Compra de votos na República das Bananas
JORGE LEITE DE OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
De Brasília-DF
Estamos em 4743... Leia atentamente esta crônica, leitora amiga, faça a adição da diferença
de anos em relação à data citada no quinto parágrafo, de baixo para cima, e
perceberá algo que, por ora, não lhe posso revelar. Sua inteligência o dirá...
Quem primeiro acertar as datas reais ganhará
um poema inédito meu. É só informar seu endereço eletrônico (assinado:
Machado).
Na República das Bananas, uma quadrilha
apossou-se do governo de um presídio onde estava a maioria dos corruptos,
assassinos e ladrões, com o pretexto de que iria instaurar, ali, não o
comunismo, pois este já não dera certo na ex-URSS, mas um novo socialismo, em
que ninguém mais do povo precisaria trabalhar, pois sempre haveria bananas para
todos. Os companheiros da direção central (única) trabalhariam, ops, fariam
seus cabos eleitorais, pelegos e outros iludidos trabalharem para “extrair”,
das grandes instituições financeiras da nação, tudo o que pudessem.
Além disso, aproveitando a “dica” do governo
demagógico anterior, criariam dúzias de benefícios para a pobre e miserável
criminosa população do presídio. Os indignados ladrões e assassinos teriam
direito a todos as benesses governamentais quando fossem presos: visitas
diárias de seus amantes e companheiros, peladas em campos adredemente preparados
para o futebol e, para quem não gostasse de jogar bola, a opção do vôlei, do
basquete, do ping-pong, da sinuca, do carteado... Ainda mais, cada presidiário
teria direito a uma cela de 80m² com banheiro, sauna, chuveiro de água quente,
cama para casal, tv, fogão e geladeira. O detalhe é que os gastos com alimentos
e bebidas, ficaria por conta de cada presidiário. Afinal, para que serviria
tanto dinheiro roubado?
Um desses gatunos, amigo da diretora do
presídio, sugeriu-lhe criar mais quinze ou vinte ministérios, além dos 25 já
existentes, anexos ao presídio, e nomeá-lo ministro de um deles. Justamente o
da “Defesa Civil”, ainda inexistente, pois considerou uma injustiça estar sendo
investigado após ter sido substituído pela atual diretora na administração do
presídio. O motivo? Recusa de um tríplex de 220m² que considerou muito pequeno
para abrigar sua família: ele, mulher e dois filhos. Um deles, gênio das
finanças, que fez de uma microempresa, cujo valor não ultrapassava B$ 60.000,00
(sessenta mil bananas), um império de mais de um bilhão de bananas, graças à
ajuda despretensiosa de empresários beneficiados por seu pai, quando diretor do
presídio, para não serem presos.
Desse modo, como ministro da defesa civil, o
ex-diretor adquiriria imunidade ante os tribunais inferiores e somente a Alta
Corte da República o poderia julgar.
Imediatamente, sua sucessora concedeu-lhe um
“salvo conduto” a ser apresentado, caso uma juizinha desajuizada pretendesse
levá-lo para trás das grades. Desmascarado por um grampo de telefone que,
inadvertidamente, surpreendeu a mandatária do presídio em tratativa com ele, o
ex-diretor, sujo nome (não é cujo, e sim sujo mesmo) é Lalau ficou
temporariamente impedido de exercer o cargo.
Mas a diretora apelou, e o caso foi parar no
STF.
Nesse meio-tempo, descobriu-se que a
diretora pedalava sua bicicleta no horário de expediente, deixando todos os
presos com total liberdade no presídio, para saírem, assaltarem bancos, matarem
inimigos do Estado, etc. Foi o bastante para alguém propor também seu
impedimento.
Porém, entretanto, todavia, contudo, para
isso ocorrer, todos os seguranças da cadeia, em número de 504 (conforme último
censo) deveriam votar favoravelmente ao impeachment
da querida diretora (fichada injustamente pelo DOPS, órgão de repressão a
guerrilheiros, bandidos e bandidas da nação em 4691, junto com seu companheiro
Lalau).
Ora, amigo leitor, 70% de todos os atuais
seguranças, menos os de um partido moderador, que pulou fora, como ratos em
fuga de navio afundando, além dos oposicionistas, que sempre os há, mesmo nas
piores ditaduras, disseram que votariam a favor da diretora se (Há sempre um
“se” em cada história.) a mandatária do presídio lhes garantisse a ínfima
quantia de 1,5 milhão em suas contas e a permanência no cargo. Isso sem o
desconto de B$500.000 (quinhentas mil bananas), foi o que ficou bem claro, para
que todos contribuíssem, com seu imposto único em prol da melhoria do presídio.
Afinal, um milhão é um milhão, não é mesmo, caro leitor?
Havia outra opção: quem faltasse à votação
receberia B$600.000,00 (seiscentas mil bananas) livres de impostos. Tudo isso
foi combinado pessoalmente... Olha o grampo!
Acertado isso, durante a votação pelo impeachment da diretora, apenas meia
dúzia de otários optou por ser contra sua presença no governo. A diretora saiu
aclamada, seu ministro foi restabelecido no controle civil e a República
continuou sendo a das Bananas.
Os cidadãos da República, porém, estavam
atentos. E o pau quebrou...
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