quinta-feira, 15 de setembro de 2016

Pérolas literárias (168)



Anseio de amor

Maria Dolores

Quando me vi, depois da morte,
Em sublime transporte,
E reclamei contra a fogueira
Que me havia calcinado a vida inteira
Pela sede de amor...
Quando aleguei que fora, em toda estrada,
Folha ao vento,
Andorinha esmagada
Sob o trator do sofrimento...
Quando exaltei a minha dor,
Mágoa de quem amara sempre em vão,
Farta de incompreensão...
Alguém chegou junto de mim,
E disse assim:
— Maria Dolores,
Você que vem do mundo
E se diz
Tão cansada e infeliz,
Que notícias me dá do vale fundo
De provação,
Onde a criatura de tanto padecer
Não consegue saber
Se sofre ou não?
Você que diz trazer o seio morto,
Que me pode falar
Dos meninos sem pão e sem conforto,
Das mulheres sem lar,
Dos enfermos sozinhos,
Que a febre e a fome esmagam nos caminhos,
Sem sequer um lençol ou a bênção de uma prece,
Dando graças a Deus, quando a morte aparece?!
Você, Maria Dolores,
Que afirma haver amado tanto
E que deve ter visto
O sacrifício e o pranto
De quem clama por Cristo,
Suplicando o carinho que não tem,
Que me pode contar daquelas outras dores,
Daquelas outras aflições
Dos que choram trancados em manicômios e prisões,
Buscando amor, pedindo amor,
Exaustos de tristeza e de amargura,
Como feras na grade,
Morrendo de secura,
De solidão, de angústia e de saudade?!
Bem-querer!... Bem-querer!...
Ai de mim, que nada pude responder!
Que tortura, meu Deus, a verdade, no Além!...
Calei-me, envergonhada...
Eu apenas quisera ser amada,
Não amara a ninguém...


Do livro Antologia da Espiritualidade, de Maria Dolores, psicografado pelo médium Francisco Cândido Xavier. 



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