Uma tarde com bolinhos de
chuva
CÍNTHIA CORTEGOSO
cinthiacortegoso@gmail.com
De Londrina-PR
A chuva, àquela tarde, foi mais do que a água abundante e cristalina,
foi especialmente uma saudade carinhosa para o meu coração. Até o momento, era
um dia comum com os afazeres. Depois do almoço, o tempo mudou e a chuva logo
começou. Terminei o que precisava em casa ‒ aquele dia estava de folga do
trabalho ‒ e fui para a varanda lateral observar a aguinha caindo do céu e
animando as plantas; até alguns passarinhos brincavam de voar na chuva.
Sentei-me na cadeira branca, na varanda, e fiquei olhando o
comportamento da natureza, sempre belo e sábio. Ao lado, há uma mesinha redonda
e também branca na qual deixo o romance que estou lendo e normalmente uma
xícara com chá de camomila. Agora só estava o livro. Fiquei mais um pouco
olhando tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo. A chuva tornou-se mais calma, e
continuava.
De repente, parece que senti o cheiro de bolinho de chuva. Tentei
esquecer. Quem estaria fritando esses bolinhos? Ninguém. Mas o cheiro persistiu
e comecei a ficar com muita vontade, vontade de criança que não esquece. Não me
restou outra saída, fui fazer. Minha avó materna havia me ensinado. E como
amava os seus bolinhos. Lembro-me de quando eu era criança e passava parte das
férias na casa de minha avó que fazia muitos bolinhos de chuva, guardava numa
lata grande e tínhamos aquela delícia por muitos dias. Era para o café da manhã
e o da tarde, mas como “vó é vó” eu podia comer quantos quisesse também durante
o dia.
Peguei os poucos ingredientes e a tigela e coloquei-os na pia. Comecei
a arte da culinária do delicioso bolinho. E lembrei-me de que minha avó falava:
“A massa deve ficar mais consistente do que a de bolo”. E foi assim que ficou.
Esquentei bem o óleo na panela e pegava a massa com colher e a colocava no óleo
quente. Logo terminei. Esquentei água para o chá.
Sentei-me. Na mesa da cozinha estavam o prato com os bolinhos e a
xícara de chá de camomila. E, de fato, os bolinhos estavam deliciosos. Enquanto
fazia e quando comia, meu pensamento reavivou inúmeras lembranças de minha tão
querida avó. Uma saudade tranquila e cheia de ternura tomou meu coração. E
falei em voz alta: “Ah, vó, que saudade!”.
Peguei mais um bolinho e neste momento senti um carinho no meu dedo
mindinho. A surpresa foi grande com um frio no estômago. Meus olhos se
encheram. Lembrei-me tão ternamente destas palavras: “Minha querida, seja
feliz!”. Eram as palavras que minha avó sempre me dizia e acarinhava com leveza
o dedo mindinho de minha mão direita. Senti com calma e gratidão esse momento.
Depois de um tempinho, secando o rosto, pensei: “Verdade, o amor que
existe não se perde, mas fica no sentimento sem diferença de dimensão”.
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Cínthia, parabéns pelo texto. Aproveito para dizer a você e a quem nos ler que, infelizmente para mim, não conheci meus avós e minha mãe desencarnou quando eu tinha 5 anos de idade. Mas adoro o tal bolinho de chuva que nos dias chuvosos sempre foi uma atração aqui em casa, não na casa do meu pai, onde nem lembro se um dia comemos tal iguaria.
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