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sábado, 5 de novembro de 2016

Contos e crônicas



No dia de Finados, trago-vos poemas...

JORGE LEITE DE OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
De Brasília-DF

Amigo leitor, Manoel Bandeira afirmou sobre mim que “Machado poeta foi vítima do Machado prosador”(1) e, com o rigor dos poetas consagrados, somente elencou uma dúzia de poemas, nas Ocidentais, “que têm a mesma excelente qualidade que têm os seus melhores contos e romances”. Senti-me por demais honrado com a opinião desse grande poeta pernambucano, pois não esperava mais que cinco leitores para Memórias Póstumas de Brás Cubas e eis que doze, nem mais, nem menos... doze poemas meus foram exaltados por ele, o que me faz deduzir que, ao menos, uma dúzia de leitores consagrou minha poesia. Aceito.
Um poeta de meu tempo pouco reconhecido à época, mas que Roger Bastide, crítico francês do século XX, considerou que era uma das três maiores penas do soneto simbolista mundial, junto com Mallarmé e Stefan George, é o Cisne Negro Cruz e Sousa.
Sinta a sinfonia de seus versos, embriague-se com o ritmo de suas rimas e emocione-se com a mensagem sublime de suas estrofes, amiga leitora, em mais de uma grosa de sonetos, como este, intitulado Piedade:

O coração de todo ser humano
Foi concebido para ter piedade.
Para olhar e sentir com caridade,
Ficar mais doce o eterno desengano.

Para da vida, em cada rude oceano
Arrojar, através da imensidade,
Tábuas de salvação, de suavidade,
De consolo e de afeto soberano.

Sim, que não ter um coração profundo
É os olhos fechar à dor do mundo,
Ficar inútil nos amargos trilhos.

É como se meu ser compadecido
Não tivesse um soluço comovido
Para sentir e para amar meus filhos(2).

Segundo Um Espírito Protetor, em mensagem d’O Evangelho segundo o Espiritismo (cap. 17, it. 10),
Um sentimento de piedade deve sempre animar o coração dos que se reúnem sob as vistas do Senhor e imploram a assistência dos bons Espíritos. Purificai, pois, os vossos corações; não consintais que neles demore qualquer pensamento mundano ou fútil. Elevai o vosso espírito àqueles por quem chamais, a fim de que, encontrando em vós as necessárias disposições, possam lançar em profusão a semente que é preciso germine em vossas almas e dê frutos de caridade e justiça [...].
Por fim, esclarece-nos esse Espírito Protetor que
A perfeição está toda, como disse o Cristo, na prática da caridade absoluta; os deveres da caridade alcançam todas as posições sociais, desde o menor até o maior. Nenhuma caridade teria a praticar o homem que vivesse insulado. Unicamente no contato com os seus semelhantes, nas lutas mais árduas é que ele encontra ensejo de praticá-la. Aquele, pois, que se isola priva-se voluntariamente do mais poderoso meio de aperfeiçoar-se; não tendo de pensar senão em si, sua vida é a de um egoísta [...].
Não imagineis, portanto, que, para viverdes em comunicação constante conosco, para viverdes sob as vistas do Senhor, seja preciso vos cilicieis e cubrais de cinzas. Não, não, ainda uma vez vos dizemos. Ditosos sede, segundo as necessidades da Humanidade; mas que jamais na vossa felicidade entre um pensamento ou um ato que o possa ofender, ou fazer se vele o semblante dos que vos amam e dirigem. Deus é amor, e aqueles que amam santamente Ele os abençoa. – Um Espírito protetor (Bordeaux, 1863).
Pois bem, amigos leitores de meus doze poemas, o brilhante Cruz e Sousa(3), agora deste Plano invisível para vós, salvo se sois médium vidente, conclui com a receita final, à sua miríade de leitores com este poema psicografado por Chico Xavier, intitulado Alma do Amor:

Alma do Amor, cansada, erma e fremente,
Arrastando o grilhão das próprias dores,
Sustenta a luz da fé por onde fores,
Torturada, ferida, descontente...

Nebulosas, estrelas, mundos, flores
Rasgam, vibrando, excelso trilho à frente...
Tudo sonha, buscando o lume ardente
Do eterno amor de todos os amores!

Alma, de pés sangrando senda afora,
Humilha-te, padece, chora, chora,
Mas bendize o teu santo cativeiro...

Não esperes ninguém para ajudar-te,
Ama apenas, que Deus, em toda a parte,
É o sol do amor para o Universo inteiro.

Por fim, amigos, neste dia em que se comemora Finados, volto para assegurar-vos, como o fez meu personagem Brás Cubas, que não existe morte para quem ama. Amai e sede feliz. Mas amai como o Cristo amou, sonhai como Jesus sonhou, pensai como o Cristo pensou e vivei como Jesus viveu. Somente assim vencereis a morte e sereis felizes onde quer que estejais.
Feliz dia dos vivos!


1 BANDEIRA, M. O poeta. In: ASSIS, M. Machado de Assis: obra completa, v. I, Rio de Janeiro: Aguilar, 1973.
2 SOUSA, C. Poesias completas de Cruz e Sousa. Rio de Janeiro: Tecnoprint Ltda. Edições de Ouro, s. d.
3 SOUSA, C. Espírito. In: XAVIER, F. C.; VIEIRA, W. Antologia dos Imortais. 4. ed.  Rio de Janeiro: FEB, 2002, parte III.








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