Anseio de amor
Maria Dolores
Quando me vi, depois
da morte,
Em sublime
transporte,
E reclamei contra a
fogueira
Que me havia
calcinado a vida inteira
Pela sede de amor...
Quando aleguei que
fora, em toda estrada,
Folha ao vento,
Andorinha esmagada
Sob o trator do
sofrimento...
Quando exaltei a
minha dor,
Mágoa de quem amara
sempre em vão,
Farta de
incompreensão...
Alguém chegou junto
de mim,
E disse assim:
— Maria Dolores,
Você que vem do
mundo
E se diz
Tão cansada e
infeliz,
Que notícias me dá
do vale fundo
De provação,
Onde a criatura de
tanto padecer
Não consegue saber
Se sofre ou não?
Você que diz trazer
o seio morto,
Que me pode falar
Dos meninos sem pão
e sem conforto,
Das mulheres sem
lar,
Dos enfermos
sozinhos,
Que a febre e a fome
esmagam nos caminhos,
Sem sequer um lençol
ou a bênção de uma prece,
Dando graças a Deus,
quando a morte aparece?!
Você, Maria Dolores,
Que afirma haver
amado tanto
E que deve ter visto
O sacrifício e o
pranto
De quem clama por
Cristo,
Suplicando o carinho
que não tem,
Que me pode contar
daquelas outras dores,
Daquelas outras
aflições
Dos que choram
trancados em manicômios e prisões,
Buscando amor,
pedindo amor,
Exaustos de tristeza
e de amargura,
Como feras na grade,
Morrendo de secura,
De solidão, de
angústia e de saudade?!
Bem-querer!...
Bem-querer!...
Ai de mim, que nada
pude responder!
Que tortura, meu
Deus, a verdade, no Além!...
Calei-me,
envergonhada...
Eu apenas quisera
ser amada,
Não amara a
ninguém...
Do livro Antologia da Espiritualidade, de Maria
Dolores, psicografado pelo médium Francisco Cândido Xavier.
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