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domingo, 17 de setembro de 2017

Reflexões à luz do Espiritismo



Emmanuel e Nóbrega, o fundador da maior cidade do Brasil

Muitos leitores se assustaram quando leram, algum tempo atrás, numa conhecida rede social, um comentário feito por um leitor dito espírita a respeito de Emmanuel, o mentor espiritual da obra mediúnica de Chico Xavier. No comentário, o leitor repetiu algo que os detratores do Espiritismo gostam de dizer, ou seja, que Emmanuel não passa de um “padre jesuíta, membro de uma falange inimiga de Kardec, que se fantasiou de Entidade em nosso meio para acabar com ele”.
O susto dos leitores justifica-se plenamente, em face da importância que teve Emmanuel na obra do maior médium brasileiro, que é querido e respeitado por espíritas e não espíritas, e até mesmo pelos adversários do Espiritismo.
No cap. 23 do livro Diálogo dos Vivos, obra publicada em 1974, de autoria de Francisco Cândido Xavier, J. Herculano Pires e Espíritos diversos, Chico Xavier assim escreveu:

“Lembro-me de que, num dos primeiros contatos comigo, Emmanuel me preveniu de que pretendia trabalhar ao meu lado por longo tempo, mas que eu deveria, acima de tudo, procurar os ensinamentos de Jesus e as lições de Allan Kardec. E disse mais. Que se um dia ele, Emmanuel, me aconselhasse algo que não estivesse de acordo com as palavras de Jesus e Kardec, eu devia permanecer com Jesus e Kardec e procurar esquecê-lo.”

Emmanuel foi, como os espíritas não ignoram, na época em que Jesus esteve entre nós, o senador Publius Lentulus e, mais recentemente, no início da colonização do Brasil, o padre Manuel da Nóbrega – o sacerdote  jesuíta mencionado pelos críticos –, ao qual Cneius Lucius dedicou a mensagem intitulada “Emmanuel e Nóbrega”, publicada no livro Diálogo dos Vivos, no mesmo capítulo 23, acima mencionado.
Eis a mensagem:

“Amparado pelo Apóstolo dos Gentios, conseguiu Publius Lentulus transitar nas avenidas escuras da carne, em existências várias, até encontrar uma posição em que pudesse servir ao Divino Mestre com o valor e o heroísmo daquela que lhe fora companheira no início da Era Cristã. E assim temos em Manuel da Nóbrega o homem de raciocínio elevado, entregue a si mesmo em plena selva, onde tudo estava por fazer.
Noutro tempo, os livros prontos e as tribunas construídas, os direitos de família pré-estabelecidos e o dinheiro fácil, a sociedade constituída e o pedestal do poder para brilhar. Aqui, porém, eram a improvisação necessária e o deserto, as inibições do corpo deficiente que lhe apagavam a voz de tribuno, a insolência do selvagem recordando as feras do circo, à frente do qual devia imolar-se, consumindo as próprias forças para dar-lhe uma vida nova.
Surgiram ainda a devassidão e o crime, a ignorância e a audácia, os perigos mil que o hábil político transformado em missionário deveria vencer, exibindo não mais a toga do poder e as armas de seus guardas pessoais, e sim o sinal da cruz, sem mais ninguém que não fosse a sua pertinácia nos compromissos assumidos. Entretanto, superou os óbices de toda espécie, lutou, sofreu e venceu, esculpindo com os poderes da ideia cristianizada um povo diferente e um novo mundo dentro do mundo.
Nóbrega podia ter vivido isolado no seu tempo. Contudo, desde cedo agregaram-se a ele multidões de amigos, exaustos de mando, de poder e dominação. E a teia dos destinos vai convertendo em trabalho para a coletividade tudo o que era cristalização do eu, em luz quanto era sombra, em liberdade espiritual o que era cárcere físico.
Da rocha surge o diamante, no curso dos milênios. Também a luz divina fluirá de nós um dia, quando a escória estiver abandonada no carvão que servirá de berço a outros diamantes no curso longo e paciente das eras.
O serviço do nosso amigo está longe de acabar. É preciso criar espírito para o gigante – costuma ele dizer. O gigante é a Terra em que hoje nos situamos e o espírito é a luz com que devemos continuar erguendo os padrões de fraternidade mais alta e de mais avançado serviço com Jesus, no Brasil todo.
Prossigamos marchando à frente! Anos e dias correrão. Estejamos certos da brevidade de tudo o que se movimenta sobre a terra, para agirmos com segurança e paciência. Para construir é preciso lutar. E para colher é indispensável haver semeado.”

José Herculano Pires comentou a mensagem acima em um texto publicado na mesma obra, com o título “A conversão do gentio”:

“Dura foi a luta pela conversão do gentio. Tão dura que nunca chegou à conclusão desejada. Nóbrega, Anchieta e seus companheiros de catequese tiveram de enfrentar uma guerra sem tréguas. Nossos índios eram os mais selvagens da América. Sua civilização primitiva não oferecia pontos de contato com a civilização elevada que os jesuítas traziam da Europa. Nóbrega relata, em seu livro Diálogo da Conversão do Gentio, as dificuldades insuperáveis com que se defrontavam os padres catequistas. Esse livro marca o início da nossa literatura, no século XVI, e anuncia de maneira simbólica o prosseguimento da catequese de Nóbrega no futuro, através do livro psicografado.
Paulo exerceu o apostolado dos gentios para o Cristianismo. Nóbrega foi o Apóstolo dos Gentios no Brasil nascente, preparando o terreno para o seu apostolado espírita do futuro. Paulo encarna a transição histórica do Judaísmo para o Cristianismo. E com a sua teoria do corpo espiritual, a que chama de corpo da ressurreição, na I Epístola aos Coríntios, profetiza o advento do Espiritismo. Nóbrega marca a transição do Cristianismo medieval para o Cristianismo Redivivo da III Revelação, sob a égide do Espírito da Verdade.
‘Tudo se encadeia no Universo’, ensina O Livro dos Espíritos. E a relação espiritual e histórica entre Paulo e Nóbrega, revelada pela mensagem de Cneius Lucius, dá-nos o exemplo vivo desse encadeamento no campo religioso. Por isso a cidade de São Paulo, fundada por Nóbrega, tem o nome do apóstolo cristão. As malhas da evolução espiritual, tecidas no tempo, mostram o desenvolvimento do Cristianismo em suas três fases culturais e históricas, sem solução de continuidade.
A mensagem de Cneius Lucius foi recebida por Chico Xavier, em Pedro Leopoldo, a 3 de agosto de 1949. Transcrevemo-la hoje por sua oportunidade, nas comemorações de mais um aniversário da Fundação de São Paulo. (O autor refere-se aqui ao 420.º aniversário da Capital Paulista, a 25 de janeiro.)
Mensagem circunstancial, dada a um pequeno grupo de estudiosos, reduzimo-la aos pontos essenciais que revelam as ligações históricas. As dificuldades insuperáveis da conversão do gentio confirmam-se em nossos dias com a eclosão das formas de sincretismo religioso afro-brasileiro, em que as crenças indígenas e africanas sobrevivem ao nosso redor.
A conversão do gentio prossegue em pleno século XX. As crenças indígenas e africanas misturaram-se às práticas do Cristianismo. A ignorância popular, geralmente secundada pela ignorância-ilustrada, confunde Espiritismo com Umbanda e Candomblé. Publicam-se livros e realizam-se cursos sobre religiões mediúnicas, misturando a Revelação do Espírito da Verdade com danças selvagens, despachos e defumações. Mas Nóbrega prossegue infatigável na catequese evangélica, agora através da psicografia, preparando o triunfo da verdade cristã em benefício de todos.”

Quem lê o livro Testemunhos de Chico Xavier, escrito por Suely Caldas Schubert, nele encontra, escritos pelo próprio Chico, depoimentos importantes sobre o papel que Emmanuel exerceu em sua vida e em sua obra.
No capítulo intitulado “Aula de Emmanuel sobre os Evangelhos”, a autora transcreve parte de entrevista que o médium concedeu a Elias Barbosa quando se comemoravam 40 anos de suas atividades mediúnicas:

“P — Você se reconhece pessoa inteligente, talvez genial como entendem muitos adversários da Doutrina Espírita, sempre interessados em desacreditar o fenômeno mediúnico?
R — Não. Nunca me senti assim. Basta lembrar que fui aluno repetente de quarto ano primário no Grupo Escolar São José, em Pedro Leopoldo, nos anos de 1922 e 1923.
P — Mas, você se reconhece atualmente dispondo de mais facilidade para falar ou escrever?
R — Sim, não posso esquecer que debaixo da disciplina de Emmanuel, que, por misericórdia de Jesus, me dispensa atenções constantes de um professor (não por mim, mas pela obra do Mundo Espiritual), estou numa escola constante, desde 1931, portanto, há trinta e seis anos consecutivos. Algum proveito de tantas bênçãos recebidas devo demonstrar.”

Mais adiante, no capítulo intitulado “Desdobramento”, a autora transcreve outra carta de Chico Xavier, escrita em 14/3/1958, na qual o médium dá o seguinte depoimento:

“Ultimamente, estou frequentando, fora do corpo físico, uma noite por semana, uma Escola do Espaço em que o nosso abnegado Emmanuel é professor de Doutrina Espírita. Confesso que é uma experiência maravilhosa. Estou aprendendo o que nunca pensei em aprender e tenho conservado a lembrança do que vejo, com o auxílio dos Amigos do Alto.”

Vimos até aqui algo sobre Emmanuel-professor, Emmanuel-orientador.
No tocante ao Emmanuel-escritor, é bom que todos saibam que em 2000 a Organizações Candeia organizaram uma interessante pesquisa com vistas a eleger os dez melhores livros espíritas publicados no século 20. Participaram da pesquisa editores, escritores, presidentes de federativas espíritas e dirigentes espíritas em geral. Dos dez livros considerados os melhores do século, sete foram psicografados por Chico Xavier: Parnaso de Além-Túmulo, três livros de André Luiz e três de Emmanuel – Paulo e Estêvão, A Caminho da Luz e Há dois mil anos, como o leitor pode conferir acessando na internet o texto intitulado “Os melhores livros espíritas do século 20”. Eis o link: http://www.oconsolador.com.br/ano4/171/especial2.html
Sobre Emmanuel, lembramos, por fim, a apreciação que dele fazia José Herculano Pires, o autor espírita mais aclamado e respeitado de nosso país, considerado, aliás, segundo entendimento de Chico Xavier, “o metro que melhor mediu Kardec”.  Eis o link: https://www.youtube.com/watch?v=6you07jnkpo




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