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sábado, 22 de abril de 2017

Contos e crônicas


A adesão espírita de Machado

Mímese da crônica de 5 out. 1885 (Balas de estalo)

JORGE LEITE DE OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
De Brasília-DF

Bem adivinham meus amigos onde estive nesta terça-feira. Fui assistir à excelente palestra de Haroldo Dutra Dias em comemoração do nascimento de Allan Kardec, ocorrido em 3 de outubro de 1804.
O orador esclareceu-nos sobre algo que eu ainda não sabia: Hippolyte Léon Denizard Rivail adotou o pseudônimo Allan Kardec, que foi o seu nome numa de suas encarnações passadas, como divisória entre sua missão de pedagogo renomado, na França, e a de Codificador da Nova Revelação ou Consolador Prometido por Jesus, que é o Espiritismo cristão.
Confesso minha verdade. Desde que assisti à palestra do Haroldo, distinto juiz e tradutor da versão grega do Novo Testamento, além de profundo conhecedor e divulgador da obra de Kardec, não mais tive qualquer dúvida: estava diante da Verdade, que viria dissipar todas as nossas dúvidas e permanecer para sempre conosco, como cumprimento da promessa de Jesus Cristo, anotada por João.
Eis a promessa de Jesus, registrada no Evangelho desse seu bem-amado apóstolo nos versículos 15 e 16 do capítulo 14: “Se me amardes, guardareis os meus mandamentos. E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, para que fique convosco para sempre”.
Estava à porta do Espiritismo; a conferência de sexta-feira abriu-me a Sala da Verdade. Ante o que já havia lido e o que agora via e ouvia, não tive mais qualquer dúvida: converti-me, de toda a minha alma...
Terminada a exposição, entrei na fila do passe. Os fluidos recebidos por mim abriram ainda mais minha mente e, “de repente, não mais que de repente”, como diria o poetinha Vinícius de Moraes, percebi que
“Eu não tinha este rosto de hoje, /assim calmo, assim triste, assim magro, /nem estes olhos tão vazios, /nem o lábio amargo”. Mas essa é a primeira estrofe do poema de Cecília Meireles, intitulado Retrato, e, após identificar-me com essa descrição, percebi que eu já não era mais Machado de Assis e, sim, o conhecido escritor inglês Laurence Sterne, de quem, agora, copiava o modo galhofeiro de ironizar...
Que eu me lembre, já tive 1857 encarnações, a penúltima foi a desse inglês...
Sim, porque, como Sterne, estive “[...] firmemente persuadido de que cada vez que um homem sorri — mas, mais ainda, quando ele ri —  isso acrescenta algo a esse Fragmento de Vida”. [1] 
Sorrindo, olhei para um espelho, a ver se me via, e nada vi; estava totalmente espiritual. Foi quando o Espírito Zêus Wantuil surgiu e recomendou-me, livro em mãos: “Lê a obra intitulada As mesas girantes e o espiritismo, publicada pela FEB.” 
Eu estava diante do próprio autor desse livro exemplar, ou desse exemplar de livro, o que dá no mesmo.
Despertei do sonambulismo com o passista alertando-me: “Não digas a ninguém o que viste e ouviste até que tuas convicções se tornem inabaláveis”.
Fui para casa, abri O Evangelho segundo o Espiritismo e li, juro por Allan Kardec que tudo o que acabo de narrar é verdade; li que “Fé inabalável só o é a que pode encarar a razão em todas as épocas da humanidade”. Não tive dúvida, fui à livraria da FEB, na Av. L2 Norte, em Brasília, e comprei o livro.
Não se esqueça, leitor, de que agora sou Espírito e, como tal, tempo e espaço não mais são barreiras para mim... 
Amigo leitor, eu vi, eu ouvi, eu senti. Acredite em mim... por Allan Kardec... pelo Espírito da Verdade. Pelo amor de Deus! Outra coisa: não despreze minha obra só porque me tornei espírita, mas ao contrário, leia a extraordinária literatura que, futuramente, os médiuns Zilda Gama, Chico Xavier, Yvonne Pereira e Divaldo Franco psicografarão e... “Não extingais o espírito. Não desprezeis as profecias. Examinai tudo, retende o bem” (Paulo, 2 Tessalonicenses, 1;19 a 21).


[1] REGO, Enylton de Sá. O calundu e a panaceia: Machado de Assis, a sátira menipeia e a tradição luciânica. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1989, p. 81.







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Um comentário:

  1. É isso aí, amigo, vamos divulgar a extraordinária literatura espírita, como opção de leitura de alto nível, ao contrário de muito lixo que "anda" por aí

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