No dia de Finados, trago-vos poemas...
JORGE LEITE DE OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
De Brasília-DF
Amigo leitor, Manoel
Bandeira afirmou sobre mim que “Machado poeta foi vítima do Machado prosador”(1)
e, com o rigor dos poetas consagrados, somente elencou uma dúzia de
poemas, nas Ocidentais, “que têm a
mesma excelente qualidade que têm os seus melhores contos e romances”. Senti-me
por demais honrado com a opinião desse grande poeta pernambucano, pois não
esperava mais que cinco leitores para Memórias
Póstumas de Brás Cubas e eis que doze, nem mais, nem menos... doze poemas
meus foram exaltados por ele, o que me faz deduzir que, ao menos, uma dúzia de
leitores consagrou minha poesia. Aceito.
Um poeta de meu
tempo pouco reconhecido à época, mas que Roger Bastide, crítico francês do
século XX, considerou que era uma das três maiores penas do soneto simbolista
mundial, junto com Mallarmé e Stefan George, é o Cisne Negro Cruz e Sousa.
Sinta a sinfonia de
seus versos, embriague-se com o ritmo de suas rimas e emocione-se com a
mensagem sublime de suas estrofes, amiga leitora, em mais de uma grosa de
sonetos, como este, intitulado Piedade:
O
coração de todo ser humano
Foi
concebido para ter piedade.
Para
olhar e sentir com caridade,
Ficar
mais doce o eterno desengano.
Para
da vida, em cada rude oceano
Arrojar,
através da imensidade,
Tábuas
de salvação, de suavidade,
De
consolo e de afeto soberano.
Sim,
que não ter um coração profundo
É
os olhos fechar à dor do mundo,
Ficar
inútil nos amargos trilhos.
É
como se meu ser compadecido
Não
tivesse um soluço comovido
Para
sentir e para amar meus filhos(2).
Segundo Um Espírito Protetor, em mensagem d’O Evangelho segundo o Espiritismo (cap.
17, it. 10),
Um sentimento de
piedade deve sempre animar o coração dos que se reúnem sob as vistas do Senhor
e imploram a assistência dos bons Espíritos. Purificai, pois, os vossos
corações; não consintais que neles demore qualquer pensamento mundano ou fútil.
Elevai o vosso espírito àqueles por quem chamais, a fim de que, encontrando em
vós as necessárias disposições, possam lançar em profusão a semente que é
preciso germine em vossas almas e dê frutos de caridade e justiça [...].
Por fim,
esclarece-nos esse Espírito Protetor que
A perfeição está
toda, como disse o Cristo, na prática da caridade absoluta; os deveres da
caridade alcançam todas as posições sociais, desde o menor até o maior. Nenhuma
caridade teria a praticar o homem que vivesse insulado. Unicamente no contato
com os seus semelhantes, nas lutas mais árduas é que ele encontra ensejo de
praticá-la. Aquele, pois, que se isola priva-se voluntariamente do mais
poderoso meio de aperfeiçoar-se; não tendo de pensar senão em si, sua vida é a
de um egoísta [...].
Não imagineis,
portanto, que, para viverdes em comunicação constante conosco, para viverdes
sob as vistas do Senhor, seja preciso vos cilicieis e cubrais de cinzas. Não,
não, ainda uma vez vos dizemos. Ditosos sede, segundo as necessidades da
Humanidade; mas que jamais na vossa felicidade entre um pensamento ou um ato
que o possa ofender, ou fazer se vele o semblante dos que vos amam e dirigem.
Deus é amor, e aqueles que amam santamente Ele os abençoa. – Um Espírito protetor (Bordeaux, 1863).
Pois bem, amigos
leitores de meus doze poemas, o brilhante Cruz e Sousa(3), agora
deste Plano invisível para vós, salvo se sois médium vidente, conclui com a
receita final, à sua miríade de leitores com este poema psicografado por Chico
Xavier, intitulado Alma do Amor:
Alma
do Amor, cansada, erma e fremente,
Arrastando
o grilhão das próprias dores,
Sustenta
a luz da fé por onde fores,
Torturada,
ferida, descontente...
Nebulosas,
estrelas, mundos, flores
Rasgam,
vibrando, excelso trilho à frente...
Tudo
sonha, buscando o lume ardente
Do
eterno amor de todos os amores!
Alma,
de pés sangrando senda afora,
Humilha-te,
padece, chora, chora,
Mas
bendize o teu santo cativeiro...
Não
esperes ninguém para ajudar-te,
Ama
apenas, que Deus, em toda a parte,
É
o sol do amor para o Universo inteiro.
Por fim, amigos,
neste dia em que se comemora Finados, volto para assegurar-vos, como o fez meu
personagem Brás Cubas, que não existe morte para quem ama. Amai e sede feliz.
Mas amai como o Cristo amou, sonhai como Jesus sonhou, pensai como o Cristo
pensou e vivei como Jesus viveu. Somente assim vencereis a morte e sereis
felizes onde quer que estejais.
Feliz dia dos vivos!
1 BANDEIRA, M. O poeta. In: ASSIS, M. Machado de Assis: obra completa, v. I,
Rio de Janeiro: Aguilar, 1973.
2 SOUSA, C. Poesias completas de Cruz e Sousa. Rio
de Janeiro: Tecnoprint Ltda. Edições de Ouro, s. d.
3
SOUSA, C. Espírito. In: XAVIER, F. C.; VIEIRA, W. Antologia dos Imortais. 4. ed.
Rio de Janeiro: FEB, 2002, parte III.
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