Um
príncipe chamado João
CÍNTHIA CORTEGOSO
cinthiacortegoso@gmail.com
De Londrina-PR
O menino João não morava em um
castelo, nem se vestia com roupas finas, muito menos tinha empregados à sua
volta. Ele não falava idiomas diferentes do seu e nem adquirira cultura. Para
comer, tinha apenas o necessário para sobreviver. Brinquedos, ele mesmo
construía com pedacinhos de pau, tampas de garrafas plásticas e outros
intermináveis badulaques que encontrava. Adorava estudar, mas nem sempre podia
ir à escola, era longe demais e quando não podia então ficava em casa estudando
por conta.
Amigos, João tinha demais; as pessoas
se aproximavam e desejam essa amizade sem nenhum interesse, pois o menino era a
simplicidade e pobreza em grau elevado, também no mesmo grau era de educação,
atenção, amor, fraternidade, bondade, afeição, caridade. Era encantado pelos
animais, plantas e pelos pequeninos insetos. Atraía muitos desses para bem
pertinho sem querer, assim ele pensava.
O local onde morava era muito simples
e muitas outras pessoas ali moravam também. Havia as mesmas dificuldades e
sofrimentos paras seus moradores e os seus olhos eram de tristeza e
desesperança, no entanto, os olhos de João reluziam esperança e amor. Eram
olhinhos de luz.
O menino, certo dia, teve bastante
paciência e carinho com um cavalinho-de-deus que se enroscou numa planta com
muitos galhinhos finos. Se fosse outro menino, seria mais provável deixar o
pequenino inseto, preso, lá mesmo; entretanto, com calma e amor e falando
muitas frases bondosas, João desvencilhou o pequenino verde e o devolveu à
liberdade.
Outro dia ainda, observando uma
menina mais nova que ele, em frente a uma mercearia do bairro simples, e já
conhecendo o motivo por aquela visita ‒ enorme vontade, há tempo, de comer um
doce ‒, João não teve dúvidas, foi até o dono do local e, com toda educação e delicadeza,
pediu-lhe que lhe desse uma guloseima, pois não podia pagá-la, para, assim,
presentear a pequena menina que estava doente de tanta vontade de comê-la. E
realmente ganhou o doce e presenteou a pequena.
Os gatinhos, mesmo ariscos por
natureza, viam de longe o menino João e vinham a seu encontro; os cachorrinhos
eram seus grandes companheiros; os pássaros dançavam a revoada feliz; as outras
crianças pobres corriam para perto dele.
As pessoas dali sempre diziam que o
menino tinha mel, tamanha era sua doçura e não menos a sua bondade.
E tanto sofria com as maldades
observadas de toda espécie, das insignificantes às nocivas demais. Ele não
compreendia como o ser humano conseguia ser ainda assim, mas, ao mesmo tempo,
compreendia, de alguma forma, que cada um se encontra num estágio com suas
proezas, defeitos, dificuldades, tristezas, dores e conquistas. Cada um com sua
responsabilidade. No entanto, no coração de João as benéficas qualidades
ocupavam quase todo o espaço, seu coraçãozinho era muito bondoso.
E numa noite de frio durante a
madrugada, como a única forma de aquecer e iluminar as casas era por meio de
lampiões acesos e todas elas possuíam um, foi numa das casas vizinhas da de
João que, por um descuido, ao deixar o lampião muito na beirada da mesa, ele
caiu e rapidamente o fogo se alastrou sem ter chance de abafá-lo. A estação
seca de inverno contribuiu para o alastramento do fogo e como as casas eram
construídas de madeira e outros materiais inflamáveis e muito próximas umas das
outras, em pouquíssimo tempo, uma enorme chama criou vida e ganhou altura.
O desespero tomou conta do simples
lugar; quem conseguiu escapar a tempo tentava buscar ajuda aos menos felizes
que, lamentavelmente, não tiveram a mesma sorte. Mas o fogo ganhava força e
suas chamas imperavam naquele triste momento. Choro, desespero, dor embalavam o
local. João tentou, com outros, várias maneiras de salvar os desafortunados, no
entanto, muitos deles ficaram presos em seus casebres.
A fumaça cinza e entristecida tomava
o ar; por ser pobre e muito distante o bairro popular, o socorro demorou a
chegar e menos pôde ser feito pelos sofridos moradores. Após o desastre da
chama e a ajuda dos bombeiros, felizmente, o incêndio foi apagado e também foi
realizado o possível para auxiliar os necessitados.
O desconsolo abraçou o lugar. Todos
perderam suas casas e o pouco que tinham. O que seria deles? Era o comum
pensamento. Os sobreviventes estavam totalmente enfraquecidos pelo esforço,
pelo susto, pelo desespero. Uns andavam de um lado para outro sem noção do que
fazerem; não havia quase nenhum lugar de pé; um ou outro casebre insistia em
continuar, as cinzas de tudo estavam no chão. E muitas pessoas haviam morrido;
João perdera o avô e a avó, seus grandes companheiros, aliás, sua única família.
O menino olhava para tanta destruição
e já doía muito a dor da perda dos avós. Mas João tinha força e muita fé,
acreditava que para tudo havia uma causa e sua consequência e se já havia tanta
desesperança e tristeza não seria de nenhuma ajuda ele também se desesperar e
ser mais um a precisar de cuidados.
Na verdade, João foi a luz naquela
escuridão de lamento, foi a esperança para aqueles corações sem vida e
desanimados, foi os braços a embalar as crianças chorosas, foi as mãos com água
e comida a alimentarem os restantes moradores, foi o consolo aos animaizinhos
machucados e carentes, foi a paz e o amor, foi as palavras doces de uma oração
a um desvalido em sua última hora, foi a coragem dos socorristas, foi a
determinação no momento da fraqueza em continuar, foi o bálsamo no olhar e a
doçura ao falar, João foi até cada sobrevivente e abraçou cada irmão seu. E o
céu, em silêncio, assistia a tudo.
O menino era uma alma bondosa que só
conhecia o desejo de amparar. João, de fato, era um anjo em forma de menino,
animado com a luz de Jesus, que em mais uma existência veio para amar e ensinar
com bondade; as características, inclinações e conquistas serão presentes em
todo tempo e lugar.
Com pelo menos um anjo assim, Deus
abençoa os grupos de seus filhos. São aquelas pessoas que, com benevolência no
olhar, fortalecem outros olhares, curam e enchem de vontade os outros corações
para quererem viver e melhorar-se.
E a mão suave de João consolava mais
uma criança que acabara de ser resgatada com vida de um dos casebres
acinzentados pelas chamas.
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