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quinta-feira, 9 de junho de 2016

Pérolas literárias (154)



Expiação

Lafayette Melo

Enterro de outro corpo. Abrindo a campa fria,
Ocorreu a imprevista exumação... O achado
Do cadáver de borco(1), horrível, macerado,
No pavor da aflição, recordando a agonia...

Torva interrogação pairou, rude e sombria:
– Fora enterrado vivo o inditoso finado?...
Mas, no Espaço, o problema era já superado:
Caso triste e invulgar de catalepsia...

Alguém pagou à Lei o ceitil derradeiro,
No sofrimento atroz dos minutos da morte,
De um crime feito atrás quando fora coveiro.

E a alma foi demandando as esferas da Altura,
Exultante de amor, resplandecente e forte,
Mais livre e mais feliz, mais serena e mais pura!...



(1) De borco: deitado com o peito ou com a face para baixo; em decúbito ventral; com a boca para baixo.

O soneto acima integra o livro Antologia dos Imortais, obra psicografada por Waldo Vieira e Francisco Cândido Xavier. Lafayette Melo, natural de Uberaba-MG, foi professor, poliglota e jornalista e um dos fundadores e diretores de O Garoto, em sua terra natal.



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