do orgulho, a Humanidade se transforma, como já se transformou noutras épocas, e cada transformação é assinalada por uma crise que é para o gênero humano o que são, para as pessoas, as crises de crescimento. Essas crises tornam-se muitas vezes penosas, dolorosas, mas são sempre seguidas de uma fase de grande progresso material e moral.
Quando os flagelos naturais – cataclismos, enchentes, epidemias, pragas que assolam as plantações, seca, terremotos, ciclones, maremotos e erupções vulcânicas – se abatem sobre a Humanidade, muitos, certamente, revoltam-se contra Deus e perdem oportunidades valiosas de crescimento, pela falta de compreensão perfeita do significado de tais fatos.
A incompreensão que gera a revolta deriva obviamente do desconhecimento da Lei do Carma ou de Causa e Efeito, que exerce sua influência inelutável sobre as pessoas, individualmente consideradas, e sobre os grupos sociais.
Em face disso, quando uma família, uma nação ou determinado grupo étnico busca algo que lhe traga maiores satisfações, esforça-se por melhorar suas condições de vida ou adota medidas que visem a acelerar seu desenvolvimento, sem prejudicar ou fazer mal a outrem, estará contribuindo para a evolução da Humanidade, e isso é bom. Ela receberá, então, novas e mais amplas oportunidades de trabalho e progresso, que conduzem os indivíduos que a constituem a níveis cada vez mais elevados.
Se, porém, procede de modo diferente, sofrerá, mais cedo ou mais tarde, a perda de tudo o que adquiriu injustamente, em circunstâncias mais ou menos trágicas e aflitivas, conforme o grau de malícia e crueldade que tenha caracterizado suas ações. É assim que, mais tarde, em outras existências planetárias, são chamadas a expiações coletivas ou individuais, sob a forma de flagelos ou outros processos de natureza semelhante.
Cabe, no entanto, assinalar que muitos dos chamados flagelos resultam tão somente da imprevidência do homem, que os vai prevenindo à medida que adquire conhecimento e experiência, sendo certo, porém, que entre os males que afligem a Humanidade há alguns de caráter geral, previstos nos decretos da Providência, dos quais cada pessoa recebe, mais ou menos, o contragolpe. A esses, portanto, nada pode o homem opor, a não ser sua submissão à vontade de Deus.
Na primeira linha dos flagelos destruidores, naturais e independentes do homem, devem ser colocadas a peste, a fome, as inundações e as intempéries fatais à produção agrícola. Enfrentando tais flagelos, o homem é impulsionado pela necessidade a buscar soluções para libertar-se do mal que o ataca. É então que a dor se torna um processo, um meio de equilíbrio e educação, como entendia e dizia Léon Denis.


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