Tudo
o que vive neste mundo – a natureza, os animais e os homens – sofre e, no
entanto, foi por amor que Deus formou os seres.
Tal
informação estabelece uma contradição, aparentemente inexplicável, que já
perturbou muitos pensadores e os levou à dúvida e ao pessimismo.
Com
as luzes trazidas pela doutrina espírita, o fato é perfeitamente compreensível.
O
animal está sujeito à luta ardente pela vida. Entre as ervas do prado, as
folhas e a ramaria dos bosques, nos ares, no seio das águas, por toda a parte desenrolam-se
dramas ignorados.
No
tocante à Humanidade, sabemos que sua história nada mais é que um longo
martirológio. Ao longo dos tempos, por cima dos séculos, rola a triste epopeia
dos sofrimentos humanos. A dor segue-nos os passos, espreita-nos em todas as
voltas do caminho, e, diante dessa esfinge que o fita com seu olhar estranho, o
homem tem feito e ainda se faz a eterna pergunta: Por que existe a dor?
Valendo-nos
das palavras acima, escritas por Léon Denis, podemos dizer que,
fundamentalmente considerada, a dor é “uma lei de equilíbrio e educação”. Nesse
sentido, tudo que a produz, como os flagelos naturais tão frequentes no mundo,
ocorre para que a Humanidade possa “progredir mais depressa”. O flagelo, que
tem sido interpretado geralmente como algo prejudicial, seria, então, na
realidade, o meio pelo qual as transformações necessárias ao progresso humano
se realizam com maior rapidez.
Há,
sem dúvida, outros processos menos rigorosos para levar os homens ao progresso,
e Deus os emprega todos os dias, dando a todos os meios de progredir pelo
conhecimento do bem e do mal, o que nem sempre é levado em conta pela criatura
que habita este globo, o que torna necessária a utilização de outros processos
que mostrem aos homens sua fragilidade em face da vida, abatendo, por
consequência, o sentimento de orgulho, que gera os principais males que atrasam
o progresso moral da Humanidade.
Com
o abatimento do orgulho, a Humanidade se transforma, como já se transformou
noutras épocas, e cada transformação é assinalada por uma crise que é para o
gênero humano o que são, para as pessoas, as crises de crescimento. Essas
crises tornam-se muitas vezes penosas, dolorosas, mas são sempre seguidas de
uma fase de grande progresso material e moral.
Quando
os flagelos naturais – cataclismos, enchentes, epidemias, pragas que assolam as
plantações, seca, terremotos, ciclones, maremotos e erupções vulcânicas – se
abatem sobre a Humanidade, muitos, certamente, revoltam-se contra Deus e perdem
oportunidades valiosas de crescimento, pela falta de compreensão perfeita do
significado de tais fatos.
A
incompreensão que gera a revolta deriva obviamente do desconhecimento da Lei do
Carma ou de Causa e Efeito, que exerce sua influência inelutável sobre as
pessoas, individualmente consideradas, e sobre os grupos sociais.
Em
face disso, quando uma família, uma nação ou determinado grupo étnico busca
algo que lhe traga maiores satisfações, esforça-se por melhorar suas condições
de vida ou adota medidas que visem a acelerar seu desenvolvimento, sem
prejudicar ou fazer mal a outrem, estará contribuindo para a evolução da
Humanidade, e isso é bom. Ela receberá, então, novas e mais amplas
oportunidades de trabalho e progresso, que conduzem os indivíduos que a
constituem a níveis cada vez mais elevados.
Se,
porém, procede de modo diferente, sofrerá, mais cedo ou mais tarde, a perda de
tudo o que adquiriu injustamente, em circunstâncias mais ou menos trágicas e
aflitivas, conforme o grau de malícia e crueldade que tenha caracterizado suas
ações. É assim que, mais tarde, em outras existências planetárias, são chamadas
a expiações coletivas ou individuais, sob a forma de flagelos ou outros
processos de natureza semelhante.
Cabe,
no entanto, assinalar que muitos dos chamados flagelos resultam tão somente da
imprevidência do homem, que os vai prevenindo à medida que adquire conhecimento
e experiência, sendo certo, porém, que entre os males que afligem a Humanidade
há alguns de caráter geral, previstos nos decretos da Providência, dos quais
cada pessoa recebe, mais ou menos, o contragolpe. A esses, portanto, nada pode
o homem opor, a não ser sua submissão à vontade de Deus.
Na
primeira linha dos flagelos destruidores, naturais e independentes do homem,
devem ser colocadas a peste, a fome, as inundações e as intempéries fatais à
produção agrícola. Enfrentando tais flagelos, o homem é impulsionado pela
necessidade a buscar soluções para libertar-se do mal que o ataca. É então que
a dor se torna um processo, um meio de equilíbrio e educação, como entendia e dizia
Léon Denis.
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