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sábado, 23 de abril de 2016

Contos e crônicas




Compra de votos na República das Bananas

JORGE LEITE DE OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
De Brasília-DF

Estamos em 4743... Leia atentamente esta crônica, leitora amiga, faça a adição da diferença de anos em relação à data citada no quinto parágrafo, de baixo para cima, e perceberá algo que, por ora, não lhe posso revelar. Sua inteligência o dirá...
Quem primeiro acertar as datas reais ganhará um poema inédito meu. É só informar seu endereço eletrônico (assinado: Machado).
Na República das Bananas, uma quadrilha apossou-se do governo de um presídio onde estava a maioria dos corruptos, assassinos e ladrões, com o pretexto de que iria instaurar, ali, não o comunismo, pois este já não dera certo na ex-URSS, mas um novo socialismo, em que ninguém mais do povo precisaria trabalhar, pois sempre haveria bananas para todos. Os companheiros da direção central (única) trabalhariam, ops, fariam seus cabos eleitorais, pelegos e outros iludidos trabalharem para “extrair”, das grandes instituições financeiras da nação, tudo o que pudessem.
Além disso, aproveitando a “dica” do governo demagógico anterior, criariam dúzias de benefícios para a pobre e miserável criminosa população do presídio. Os indignados ladrões e assassinos teriam direito a todos as benesses governamentais quando fossem presos: visitas diárias de seus amantes e companheiros, peladas em campos adredemente preparados para o futebol e, para quem não gostasse de jogar bola, a opção do vôlei, do basquete, do ping-pong, da sinuca, do carteado... Ainda mais, cada presidiário teria direito a uma cela de 80m² com banheiro, sauna, chuveiro de água quente, cama para casal, tv, fogão e geladeira. O detalhe é que os gastos com alimentos e bebidas, ficaria por conta de cada presidiário. Afinal, para que serviria tanto dinheiro roubado?
Um desses gatunos, amigo da diretora do presídio, sugeriu-lhe criar mais quinze ou vinte ministérios, além dos 25 já existentes, anexos ao presídio, e nomeá-lo ministro de um deles. Justamente o da “Defesa Civil”, ainda inexistente, pois considerou uma injustiça estar sendo investigado após ter sido substituído pela atual diretora na administração do presídio. O motivo? Recusa de um tríplex de 220m² que considerou muito pequeno para abrigar sua família: ele, mulher e dois filhos. Um deles, gênio das finanças, que fez de uma microempresa, cujo valor não ultrapassava B$ 60.000,00 (sessenta mil bananas), um império de mais de um bilhão de bananas, graças à ajuda despretensiosa de empresários beneficiados por seu pai, quando diretor do presídio, para não serem presos.
Desse modo, como ministro da defesa civil, o ex-diretor adquiriria imunidade ante os tribunais inferiores e somente a Alta Corte da República o poderia julgar.
Imediatamente, sua sucessora concedeu-lhe um “salvo conduto” a ser apresentado, caso uma juizinha desajuizada pretendesse levá-lo para trás das grades. Desmascarado por um grampo de telefone que, inadvertidamente, surpreendeu a mandatária do presídio em tratativa com ele, o ex-diretor, sujo nome (não é cujo, e sim sujo mesmo) é Lalau ficou temporariamente impedido de exercer o cargo.
Mas a diretora apelou, e o caso foi parar no STF.
Nesse meio-tempo, descobriu-se que a diretora pedalava sua bicicleta no horário de expediente, deixando todos os presos com total liberdade no presídio, para saírem, assaltarem bancos, matarem inimigos do Estado, etc. Foi o bastante para alguém propor também seu impedimento.
Porém, entretanto, todavia, contudo, para isso ocorrer, todos os seguranças da cadeia, em número de 504 (conforme último censo) deveriam votar favoravelmente ao impeachment da querida diretora (fichada injustamente pelo DOPS, órgão de repressão a guerrilheiros, bandidos e bandidas da nação em 4691, junto com seu companheiro Lalau).
Ora, amigo leitor, 70% de todos os atuais seguranças, menos os de um partido moderador, que pulou fora, como ratos em fuga de navio afundando, além dos oposicionistas, que sempre os há, mesmo nas piores ditaduras, disseram que votariam a favor da diretora se (Há sempre um “se” em cada história.) a mandatária do presídio lhes garantisse a ínfima quantia de 1,5 milhão em suas contas e a permanência no cargo. Isso sem o desconto de B$500.000 (quinhentas mil bananas), foi o que ficou bem claro, para que todos contribuíssem, com seu imposto único em prol da melhoria do presídio. Afinal, um milhão é um milhão, não é mesmo, caro leitor?
Havia outra opção: quem faltasse à votação receberia B$600.000,00 (seiscentas mil bananas) livres de impostos. Tudo isso foi combinado pessoalmente... Olha o grampo!
Acertado isso, durante a votação pelo impeachment da diretora, apenas meia dúzia de otários optou por ser contra sua presença no governo. A diretora saiu aclamada, seu ministro foi restabelecido no controle civil e a República continuou sendo a das Bananas.
Os cidadãos da República, porém, estavam atentos. E o pau quebrou...






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