Deus está com todos, inclusive os ateus
JORGE LEITE DE OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
De Brasília-DF
Leitor amigo, contrariamente ao que se diz, parte
dos cientistas, filósofos, poetas, artistas e escritores, de todos os tempos,
são ateus, mas Deus está com eles.
Explico o paradoxo esclarecendo-lhe o
significado de a-théos como a- pref.
de origem latina com a acepção de afastamento, separação; e théos, elemento de composição grego com
o significado de deus. Eles não são contra Deus e também não negam
que Deus possa existir. Apenas ainda não têm Deus como algo de sua preocupação,
ser infinito, criador do Universo e de tudo o que nele existe; objeto de culto,
de adoração ou, mesmo, como personificação masculina de uma divindade superior
à criatura humana, criada por Ele.
O Espiritismo é uma Filosofia Espiritualista
que, como todas as religiões deístas, crê em Deus, mas não como
"personificação humana" e, sim, como "Princípio Supremo"
que explica a existência, a ordem, a razão do universo e "garantia dos
valores morais" (Aurélio), Nesse
sentido, o conceito de Deus difere do conceito religioso teísta, pessoal. Deus
não é "alguém", é "algo" que escapa ao nosso entendimento,
ainda. Por isso, a primeira pergunta d'O
Livro dos Espíritos (LE), escrito por Allan Kardec, substitui o pronome
"quem", das questões tradicionais do Cristianismo, por
"que": "Que é Deus?" E os espíritos respondem: "Deus é
a inteligência suprema, causa primeira de todas as coisas".
Nessa acepção filosófica, diversos ateus
consideram mais racional o conceito de Deus. Entretanto... continuam
"afastados" dele, por não considerarem nada ainda provado. Prove que
Deus existe, de modo insofismável, e nenhum ateu ficará mais
"separado" de Deus.
Primeira "prova". O Universo existe
desde sempre, mas ele precisa de uma causa para essa existência, por um axioma
científico de que não há efeito sem causa.
O nada nada produz (LE, q. nº 4).
Segunda "prova". Todos trazemos o
sentimento instintivo sobre a existência de Deus. Tanto isso é verdade que, no
momento em que nossa vida corre grande perigo, instintivamente, quer sejamos
ateus ou crentes, dizemos: "Valha-me, Deus" ou coisa semelhante.
Quando o “ateu” Oscar Niemeyer estava com 104 anos, próximo de ir para o campo
dos pés juntos, respondeu a um entrevistador que lhe perguntara sobre a saúde,
após sua alta hospitalar, com a seguinte frase: "Seja o que Deus
quiser".
Isso eu ouvi com os ouvidos que Deus me deu!
Um "gênio, um filósofo e um santo",
nas palavras de Eça de Queirós, foi o poeta português Antero de Quental (+ 8
abr. 1842 - 11 set. 1891), que, em seus poemas, influenciado pelas teorias
niilistas, questionava a existência de Deus. Até que, acometido de terrível
hipocondria, julgou melhor dar fim à própria vida com dois tiros na cabeça. Em
vida, um dos seus sonetos questionava
NIHIL
Homem!
Homem! Mendigo do Infinito!
Abres a
boca e estendes os teus braços
A ver se os
astros caem dos espaços
A encher o
vácuo imenso do finito!
Por que
sobes à rocha de granito?
Por que é
que dás no ar tantos abraços?
E cuidas
amarrar com férreos laços
Um reflexo
da sombra de um esp’rito?
Vê que o
céu, por escárnio, a luz nos lança!
Que, à tua
voz, a voz da imensidão
Responde
com imensa gargalhada!
A ideia
fechou a porta à esp’rança
Quando lhe
foi pedir gasalho e pão...
Deixou-a
cara a cara com o Nada!...
Na obra Do
país da luz, vol. 2, publicada pela FEB, capítulo IX, psicografada pelo
médium português Fernando de Lacerda, entre poemas que afirmam a existência de
Deus, para o espírito Antero, antes, tal realidade fora apenas mera esperança e
pura dúvida; agora, esse espírito volta ao mundo físico para alertá-lo sobre as
consequências dolorosas do suicídio, como o que ele praticou. São nove páginas
de um testemunho eloquente, que não vou reproduzir aqui, por falta de espaço.
Por trás do suicídio, além da própria
tendência do espírito, há outro espírito obsessor, que se aproveita da fraqueza
daquele para empurrá-lo na direção do abismo, do qual somente sairá às custas
de muito sofrimento e desespero inaudito. Antero, então, concita aos
desiludidos da vida fortificarem sua vontade e alegria de viver. Em sua longa
mensagem esclarecedora sobre esse ato extremo, ele diz: “Ah! que se soubesse
que preço pagamos a libertação pelo suicídio, ninguém se suicidaria. Os maiores
martírios na Terra são doces consolações em comparação com os mais suaves
sofrimentos de um suicida!”
No volume 3 da obra citada acima, Antero de
Quental envia-nos, pelo médium Fernando de Lacerda, um encadeamento de três
sonetos sobre a morte e outros dois sobre Deus. No último volume, que, como os
demais, traz diversos poemas e mensagens de escritores finados, de Portugal e da
França, encontramos outros seis poemas, de Antero, todos sobre a confirmação da
imortalidade da alma e da realidade de Deus. O poeta diz-nos o seguinte, no
poema do cap. III do volume 4, intitulado
LUZ
A desejar mais
luz passei a vida!
Toda era
pouca ao meu olhar sequioso!
Achava em
tudo o denso véu nubloso
Que a vida
me trazia escurecida!
E a minha
alma volvi, entristecida,
Para o
negro caminho doloroso
Em procura
da Morte e do Repouso,
Por não
achar a Luz apetecida!
Eu esperei
que a luz encontraria
Aí no mundo
e o mundo ma negava
Como prenda
que não podia dar.
Mas ao
buscar a treva eterna e fria
Que no
escuro da Morte me encantava,
Em vez da
treva, a luz vim encontrar.
Depois, no Brasil, o espírito Antero de
Quental aproximou-se de outros dois médiuns distintos, Waldo Vieira e Chico
Xavier. Aqui, “mandou ver” noutros sonetos sobre a sua confirmação da
existência de Deus e de que a morte não existe, pois vivemos em dois planos
existenciais...
Então, o ateu convicto dirá: “E daí? Se Deus
existe, também confirmarei essa verdade após a morte, desde que eu também
sobreviva à extinção do corpo, que será dado aos vermes”.
Porém, eu lhe perguntarei: “Mas você não acha
que essa certeza nos auxilia a viver melhor?”
Ao que ele responderá: “O que me interessa,
agora, é viver com alegria, enquanto no corpo, sem abusos de qualquer espécie,
e não lesar ninguém, pois me sinto bem em fazer o melhor em prol de um mundo
mais justo”.
E eu lhe direi que Deus está com ele, mais do
que com muitos dos que dizem estar com Deus, pois o bom ateu, mesmo “afastado
de Deus”, sabe o que fazer para ser
feliz.
Graças a Deus!
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