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segunda-feira, 2 de maio de 2016

As mais lindas canções que ouvi (188)



Ontem ao luar

Catulo da Paixão Cearense e Pedro Alcântara

Ontem,  ao luar, nós dois em plena solidão,
Tu me perguntaste o que era a dor de uma paixão.
Nada respondi, calmo assim fiquei,
Mas, fitando o azul do azul do céu,
A lua azul eu te mostrei,
Mostrando-a ti, dos olhos meus correr senti
Uma nívea lágrima e, assim, te respondi.
Fiquei a sorrir por ter o prazer
De ver a lágrima nos olhos a sofrer...

A dor da paixão não tem explicação,
Como definir o que só sei sentir.
É mister sofrer para se saber
O que no peito o coração não quer dizer.

Pergunta ao luar, travesso e tão taful,
De noite a chorar na onda toda azul.
Pergunta ao luar, do mar à canção,
Qual o mistério que há na dor de uma paixão.

Se tu desejas saber o que é o amor
E sentir o seu calor,
O amaríssimo travor(1) do seu dulçor,
Sobe um monte à beira-mar, ao luar,
Ouve a onda sobre a areia a lacrimar.
Ouve o silêncio a falar na solidão
De um calado coração
A penar, a derramar os prantos seus.
Ouve o choro perenal,
A dor silente, universal,
E a dor maior, que é a dor de Deus.

Se tu queres, mais, saber a fonte dos meus ais,
Põe o ouvido aqui na rósea flor do coração.
Ouve a inquietação da merencória pulsação,
Busca saber qual a razão
Por que ele vive assim tão triste a suspirar,
A palpitar em uma desesperação,
A queimar de amar um insensível coração,
Que a ninguém dirá no peito ingrato em que ele está,
Mas que ao sepulcro fatalmente o levará.


(1) Travor: travo; Impressão de desagrado ou de amargor.


Você pode ouvir a canção acima, na voz dos intérpretes abaixo, clicando nos links citados:
Francisco Petrônio & Dilermando Reis - https://www.youtube.com/watch?v=OXi1WuCNAtw



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