Confortadora visita
Camilo Rodrigues
Chaves (Espírito)
Irmãos, o
condiscípulo temporariamente afastado da escola vem visitar-vos e agradecer as
vibrações encorajadoras e amigas.
A morte foi para mim
benigna e rápida, no entanto a desencarnação mental, propriamente considerada,
continua para meu espírito, porque o homem não se desvencilha, de chofre, dos
hábitos consuetudinários que lhe marcam a vida. Os deveres, as afeições, os
projetos formados para o futuro constituem laços ao pensamento.
Ainda assim, tenho
comigo a bênção da fé, presidindo-me a gradativa liberação.
Sinto-me, por
enquanto, na posição do convalescente inseguro, esperando recuperar-se; contudo
já sei o bastante para afirmar-vos que, neste «outro lado» da vida, a
sobrevivência é tal qual pressentimos na Terra, mas nem todas as situações se
desdobram, aqui, segundo imaginamos.
A experiência
continua sem saltos, o homem se prolonga sem alterar-se de improviso, a matéria
rarefaz-se e, de algum modo, se modifica, sustentando, porém, as
características que lhe são próprias, e o túmulo é apenas transposição de plano
em que a nossa consciência encontra a si mesma, sem qualquer fantasia.
Compreendo assim,
agora, com mais clareza, a função do Espiritismo como instituto mundial de
educação renovadora das almas, junto ao qual precisamos empenhar interesse e
energia.
Não vale tomar a
Doutrina a serviço nosso, quando é nossa obrigação viver a serviço dela.
Escravizá-la às vantagens particulares, nos caprichos e paixões da luta
terrestre, é acrescer compromissos e débitos, adiando a nossa própria
emancipação.
Sem a cápsula
física, nossa penetração na verdade é mais íntima e, a rigor, mais verdadeira. Daí
o motivo de nos doerem, fundo, as faltas de omissão, porque todos trazemos para
cá a preocupação de não haver feito pelo bem tudo aquilo que poderíamos ter realizado
no transcurso de nossa permanência no corpo.
Não nos iludamos.
Exercer a caridade vulgar, alimentando os famintos e agasalhando os nus, é
simples dever nosso, em nossas novas noções de solidariedade e justiça. E não
nos esqueçamos de que a caridade real será sempre iluminar o espírito humano
para que o espírito humano se conheça e ajude a si próprio.
Oxalá possais ver
mais longe que nós, os companheiros que vos precederam na grande viagem,
atendendo ao serviço primordial que nos desafia!
Sem a assimilação
dos nossos postulados, de maneira intensiva, utilizando consciência e coração,
raciocínio e sentimento, falecer-nos-á o discernimento; sem discernimento
fugiremos à responsabilidade; sem responsabilidade não teremos elevação moral
e, sem elevação moral, o fenômeno espírita, não obstante a sua legitimidade,
será estagnação no primitivismo.
Procuremos Jesus,
afeiçoando-nos a ele, para que os nossos irmãos de senda evolutiva e de
atividade regeneradora o encontrem conosco.
Esta, meus amigos,
por agora, é a nossa tarefa maior.
Do cap. 57 do livro Instruções Psicofônicas, obra mediúnica
de autoria de Chico Xavier e Espíritos diversos. Dr. Camilo Rodrigues Chaves,
desencarnado em Belo Horizonte em 3/02/1955, exercia quando desencarnou o cargo
de presidente da União Espírita Mineira.
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